Brasileiros são destaque na mostra Panorama do Festival de Cinema de Berlim
9 de fevereiro de 2012Em 2012, o Brasil certamente não irá receber o Urso de Ouro, como o fez em 2008 com Tropa de Elite e em 1998 com Central do Brasil. Nenhum filme brasileiro foi selecionado para a competição oficial do Festival de Cinema de Berlim este ano.
A única chance de chegar pertinho de um dos prêmios mais cobiçados do cinema mundial é Tabu, filme do diretor português Miguel Gomes com coprodução brasileira.
Mesmo assim, o Brasil tem razões para comemorar. Além de diversos filmes que serão exibidos em sessões para o mercado internacional, quatro filmes brasileiros, dois longas e dois curtas, fazem parte da seleção oficial da Berlinale, como é chamado na Alemanha o Festival de Cinema de Berlim.
Pequenos grandes filmes
Uma garota que não gosta dos próprios pés. Teté é a personagem principal de L, curta de Thais Fujinaga, que se inspirou nos conflitos e complexos da própria adolescência para contar a história de sua personagem.
O filme teve êxito em festivais no Brasil, levando os Candangos de melhor filme e melhor direção no Festival de Brasília, além de prêmios no Festival Latino-americano de Havana e no Festival de Mar del Plata, na Argentina.
O curta documentário Licuri Surf do paulista Guile Martins faz sua estreia internacional na mostra principal de curtas do festival. O filme nos leva a uma jornada pelo universo de dois índios surfistas. Na busca pela onda perfeita eles se aventuram em lugares e situações pouco convencionais para quem pratica o esporte.
Questionar a normalidade
Dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifmann, o documentário Olhe para mim de novo acompanha o transexual masculino Sillvyo Luccio em sua viagem pelo interior do Nordeste brasileiro. No olhar dos diretores, a jornada de volta ao passado religioso e cheio de preconceitos mostra um vibrante retrato de um ser humano que sem perceber quebrou paradigmas sociais e sexuais.
Segundo Wieland Speck, diretor da Panorama, o filme é um retrato revelador de pessoas diferentes e toca em temas como diferenças sociais, conflitos de geração e levanta pontos importantes para a mostra.
"Questionar a normalidade, a conformidade e as convenções é uma das grandes questões da Panorama. Ao mesmo tempo que mantêm as pessoas unidas, esses tópicos muitas vezes as deixam enjauladas. Essas questões e análises são temas que procuro nos filmes que seleciono", declarou Speck à DW Brasil.
Orgulho brasileiro
"Aprender sobre o passado colonial brasileiro é uma grande descoberta para um europeu. Há uma pressão muito grande para explorar cada centímetro do mundo. Quando a Europa não era mais suficiente, eles foram atrás de um Novo Mundo e quando não havia mais colônia, isso aconteceu dentro do próprio Brasil", disse o diretor da Panorama ao se referir à Xingu, filme de Cao Hamburger, que faz sua estreia internacional no festival.
O filme relata a história dos célebres irmãos Villas-Bôas, três irmãos que fizeram uma expedição ao coração do Brasil em 1943. Encantados com a riqueza social e cultural que veem, eles descobrem que suas verdadeiras vocações é proteger as populações do Xingu.
"É fascinante como esses irmãos, ao entrarem em contato com as tribos, perceberam que você pode acabar com o que vê ou que o mundo tem que ser apreciado e protegido. O que eles criaram foi mais que uma reserva e sim a preservação de uma parte única do mundo, algo do qual o Brasil pode se orgulhar", celebrou Wieland Speck.
Para ele, o Brasil tem produzido grandes filmes nos últimos anos, por isso é sempre constante a presença na competição oficial e na mostra Panorama. "Xingu e Olhe para mim de novo são perfeitos para o programa. Não trabalho com um tema, mas cada ano, encontro um ponto comum entre os filmes que escolho. Migração e gênero são tendências muito fortes na seleção deste ano e minhas escolhas brasileiras não poderiam ser mais apropriadas", concluiu.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque