Brasil em Hannover
7 de março de 2008Os supermercados de alguns países europeus, como Portugal, têm painéis de compras que substituem os tradicionais caixas de supermercado. O cliente chega com o cesto de produtos, passa cada item por um leitor ótico, coloca as compras na sacola e paga com dinheiro ou cartão, diretamente no painel.
A visão não é comum no Brasil, país onde existe grande oferta de mão-de-obra. Mas a tecnologia da máquina é brasileira. "Nos países de Primeiro Mundo, no entanto, esse tipo de produto está se desenvolvendo muito rapidamente, e conseguimos fazer um caixa que atende dois lados, em vez de um só", explica David Schvartzmann, diretor de operações internacionais da Itautec.
Outras 14 empresas brasileiras estão na CeBIT, maior feira mundial da indústria digital, para abocanhar uma fatia do mercado de tecnologia da informação. Até o próximo domingo (09/03), os expositores querem mostrar que o Brasil não é apenas bom na exportação de etanol.
"Pode ser que não tenhamos novidades revolucionárias", diz Jorge Vasquez, gerente de desenvolvimento de uma empresa de software para gravações telefônicas em call centers. "Mas agregamos valor ao produto com pequenos incrementos e podemos exportar essa tecnologia para o exterior", explica.
Êxito brasileiro em urnas e automação bancária
Parece fácil listar exemplos para o know-how brasileiro de informática. "Todas as declarações de imposto de renda de pessoas jurídicas são feitas pela internet", aponta Rodrigo da Costa Fonseca, do Ministério brasileiro das Relações Exteriores, que trouxe as empresas para a CeBIT com outras companhias de países do Mercosul.
"As urnas eletrônicas e o sistema de automação bancária também são indicadores do sucesso brasileiro nessa área", afirma. Segundo Fonseca, esse tipo de projeto colocou o Brasil na liderança latino-americana na produção e criação de tecnologia da informação.
O Brasil também se aproxima da cultura européia e dos Estados Unidos – tanto pela presença de imigrantes europeus do país, quanto pela proximidade geográfica com os norte-americanos. Essa é uma das vantagens competitivas que o país tem em relação à Índia, por exemplo. "Por outro lado, o profissional brasileiro não fala inglês, o que para os indianos é mais fácil", explica Schvartzmann, da Itautec.
Dificuldades estão na burocracia e na qualificação de profissionais
Mesmo enumerando vantagens, a alta tecnologia brasileira ainda não deslanchou no mercado internacional. "A burocracia para exportar é grande", diz Rodrigo Cavalcante, de 30 anos, diretor de Desenvolvimento da empresa 3Corp, de software de gravação telefônica.
Além disso, "não houve, até hoje, um investimento maciço do país para se apresentar em eventos internacionais como a CeBIT", diz José Antonio Antonioni, diretor e presidente de duas empresas de software em Porto Alegre. "Esse tipo de projeção leva tempo", diz Antonioni, que participa da CeBIT pela nona vez consecutiva.
A falta de mão-de-obra qualificada também pode ser um problema. Apesar disso, muitos empresários concordam que existam boas universidades no setor.
"Temos dificuldades para encontrar, no mercado, um profissional pronto, ou disposto a trabalhar na nossa área. As faculdades não formam e as pessoas não se interessam. A área paga bem, não é esse o problema. Mas falta interesse, e o Brasil não tem a tradição que países como a Alemanha têm na área de tecnologia", explica Rodrigo Vasquez, da 3Corp.
Incentivos de 45 bilhões
No final de fevereiro, a prestadora de serviços BRQ mostrou que o Brasil acumulara um déficit de 150 mil profissionais de Tecnologia da Informação. O país concentra hoje 47% dos trabalhadores do setor na América Latina.
"Para incentivar a indústria digital brasileira, ela será objeto de investimentos da ordem de 40 a 45 bilhões de dólares, provenientes tanto do setor público quanto do privado, nacional e internacional, nos próximos anos", diz Rodrigo Fonseca.
A Alemanha, como grande importador de produtos de tecnologia digital, é uma boa porta de entrada para a Europa. "Como também é o líder mundial de exportações, alavanca negócios no mundo inteiro", afirma Antonioni.