Briga de vizinhos entre a Alemanha e a Suíça
25 de março de 2004No início de março, a polícia alemã de fronteiras (BGS) lembrou-se subitamente do Acordo de Schengen. Este corresponde à visão de uma Europa sem fronteiras, e foi assinado por sete países na localidade de Schengen, em Luxemburgo, em junho de 1985. Atualmente são 15 os países que fazem parte do acordo, entre os quais não há controle de fronteiras. Entre eles não está a Suíça.
Apesar disso, os guardas de fronteira e da alfândega do sudeste alemão sempre faziam vista grossa para os viajantes do país dos relógios, deixando-os simplesmente passar ou fazendo apenas controles periódicos. Mas nas últimas semanas, a BGS controla praticamente cada passaporte, e o resultado são engarrafamentos e filas quilométricas nas barreiras.
Os suíços se sentem coagidos por seus vizinhos do "Grande Cantão", como denominam pejorativamente a Alemanha, que possui uma população dez vezes mais numerosa.
Nesta quarta-feira (24), o ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, reuniu-se em Berna com sua colega de pasta suíça, Micheline Calmy-Rey, para aparar as recentes arestas nas relações entre os dois países.
Segundo ele, trata-se sobretudo de um problema técnico: encontros periódicos de alto escalão deverão melhorar a comunicação no futuro. Essa intenção já orientará a próxima conversa entre o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, e o primeiro-ministro suíço, Joseph Deiss, marcada para 23 de abril. Entretanto, para os controles intensivos na fronteira entre os dois países, não há alternativa, sentenciou Fischer.
"Não queremos exercer pressão sobre a Suíça. Mas tem que ficar claro que se trata de uma fronteira externa da União Européia. Segundo as deliberações de 1995, como parte do Acordo de Schengen, todo viajante deve passar pelos controles nas fronteiras teuto-suíças. A BGS continuará seu trabalho intensivo. A única solução é a Suíça aderir ao Acordo de Schengen."
Segundo Calmy-Rey, a fiscalização intensificada é um perigo para a economia de ambos os lados da fronteira. E nesse ponto ela tem o apoio dos comerciantes alemães em Freiburg e na região do Lago de Constança: os suíços ofendidos preferem ficar em casa, e isso já está causando considerável rombo no faturamento.
Uma macieira da discórdia
Este não é o único problema entre os países vizinhos, no momento. Durante mais de 20 anos os habitantes do sul de Baden-Württemberg vinham se queixando do barulho dos aviões com destino ao aeroporto de Zurique-Kloten. Os suíços rejeitaram a proposta de Berlim de um acordo estatal para limitar a "exportação de barulho". Assim, a Alemanha determinou, unilateralmente, pausas mais longas, à noite e nos fins de semana, para os vôos com destino a Zurique, de forma que mais aeronaves sobrevoam o território suíço. A medida provocou a revolta dos moradores contra Berna, mas, sobretudo, contra Berlim.
Outro ponto de atrito é a compra de terras na Alemanha pelos agricultores suíços, altamente subvencionados. Como o relacionamento entre os vizinhos desandou, até mesmo antigos acertos estão sendo cancelados em represália. Em 1977 um acordo oficial selou a discussão, que datava da década de 60, de uma zona franca entre Lörrach e Weil no Meno, em Baden-Württemberg, passando por território suíço. Poucos dias antes do início planejado, a construção foi sustada, e as negociações terão que recomeçar em abril.
Outro pomo da discórdia sãos os planos da Suíça de construir um depósito de lixo atômico nas proximidades de Benken. É compreensível que os alemães não estejam nem um pouco satisfeitos pela perspectiva de ter os dejetos radioativos enterrados na porta de casa, por assim dizer.