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Brexit deve dominar política britânica em 2017

Cristina Burack md
3 de janeiro de 2017

Negociações para saída do Reino Unido da UE devem provocar debates no país durante o ano. Críticos temem meses de dificuldades econômicas, enquanto eurocéticos culpam previsões econômicas por disseminar alarmismo.

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"Sem mais desculpas, queremos Brexit agora", diz cartaz na mão de manifestante
"Sem mais desculpas, queremos Brexit agora", diz cartaz na mão de manifestanteFoto: Getty Images/AFP/J. Tallis

A vitória do sim ao Brexit – saída do Reino Unido da União Europeia (UE) – em referendo em junho de 2016 deu início a um longo e incerto processo, que deve dominar a agenda política do país neste ano. No início de janeiro, os juízes da Suprema Corte britânica devem decidir quem pode legitimamente acionar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa – o governo ou o Parlamento. O artigo estabelece as regras para dar início ao processo de negociação para um país sair da UE.

Apesar de o julgamento ainda não ter ocorrido, permanece o consenso de que o gatilho será acionado. "Acredito que o Artigo 50 será acionado", diz James Sproule, economista-chefe do Institute of Directors (IoD) – organização que reúne lideranças empresariais britânicas. "A atual batalha na Suprema Corte é uma tempestade num copo d'água", avalia.

James McGrory, co-diretor executivo do Open Britain – grupo que luta pela permanência do Reino Unido no bloco europeu, mesmo após a vitória do Brexit – também reconhece ser inevitável o início das negociações de saída em março de 2017, ao mesmo tempo em que afirma que muitas questões ainda não foram respondidas. "Ainda não sabemos o que o governo britânico quer do Brexit. Eles terão que dar mais detalhes", diz.

No entanto, David Phinnemore, professor do Instituto Senador George J. Mitchell para a Paz Global, Segurança e Justiça, na Universidade Queen's, em Belfast, continua cético quanto à extensão dos detalhes que o governo deve tornar públicos. "O governo britânico não quer dizer nada de concreto sobre seus planos e já afirmou que quer evitar dar detalhes, pois isso enfraqueceria sua posição de negociação", lembra Phinnemore.

Previsões pessimistas

Gaz Evans, editor de vídeo irlandês que vive em Liverpool, acredita que sua situação econômica pessoal ficará "cada vez mais difícil" depois do Brexit e planeja sair do Reino Unido. "Não estou tão confiante de que a situação vai ficar boa o suficiente para que eu fique", afirma.

Já Virginia Fontaneda, uma espanhola que vive no Reino Unido há mais de dois anos, planeja permanecer, apesar de acreditar que os preços vão subir. "Isso vai me afetar dessa maneira", diz, se referindo ao ambiente político e econômico incerto no Reino Unido em 2017.

A previsão de Fontaneda é fundamentada por dados do Escritório de Responsabilidade Orçamentária (OBR), que fornece análises e previsões independentes sobre o crescimento econômico para o governo britânico. Em seu último relatório, em novembro, o OBR elevou o Índice de Preços ao Consumidor, que mede a inflação, de 1,6% para 2,3% e reduziu a taxa de crescimento do PIB de 2,2% para 1,4%.

McGrory, da Open Britain, diz que não apenas o OBR, mas "todas as previsões" anunciam um ano difícil, com "menor crescimento, maior inflação e mais empréstimos" devido ao Brexit. "O maior impacto a curto prazo que vimos foi a queda no valor da libra esterlina, que atingiu seu menor nível em relação ao dólar em mais de 30 anos", acrescenta.

Empresários discordam

No entanto, há quem discorde da previsão econômica do OBR para 2017. Entre eles está Ryan Bourne, membro dos Economists for Brexit, grupo que apoia a saída do Reino Unido da UE. "A libra já se fortaleceu em relação à expectativa do OBR", ressalta, acusando a instituição de fazer previsões imprecisas.

Assim como Bourne, Sproule, do IoD, duvida que as negociações irão causar uma crise econômica. "Recessões são desencadeadas por causas reais (aumento dos preços dos insumos ou das taxas de juros), não teóricas, como é o caso do Artigo 50."