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Brasil reforça influência em Cuba

Astrid Prange De Oliveira (rc)27 de janeiro de 2014

Megaprojeto no Porto de Mariel confirma crescente interesse de elevar cooperação econômica com a ilha caribenha, como deixou claro Dilma em Havana. Para especialistas, governo brasileiro já mira eventual fim do embargo.

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Dilma Rousseff e Raúl Castro em Cuba nesta segunda-feira (27/01): cooperação crescemteFoto: Reuters

Brasil e Cuba têm mais em comum do que as críticas aos Estados Unidos – os dois países mantêm uma cooperação especial, que se tornou mais intensa nos últimos anos. Enquanto médicos cubanos desembarcam em território brasileiro, a ilha caribenha recebe produtos agrícolas. Agora, ambos trabalham juntos no megaprojeto do Porto de Mariel, cuja primeira parte foi inaugurada nesta segunda-feira (27/01) pela presidente Dilma Rousseff.

O Brasil se vê no momento como um dos motores do desenvolvimento, ainda que lento, da economia cubana. E mira, segundo especialistas, um eventual fim do embargo americano, que já dura mais de cinco décadas. Em discurso na ilha caribenha, Dilma não escondeu o desejo de reforçar a cooperação com o governo de Raúl Castro.

"Laços profundos unem os nossos países, um sentimento de amizade aproxima nossas sociedades. O Brasil acredita e aposta no potencial humano e econômico de Cuba", afirmou a presidente. "O Brasil quer tornar-se parceiro econômico de primeira ordem para Cuba."

Mais empréstimos

Não é coincidência que o Porto de Mariel, maior projeto de infraestrutura em andamento em Cuba, esteja a cargo de uma empreiteira brasileira, a Odebrecht. O financiamento da obra também tem o governo brasileiro por trás: o BNDES aprovou empréstimos de 682 milhões de dólares para financiar a construção, que tem custo total de 957 milhões de dólares.

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Dilma e Raúl na inauguração do Porto de MarielFoto: Reuters

Nesta segunda-feira, Dilma ainda ofereceu um crédito adicional de 290 milhões de dólares, dinheiro a ser destinado também para a zona econômica especial do Porto de Mariel. "É a expressão do compromisso brasileiro de apoiar o desenvolvimento econômico de nossos irmãos caribenhos", disse o Itamaraty em nota à DW.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram o crescimento da parceria comercial entre os dois países. As exportações do Brasil para Cuba aumentaram de 80 milhões de dólares em 2003 para 568 milhões em 2012. De janeiro a setembro de 2013, o valor das exportações já atingia cifra próxima a 515 milhões de dólares.

Desde 1998, o BNDES garantiu empréstimos no total de 703 milhões de dólares a empresas brasileiras que investem em Cuba. Em 2013, Cuba foi o terceiro maior destino de financiamentos do banco para exportação de bens e serviços do Brasil. Para especialistas ouvidos pela DW, não há dúvida: os investimentos são estratégicos.

"O porto é visto como uma maneira de se antecipar aos investidores americanos", explica Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV. Segundo ele, tem-se no Brasil a concepção de que numa Cuba pós-Castro a liberalização da economia prosseguirá mais rapidamente e pode levar, em consequência, ao levantamento do embargo americano.

À espera do fim do embargo

A agência de investimentos alemã GTAI já aposta há um bom tempo no relaxamento do embargo a Cuba. Peter Buerstedde, especialista da agência, observa que, como Raúl Castro quer permanecer na presidência apenas até 2018, existem indicações de mudança em médio prazo nos rumos da ilha. "O Porto de Mariel poderá se tornar um centro de logística no Caribe quando os EUA levantarem o embargo", prevê.

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A construção do Porto de Mariel em Cuba foi, em grande parte, financiada pelo BNDESFoto: Reuters

Na próxima reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nos dias 28 e 29 de janeiro, em Havana, já são evidentes alguns sinais de uma diminuição das animosidades.

Pela primeira vez, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, aceitou o convite para participar do evento. Insulza quer impulsionar as conversações com Cuba, que foi excluída da organização em 1962 por pressão dos EUA.

"O modo como os EUA lidam com Cuba é visto em toda a região como nada construtivo", explica Stuenkel. Para ele, o Brasil se prepara para entrar no lugar da Venezuela como o principal parceiro do regime cubano. "A Venezuela não consegue mais transferir, em longo prazo, ajuda de grande porte a Cuba, porque luta internamente com seus próprios problemas econômicos."

Na opinião de Stuenkel, a intensidade dos confrontos ideológicos entre a esquerda latino-americana e os Estados Unidos está diminuindo. Sem Hugo Chávez, Cuba não poderia ir muito longe. "Se governo cubano perder um apoio de grande porte, as mudanças em larga escala serão inevitáveis", aposta.

O Ministério das Relações Exteriores já busca, de longa data, fortalecer os laços políticos com Cuba. "As relações Brasil e Cuba atravessam excelente momento. Por trás da cooperação existe uma visão compartilhada", afirmou o Itamaraty à DW. "Nossos governos acreditam que não basta crescer; é preciso promover o desenvolvimento social e melhorar as condições de vida dos mais necessitados."