Brasil e Alemanha são destaques do Cine Esquema Novo
24 de novembro de 2014O Cine Esquema Novo, festival de cinema experimental criado em 2003 em Porto Alegre, pensa novas formas de se produzir e exibir filmes. Com ampla seleção internacional e destaque para Brasil e Alemanha, o evento exibe obras que mesclam cinema e artes visuais.
Além de discutir produções cinematográficas experimentais, o festival também aposta em um trabalho de residência artística colaborativa. Com o objetivo de trocar experiências sobre processos técnicos e artísticos de produção, os cineastas alemães Arne Hector e Minze Tummescheit passarão três meses em Porto Alegre. A dupla fundadora do coletivo Cinéma Copains faz sua primeira incursão pelo Brasil.
"Estamos muito felizes de estar em contato com esses filmes, especialmente os brasileiros. Temos a impressão de que eles são feitos com pouco dinheiro e de forma colaborativa. Eles são muito profissionais, mas feitos de modo independente", diz Tummescheit.
Ficção e futuros
Os projetos de Tummescheit e Hector envolvem pesquisas de longo prazo e lidam com questões sociais. Seu mais novo tema de investigação são os contratos futuros - operações a termo negociadas em bolsa com as quais se pode, por exemplo, especular sobre o preço futuro dos alimentos.
"Queríamos aprofundar nossos conhecimentos em [mercado de] futuros. Assim nasceu a nossa vídeoinstalação Fictions and Futures #1. Quando começamos, percebemos como o projeto era grande e desafiador. Queríamos continuá-lo no Brasil, mas não sabíamos exatamente o que faríamos", conta Tummescheit.
A primeira parte do projeto foi rodada nos Estados Unidos. Na residência promovida pelo Cine Esquema Novo, a dupla está trabalhando com a produtora gaúcha Pátio Vazio para investigar como esse sistema funciona no Brasil. No Rio Grande do Sul, os contratos futuros afetam principalmente o preço da soja. "A soja é tão importante na agricultura daqui que os preços das coisas são em sacas de soja", comenta a cineasta.
"[A influência dos mercados futuros] é algo que afeta o mundo todo, mas sem um Estado ou uma democracia no controle. Queremos mostrar como isso afeta a vida cotidiana e as condições de produção agrícola. É uma espécie mais perversa de bolsa de valores que pode causar desastres globais, como a crise de 2008", completa Hector.
O projeto vai ganhar uma palestra audiovisual durante o festival – com trechos de filmes, leituras, exibição de fotos, mapas e uma discussão – e deve virar um documentário no futuro.
Novidades de dentro e fora do Brasil
Além da residência, o festival Cine Esquema Novo traz uma programação variada que incorpora alguns elementos da Berlinale. O festival recebe a mostra Ways of Seeing, com algumas das obras mais interessantes já exibidas no Forum Expanded – programa do Festival Internacional de Cinema de Berlim dedicado a formatos inovadores, no limite entre cinema e artes visuais – que tem uma proposta semelhante à do Cine Esquema Novo.
A Mostra Arsenal vai a fundo no principal arquivo de filmes da Europa. Entre mais de 10 mil obras, o festival selecionou quatro nomes que traçam um arco artístico representativo do audiovisual nas últimas décadas: Jack Smith, Matthias Müller, Ken Jacobs e Isabell Spengler, que exibem seu trabalho pela primeira vez na capital gaúcha.
Focando em obras inéditas, ousadas e experimentais, a sessão Competitiva Brasil é um mergulho na atual entre o cinema e as artes visuais no país. Expandindo as fronteiras entre as salas de cinema e galerias de arte, a mostra traz 14 programas com obras em diferentes formatos.
"Estamos tentando ver todos os filmes brasileiros. Fiquei muito impressionada com A Vizinhança do Tigre [de Affonso Uchoa], de Belo Horizonte. O longa mostra um grupo de jovens e tem uma tensão muito instigante. Um filme muito forte e interessante. Ainda temos muito o que ver", diz Tummescheit.
O Cine Esquema Novo vai até 27 de novembro no Goethe-Institut, Sala P.F. Gastal e Fundação Ecarta em Porto Alegre.