Bombas assustam bolsas européias
21 de março de 2003O início da guerra do Iraque gerou nervosismo nos mercados financeiros mundiais. As grandes bolsas da Europa e dos Estados Unidos começaram a quinta-feira (20) operando em baixa, mas recuperam-se com o avanço da ofensiva militar. Os pregões asiáticos não deixaram se abalar pelas bombas e fecharam em alta.
Na Ásia e Austrália (uma das mais estreitas aliadas dos EUA no conflito), os analistas prevêem uma guerra de curta duração. Influenciado pelos dados positivos da Bolsa de Nova Iorque, o Nikkei – índice das ações das 225 maiores empresas listadas na Bolsa de Tóquio – subiu 1,79% para 8.195 pontos. Em Sidney, apesar dos sinais de otimismo, as cotações subiram apenas 0,75%.
As maiores altas foram registradas na Bolsa da Coréia do Sul, onde o índice Kospi subiu 4,9% para 568 pontos. As cotações na bolsa de Hong Kong mantiveram-se estáveis em relação ao dia anterior, fechando em 9.194 pontos (alta de 0,65%).
Nervosismo - Nas bolsas da Europa e dos EUA, o clima não foi tão otimista. A ordem era esperar, depois das altas impulsionadas pelos preparativos da guerra, nos dia anteriores. Apesar do discurso do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova Iorque apresentou uma leve queda incial de 0,6% para 8.217 pontos, e o Nasdaq caiu 0,6% para 1.388 pontos. No final da tarde, os dois índices já estavam se recuperando.
O Dow Jones Euro Stoxx 50, que reúne as maiores empresas da zona do Euro, fechou com baixa de 0,5% em 2.225
pontos. Em Frankfurt, o DAX perdeu 0,8%, fechando em 2.596 pontos. "A notícia do início da guerra foi um choque para nós, mas agora a situação melhora", disse Thilo Müller, do Banco Estadual da Renânia Palatinado.
O FTSE-100, índice das ações das cem maiores empresas listadas na Bolsa de Londres – refletiu o nervosismo das outras capitais européias e as cotações giram em torno dos índices do dia anterior, fechando em 3. 766 pontos. A Bolsa de Paris registrou queda de 1,5%, fechando em 2.795 pontos.
Ouro e petróleo - Já o preço do ouro sofreu uma queda dramática de US$ 4,50 na madrugada, mas à noite só perdia mais US$ 1,40, sendo negociado US$ 335,00 a onça. Com as primeiras bombas sobre Bagdá, o preço do petróleo começou a despencar. O barril (159 litros) da espécie "brent" do Mar do Norte caiu inicialmente 4% para US$ 25,50, atingindo seu nível mais baixo desde dezembro de 2002, mas voltou a subir à tarde, com as notícias de incêncios em poços de petróleo no Iraque, fechando em US$ 27,10 (35 Cent mais caro do que no dia anterior) . No primeiro dia da Guerra do Golfo de 1991, o petróleo - também chamado de "ouro negro" - sofreu uma queda de preço de 35% por barril.
Euro x dólar - O medo de uma longa guerra do Iraque valorizou os títulos públicos europeus. O Bund Future subiu um ponto, de 112 para 113. Após uma alta de dois meses em relação à moeda única européia, o dólar se desvalorizou relação ao euro, cotado em US$ 1,0624 à noite. "Existe uma preocupação de que a guerra possa demorar mais que o previsto", disse um analista em Londres.
A Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEC) suspendeu as suas cotas de extração, a fim de cobrir a falta de petróleo iraquiano no mercado. A OPEC havia estabelecido uma cota de extração de 24,5 milhões de barris por dia, o que não vinha sendo respeitado por todos os países-membros da organização. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o abastecimento mundial de petróleo está assegurado.
As empresas do setor petrolífero alemão aconselharam os consumidores a não estocarem combustível em clima de pânico. "Não há que se temer problemas de abastecimento devido à guerra", disse um representante do setor em Hamburgo. No ano passado, apenas 42 mil toneladas (0,04%) do total de 105 milhões de toneladas de petróleo importado pela Alemanha vieram do Iraque.
A Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK) prevê que a guerra do Iraque não terá efeito duradouro sobre o preço dos combustíveis. "O risco do conflito já está incluído no atual preço do petróleo", diz um comunicado da organização.
Efeitos imprevisíveis - Para o empresariado alemão, os efeitos econômicos do conflito ainda são imprevisíveis. "Se a guerra acabar com a insegurança nos mercados internacionais e aumentar a confiança na economia norte-americana, dará novos impulsos à conjuntura mundial. Mas se isso não acontecer, pode ocorrer uma desvalorização do dólar, com conseqüências negativas parra a economia mundial", diz a DIHK.
Segundo a avaliação da entidade, é pouco provável também que a economia alemã receba impulsos positivos a partir da reconstrução do Iraque. "Mesmo com uma pacificação rápida do país, a reconstrução deve ser muito lenta", prevê a DIHK.
A Conferação das Indústrias Alemãs (BDI) teme que a guerra do Iraque, se for longa, cause uma recessão na Alemanha. "Esperamos que o conflito termine logo e a situação no Iraque e no Oriente Médio se estabilize", disse o diretor da entidade, Ludolf von Wartenberg, em Berlim. Ele acrescentou que o empresariado alemão está disposto a participar da reconstrução da indústria iraquiana, "destruída pela guerra e pelas sanções da ONU".
O Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO) de Munique calcula que, se a guerra for rápida, a economia alemã crescerá 0,9% e a da zona do euro 1,1% em 2003. Num cenário mais pessimista, o crescimento poderá ser igual a zero. Segundo a IFO, a maioria dos efeitos da guerra já foram considerados nos cálculos das previsões econômicas.