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Brasileiras radicadas em Berlim misturam influências na Copa da Cultura

Marco Sanchez, de Berlim20 de junho de 2014

Cantora Monica Besser e banda Rainhas do Norte brincam com o moderno e o tradicional em evento que celebra o futebol e a música brasileira na capital alemã. Artistas mesclam ritmos como MPB, rock, maracatu e ciranda.

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Banda Rainhas do Norte, formada a partir de um grupo de percussão em BerlimFoto: Joao Paglione

Festejar a música brasileira e o futebol no mês da Copa do Mundo é o objetivo da Copa da Cultura, realizada em Berlim durante o Mundial de futebol. Entre as atrações estão estrangeiros que pesquisam e exploram possibilidades dos ritmos do Brasil, como o Da Lata e o Fumaça Preta. Ao mesmo tempo, o festival permite observar o outro lado: como viver no exterior influencia o trabalho dos músicos brasileiros.

Para alguns, tocar na Copa da Cultura é quase como tocar em casa, já que vivem e trabalham em Berlim. A capital alemã não traz apenas influências sonoras – o clima tranquilo e de liberdade criativa que permeia a cena artística da cidade também se reflete no trabalho desses artistas.

"Saí do Brasil em 2009, quando vi que o máximo que o país poderia me oferecer naquele momento era algo muito engessado, um esquema que era mais imagem do que conteúdo. Aquilo não era para mim. Já conhecia a Europa, e aqui as pessoas levam a arte a sério. Há uma boa repercussão para o que não é pop", diz a cantora carioca Monica Besser, que vive em Berlim desde 2010 e apresenta-se no festival nesta sexta-feira (20/06).

Pesquisa musical

Besser começou a se apresentar quando era adolescente. Ela formava uma dupla com a cantora Dani Carlos. Por alguns anos, as duas viajaram e se apresentaram por todo o Brasil, algo que a carioca chama de "uma pesquisa musical", que se refletiu, principalmente, em seu trabalho solo.

Monica Besser
Monica Besser vive em Berlim desde 2010, onde encontrou espaço para a música autoralFoto: Debora Saraiva

"Quando terminei a escola, ganhei o Brasil e fiz muita pesquisa de ritmos no interior do país, trabalhando com diversos grupos", disse a cantora, que também teve uma banda de forró formada por seis mulheres, a Fina Flor. No entanto, ela queria investir em seu trabalho como cantora e compositora e, em 2005, gravou o primeiro disco solo.

Lançado de forma independente, o álbum teve uma boa recepção no Brasil e chegou a tocar em rádios e até emplacar uma música na trilha de uma novela da Globo.

Como produtora musical, Besser acabou passando uma temporada na Europa e se apresentando no continente. Após a boa receptividade de seu trabalho, ela decidiu, em 2009, mudar-se para Barcelona e, no ano seguinte, para Berlim.

Música autoral e diversificada

"Quando saí do Brasil, queria aprender, conhecer outras culturas. Mas Barcelona é muito parecida com o Rio de Janeiro. O povo é latino, emotivo, fala alto e tem a praia. Lá a música está ligada à festa. Queria outra estrutura para o meu trabalho. Aqui é outro universo, onde a música autoral é fortíssima", afirma a cantora sobre Berlim.

Haus der Kulturen der Welt
Artistas brasileiros e estrangeiros sobem ao palco na capital em alemã durante o Mundial de futebolFoto: Sebastian Bolesch / Haus der Kulturen der Welt

Ligada a movimentos ambientalistas, indígenas e sociais ao redor do mundo, a carioca ampliou sua pesquisa musical nos últimos anos, o que resultou no seu mais recente disco, Fusion Rocks, lançado no ano passado.

"Estava andando em Ibiza e encontrei essa pedra, que era a fusão de diferentes pedras, com uma grande diversidade de cores e tons. Esse é meu estilo. Misturo línguas, ritmos. Passeio por universos harmônicos e melódicos. O disco é assim, leva o ouvinte para diferentes universos", diz.

Com sua voz forte, Besser passeia pelo rock e pela MPB, pegando referências de suas viagens pelo mundo, além de cantar em português, inglês, espanhol, francês e catalão. "Quando coloco outros idiomas na minha música, minha intenção é comunicar. Quando você canta na língua local, as pessoas abrem o coração porque sentem que você quer realmente se comunicar com elas", explica.

Diferentes ritmos, mesma batida

A diversidade da música brasileira faz parte do universo de outras brasileiras baseadas em Berlim: as Rainhas do Norte. A banda foi formada na capital alemã a partir de um grupo de percussão.

DJ Grace Kelly
DJ Grace Kelly, integrante das Rainhas do Norte, é a DJ de música brasileira mais popular de BerlimFoto: Johan Visbeek Photography

"Tocamos música brasileira popular e de raiz, principalmente o maracatu, o coco e a ciranda. Partimos daí e vamos brincando também com outros ritmos brasileiros, apesar de a nossa base ser pernambucana", diz a DJ Grace Kelly, umas das sete integrantes do grupo.

Em 2012, as Rainhas do Norte gravaram o primeiro disco. Com dez composições próprias, o álbum Cada Uma mostra a delicadeza e a criatividade do grupo ao misturar diversos ritmos brasileiros e criar um som com características próprias.

"Desde criança, eu estava envolvida em alguma roda de samba", conta a baiana, que é veterana na cena musical brasileira em Berlim. Há 14 anos, Grace Kelly é a DJ de música brasileira mais popular da capital alemã, se apresentando não apenas na cidade, mas também em outros lugares do mundo.

Uma de suas principais características é misturar ritmos brasileiros com música eletrônica e outros ritmos turcos, árabes ou ciganos, também muito populares na cena local. "As batidas são uma forma de combinar isso tudo", revela a DJ.

Para o show na Copa da Cultura, a grande novidade é que as Rainhas do Norte vão além da sua consagrada forma, com voz e percussão, adicionando uma baixista à banda, que, segundo Kelly, deve fazer parte do segundo álbum do grupo. O novo disco ainda não tem previsão de lançamento.

A Copa da Cultura acontece na Casa das Culturas do Mundo (Haus der Kulturen der Welt), em Berlim. As Rainhas do Norte e a DJ Grace Kelly encerram o evento, no dia 13 de julho.