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Briga pela água

(gh)22 de março de 2003

A escassez de água potável em algumas regiões do globo pode transformar-se em motivo de futuras guerras.

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Torneira pública em vilarejo de Sumatra (Indonésia)Foto: Rüdiger Siebert

A guerra do Iraque preocupa seriamente a humanidade, no momento, mas suas conseqüências devem ser menos graves do que os efeitos de uma outra crise programada: a escassez de água potável no mundo. "Trata-se da maior ameaça à humanidade no século 21", adverte a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Enquanto as bombas caem sobre o Iraque, ambientalistas aproveitam o Dia Mundial da Água, neste sábado (22), para lançarem um apelo: caso não sejam tomadas medidas urgentes, a questão da partilha da água pode desencadear conflitos armados no futuro.

Aproximadamente 1,2 bilhão de habitantes do globo não têm acesso seguro à água e 2,4 bilhões não dispõem de condições básicas de higiene. Diariamente, cerca de seis mil pessoas morrem de doenças decorrentes do consumo de água contaminada ou da falta de tratamento de esgoto. Oitenta por cento de todos os casos de enfermidades resgistradas nos países em desenvolvimento decorrem da escassez de água potável.

Cegueira - "A falta e contaminação da água pode também ser a causa da cegueira de milhões de pessoas", adverte a organização filantrópica alemã Christoffel Blindenkomission (CBM), sediada em Bensheim, estado do Hessen. Somente o tracoma, agente que provoca a conjuntivite granulosa e que é transmitido sobretudo pela falta de higiene, já teria roubado a visão de seis milhões de pessoas em todo o mundo.

Segundo Ulrike Bauer, porta-voz da seção alemã do Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Alemanha), "se o atual desperdício de água potável continuar, em 20 anos, cerca de 3,5 bilhões de pessoas (ou seja, quase a metade da população do globo prevista para daqui a duas décadas), viverá em regiões onde a água é escassa. Medidas concretas para conter a crise estão sendo discutidas, neste fim de semana, no 3° Fórum Mundial da Água, em Kyoto, no Japão.

Rio+10 - O encontro no Japão dá continuidade às discussões da Conferência Mundial do Meio Ambiente (Rio+10), realizada em agosto de 2002, em Joanesburgo, na África do Sul, quando os países participantes se comprometeram a reduzir à metade, até 2015, o número de pessoas sem acesso a condições básicas de higiene. Para atingir esta meta, "a cada dia, mais 300 mil pessoas devem obter acesso a água limpa", explica a secretária de estado no Ministério alemão para a Cooperação Econômica, Uschi Eid, que lidera a delegação alemã em Kyoto. "Os governos precisam demonstrar de forma convincente que estão dispostos a tomar as medidas necessárias", disse.

"A construção de represas não é a solução para superar a escassez de energia e água", disse Jörn Ehlers, do WW alemão. A organização não rejeita totalmente essas obras, mas conclama as agências de financiamento internacional a avaliarem melhor os riscos dos projetos. "É preciso estabelecer padrões mundiais mínimos a serem respeitados na construção de represas", diz Ehlers.

"Sabe-se agora, pelo menos, o que precisa ser feito, mesmo que não tenhamos avançado em termos de implementação das medidas", afirmou um participante do Fórum Mundial da Água. Observadores acreditam que as chances de definição de cronogramas concretos serão bem melhores na reunião de cúpula do G-8, em junho próximo, na França. O presidente francês Jacques Chirac, que não foi a Kyoto em função da guerra do Iraque, quer transformar a questão da água num dos principais assuntos do encontro de cúpula, que acontecerá em Paris.