Brasil quer exportar mais artesanato para o mercado alemão
18 de maio de 2006Mais de mil peças de artesanato de 20 Estados brasileiros estão expostas desde quarta-feira (17/05) até domingo no Museu de Arte Aplicada de Frankfurt. A exposição, organizada pelas ONGs Central Mãos de Minas e Centro Cape, com apoio da Apex (Agência de Promoção de Exportações), tenta abrir as portas ao mercado europeu para um setor que movimenta 3% do Produto Interno Bruto verde-amarelo.
O Brasil já vende artesanato para a Alemanha, mas em volume ainda inexpressivo para a balança comercial. Segundo a diretora do Centro de Capacitação ao Empreendedor (Cape), Tânia Machado, no ano passado, o Estado de Minas de Gerais, por exemplo, exportou o equivalente a 200 mil dólares em produtos deste setor para o mercado alemão.
Faltam estatísticas confiáveis
Segundo Machado, não há estatísticas nacionais confiáveis, o que dificulta o desenvolvimento de uma política para o setor, que em grande parte ainda atua na economia informal. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IGBE) indicam que cerca de 8,5 milhões de brasileiros trabalham com artesanato, atingindo um faturamento anual bruto de 12 bilhões de dólares.
De acordo com dados do Centro Cape, embora a profissão não seja regulamentada no Brasil, cerca de 200 mil artesãos estão organizados em pequenas empresas, associações ou cooperativas. Dos sete mil que atuam no setor em Minas Gerais, por exemplo, 200 já participam de atividades de exportação.
Mercado alemão é laboratório
As peças de pedra-sabão, madeira, vidro, cerâmica, têxteis e de outros matérias-primas expostas numa área de 250 metros quadros em Frankfurt refletem a enorme diversidade do artesanato brasileiro. Vinte e sete artesãos e instituições presentes à mostra explicam como e em que condições os trabalhos são produzidos e, numa "tenda de negócios", tentam convencer os alemães a comprá-los.
"O mercado alemão é muito exigente e serve de laboratório para quem quiser fazer negócios no resto da Europa", constata Machado, em entrevista à DW-WORLD. Ela explica que o Cape, sediado em Belo Horizonte, oferece cursos de capacitação para dois a três mil artesãos por ano.
"ISO para artesãos"
A ONG está ampliando também suas atividades de certificação, com base numa espécie de "norma ISO para artesãos" e um controle de toda a cadeia produtiva. Quem pretende exportar seus produtos é orientado a atender às normas trabalhistas e ambientais internacionais, explica.
Segundo Machado, o artesanato brasileiro não enfrenta barreiras alfandegárias significativas para entrar na Europa. O maior problema, acrescenta, é o artesanato barato da China, "que mata os concorrentes. Não temos como competir com os preços deles".
Mesmo assim, diz Machado, os expositores em Frankfurt têm uma meta ousada: exportar um o equivalente a um milhão de euros em artesanato brasileiro para a Alemanha nos próximos seis meses a um ano.
Libre de trabalho infantil
Machado garante que um dos diferenciais do artesanato exportado pelo Brasil, em relação ao de outros países em desenvolvimento, é o fato de ser produzido sem mão-de-obra infantil ou escrava. Mas que toda a produção nacional do setor já esteja livre desse tipo de mão-de-obra, isso ninguém pode garantir, acrescenta.
Na opinião da diretora do Cape, muitas vezes, também se confunde trabalho familiar com trabalho infantil. Podem ocorrer situações em que os filhos ajudam os pais no trabalho, por exemplo na colheita agrícola, mas sem que isso vire exploração ou impeça os filhos de freqüentar a escola. Até porque, pelos dados do IBGE, a renda média de um artesão brasileiro não é nenhuma fortuna: apenas 1,5 salário mínimo.