Bonn exibe tesouros do Nilo
3 de novembro de 2004O oeste alemão se prepara para receber mais uma exposição monumental. Após Cézanne, em Essen, no Vale do Ruhr, e Hopper, em Colônia, é a vez de Bonn, a antiga capital alemã, exibir preciosos tesouros do Nilo na mostra Tutancamón – O além dourado. Tesouros do vale dos Reis, que fica até 1º de maio no Pavilhão de Arte e Exposições da República Federal da Alemanha.
Ao todo, são mais de 130 peças originárias do Museu Egípcio, no Cairo, oriundas do período entre 1427 a.C. e 1323 a.C.. Após uma primeira temporada em Basel, na Suíça, as obras passarão os próximos seis meses na Alemanha. Entre elas, estão 50 peças encontradas na tumba do mais famosos dos faraós, Tutancamón, além de outras 70 que adornavam tumbas e templos do chamado Vale dos Reis e de seus arredores, e ajudam a compreender o contexto histórico da 18ª dinastia egípcia.
Grande interesse
Antes mesmo da abertura ao público, mais de mil visitas guiadas já haviam sido agendadas e, ao que parece, a exposição em Bonn pretende equiparar ou até superar o sucesso obtido há mais de 20 anos, quando uma exposição do suntuoso conteúdo da tumba do faraó Tutancamón causou furor em sua passagem pela Europa. Levando, só na Alemanha, 3,7 milhões de visitantes aos museus em Munique, Colônia, Berlim, Hannover e Hamburgo.
Mas a exposição dos anos 80 tinha trunfos que a atual não tem: não só a máscara mortuária de Tutancamón, que cobria a cabeça e o peito da múmia, mas o sarcófago e o trono do faraó-menino, que assumiu o trono aos oito anos, não puderam deixar o Cairo.
A decisão de não mais emprestá-los ao exterior foi tomada pela direção do museu no Egito, após a danificação de uma das estátuas durante a turnê na década de 80. Agora, só peças que não sejam únicas, ou seja, das quais existe mais de um exemplar, podem deixar o Egito. Mesmo assim, o museu de Bonn pagou 4,5 milhões de euros pelos objetos.
Panorama cronológico
O título da exposição remonta ao fato de que o ouro – a "carne dos deuses" – era tido pelos egípcios como a cor do sol eterno e simbolizava o renascer dos mortos no além, salientando o caráter religioso das peças expostas. A visita está organizada cronologicamente e começa com adornos da tumba de Amenófis II (ca. 1427 a.C. a 1400 a.C.) e Thutmosis IV (ca. 1400 a.C. a 1390 a.C.), consideradas modestas se comparadas à tumba de Tutancamón. A maioria das peças conservadas desta fase inicial da 18ª dinastia são figuras de reis e deuses em madeira colorida, vasos para rituais e outros objetos simbólicos – ou seja, peças pouco interessantes para os saqueadores de tumbas da época.
Seguem figuras da época de Amenófis IV (ca. 1352 a.C. a 1336 a.C.), o "rei herege", que mudou seu nome para Akenaton e provovou uma revolução religiosa ao eleger o deus Aton como deus único, fonte de toda vida. Akenaton transferiu a capital para Amarna e as atividades sepulcrais no Vale dos Reis estagnaram por pelo menos um quarto de século.
Mas o ponto alto da exposição são mesmo os tesouros encontrados na tumba de Tutancamón (1332 a.C. a 1323 a.C.), que assumiu o governo aos oito anos após a derrota de Akenaton, cujos opositores se apressaram em restabelecer o culto aos antigos deuses.
Homenagem ao descobridor
Paralelamente, há uma pequena exposição sobre o arqueólogo britânico Howard Carter, que descobriu a tumba de Tutancamón em novembro de 1922 e que durante dez anos catalogou, embrulhou e transferiu cada um dos objetos encontrados ao Museu Egípcio no Cairo.
Além disso, uma instalação multimídia interativa sobre os principais centros culturais e religiosos do Egito antigo e um filme tridimensional sobre o desenvolvimento da arquitetura sepulcral egípcia completam a exposição.