Brasileiro aposta em habilidade de negociar para conquistar chefia da OMC
10 de janeiro de 2013O governo brasileiro aposta na habilidade de negociação e de buscar consenso do diplomata Roberto Carvalho de Azevêdo para levar, pela primeira vez, um representante de um país latino-americano à chefia da poderosa Organização Mundial do Comércio (OMC).
Embaixador do Brasil na organização desde 2008, Azevêdo, de 55 anos, conhece bem os meandros dos acordos internacionais e acredita que este será um importante trunfo a seu favor. Durante entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira (10/01), ele afirmou que sua candidatura nasceu da "pressão" das delegações de outros países, que enxergam nos representantes brasileiros uma grande "capacidade de articular soluções".
"Essa capacidade é reconhecida por todos na OMC", garantiu o embaixador em conversa de uma hora com jornalistas, em tom descontraído, no Palácio do Itamaraty. A entrevista foi transmitida ao vivo pela internet para a imprensa internacional, em português e inglês.
Azevêdo criticou os impasses "graves e até o momento insuperáveis" nas negociações multilaterais atualmente em vigor na OMC, como no caso da Rodada de Doha, e defendeu uma revitalização da organização e do sistema multilateral. "Esta paralisia é particularmente preocupante à luz das incertezas que se apresentam para a economia e o comércio mundial no atual processo de recuperação da crise financeira de 2008 e suas sequelas."
Apelo à rotatividade
Para tentar convencer os membros da organização a optarem pelo nome do representante brasileiro, o Itamaraty vai defender a rotatividade entre os continentes no comando da OMC. América Latina e África são os únicos que, ao longo dos 65 anos da existência da organização – desde a criação do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (Gatt, da sigla em inglês) até o surgimento da OMC – nunca passaram pela diretoria-geral.
Mas Azevêdo não será o único latino-americano a pleitear o cargo desta vez. De seus oito concorrentes, dois vêm do mesmo continente: Hermínio Blanco, do México, e Anabel González, da Costa Rica. Na lista de candidatos há ainda indicações dos governos de Gana, Indonésia, Nova Zelândia, Quênia, Jordânia e Coreia do Sul.
O embaixador brasileiro, no entanto, acredita que o fato de não ser o único representante do continente não será problema. "Não acho que haverá canibalismo de candidaturas", destacou. "Na minha percepção, na medida em que você vai se aproximando do final [do processo de seleção], a origem do candidato importa cada vez menos, o que vale é a capacidade dele de reunir consenso."
Em busca de apoio, Azevêdo iniciará em breve uma série de viagens para apresentar sua candidatura, especialmente nos países que já receberam com "bastante simpatia" sua campanha. Evitando citar nomes, ele ressaltou apenas ter recebido abertamente o apoio da Argentina.
Experiência na área
A indicação do diplomata brasileiro à OMC havia sido anunciada pelo Itamaraty no dia 28 de dezembro por decisão da presidente Dilma Rousseff, após um processo de consultas internas.
O governo brasileiro também considera uma vantagem importante a vasta experiência de Azevêdo com comércio e intermediação de acordos internacionais. Ele dirigiu a Coordenação-Geral de Contenciosos do Itamaraty durante quatro anos (de 2001 a 2005), já foi chefe do Departamento Econômico (2005 a 2006) e subsecretário-geral de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores.
O futuro diretor-geral da OMC substituirá o francês Pascal Lamy, que deixará o cargo no dia 31 de agosto, após cumprir dois mandatos de quatro anos cada. Os candidatos terão pouco mais de dois meses para tentar ganhar a simpatia de seus pares, já que o processo seletivo começa no dia 31 de março e deve durar até 31 de maio, quando será anunciada a decisão.
Autora: Mariana Santos
Revisão: Francis França