Gostaria de recomendar aos brasileiros que se distanciem mentalmente do Brasil. Viaje, medite, faça ioga ou uma longa caminhada nas montanhas. Relaxe, feche os olhos, se distraia, desligue a internet e olhe para sua vida e para o Brasil a partir de fora. Tente uma perspectiva diferente, talvez a de um estrangeiro; alguém não familiarizado com a turbulência política e social de seu país nos últimos anos. Você verá como as coisas ficarão mais claras e vai recuperar uma sensação de bom senso. Tantos brasileiros o perderam completamente − como se pode ver de forma impressionante em frente aos quartéis.
Após passar cerca de um ano no Brasil, estou viajando novamente pela primeira vez, agora pelo Caribe. À distância, você de repente percebe como o país foi exposto a um estresse constante − e como você mesmo foi submetido a ele. Não havia como escapar dos conflitos. Todos os dias, você era obrigado a se posicionar a favor ou contra algo. Tudo era subordinado a um pensamento esquemático: Bolsonaro ou não Bolsonaro.
Psicose coletiva
Esse estresse permanente, o fluxo constante de informações revoltantes, a sensação de ter que se posicionar logo ao acordar tiveram um preço alto: levaram à desconfiança, à histeria e a um enrijecimento do pensamento.
O bolsonarismo foi responsável por esse constante estresse. Tentou empurrar o Brasil tão para a direita que indignação, dissidência e resistência se tornaram inevitáveis. Os quase diários delírios, absurdos e violações do bom senso não poderiam ficar sem resposta.
As tentativas de desmantelar o Estado brasileiro e prejudicar a Saúde, a Educação, o meio ambiente e os direitos humanos tiveram que ser combatidas, da mesma forma como os planos de militarizar a sociedade e dessolidarizá-la. Assim, fomos puxados para um redemoinho constante. A psique coletiva dos brasileiros ficou em constante alerta.
Quanto mais longe, mais absurdo parece
Os maiores danos, porém, sofreram os bolsonaristas, pessoas que entraram tão profundamente no labirinto do extremismo que não conseguem mais sair. Pessoas que dizem representar a vontade do povo brasileiro − como se o povo brasileiro não tivesse acabado de expressar sua vontade. Basta ouvir as fantasias de golpes militares e da intervenção de poderes superiores para entender que tudo isso já está muito longe de ser normal. É um caso para psicanálise coletiva.
Quanto mais longe se está do Brasil, mais absurdo parece tudo isso. Parece incompreensível como o Brasil se deixou infectar tão gravemente pela histeria e loucura e como se desviou de uma discussão racional sobre questões prementes.
Os brasileiros fariam bem em dar um tempo após quatro anos de estresse constante. Talvez a Copa do Mundo seja uma boa ocasião para isso. E então eles têm que tentar ver o mundo com olhos normais novamente. Com serenidade, humor e bom senso.
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Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha,Suíça e Áustria Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.
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