Burle Marx, o criador do jardim moderno
Museu Judaico de Nova York dedica retrospectiva a Roberto Burle Marx, um dos mais influentes paisagistas do século 20 e, segundo o Instituto de Arquitetos Americanos, o "verdadeiro criador do jardim moderno".
Um modernista brasileiro
Ele foi paisagista, pintor, escultor, designer de tecidos, joias e cenários. Além de objetos, fotos e maquetes, a exposição "Roberto Burle Marx: Brazilian Modernist", no Museu Judaico de Nova York, traz trabalhos de artistas influenciados pela obra do modernista brasileiro. Aqui se tem uma visão geral da mostra que vai até setembro. Em 2017, ela estará em Berlim e, depois, no Rio de Janeiro.
Burle Marx
Filho de Willem Marx, um comerciante alemão judeu, e Cecília Burle, uma pernambucana católica, Roberto Burle Marx (1909-1994) nasceu em São Paulo, mas cresceu no Rio de Janeiro. Seu amor pela flora veio da mãe e, ao longo de sua vida, ele projetou mais de 2 mil jardins e descobriu quase 50 novas espécies de plantas. Na foto, ele segura uma "Heliconia hirsuta burle marx ii", flor que leva seu nome.
Paisagista excepcional
O que diferenciou Burle Marx de outros paisagistas foi não somente ter um conhecimento profundo de plantas, mas também de ele mesmo cultivá-las em seu sítio em Barra de Guaratiba, bairro litorâneo do Rio de Janeiro. Comprado com seu irmão Sigfried, em 1949, foi lá que o artista residiu até sua morte. Hoje, ali se encontra o Centro de Estudos de Paisagismo, Botânica e Conservação da Natureza.
Um brasileiro na Alemanha
Burle Marx cresceu em ambiente artístico, falava seis línguas e sua dedicação musical o levou a ser barítono. No final dos anos 1920, seu pai o trouxe para tratamento oftalmológico em Berlim, onde viveu dois anos. No Jardim Botânico da capital alemã, o artista descobriu a flora brasileira, que os europeus já colecionavam há muito. Na foto, vitórias-régias adornam jardim da Fazenda Vargem Grande.
Brasilidade
De volta ao Rio de Janeiro, em 1930, Burle Marx estudou pintura na Academia de Belas-Artes. Mas não perdeu o interesse pela botânica. É difícil dizer se a pintura o levou à jardinagem ou vice-versa. Na academia, Burle Marx foi contemporâneo de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Era a época da busca do caráter nacional, da "brasilidade". Na foto: o projeto de paisagismo do Palácio Capanema.
O jardim moderno
Burle Marx deve a Lúcio Costa sua primeira grande encomenda: os jardins do antigo Ministério da Educação, primeiro arranha-céu moderno do mundo projetado em 1936, hoje Palácio Capanema. Influenciado por formas de Hans Arp e Joan Miró, ele resgatou a textura e quebrou a simetria dos jardins franceses. Isso lhe valeu o título de "o criador do jardim moderno" pelo Instituto de Arquitetos Americanos.
Paraíso reencontrado
Segundo Burle Marx, a Bíblia "descreve um paraíso em que havia um equilíbrio entre plantas, animais e o homem". Seu objetivo era resgatar esse paraíso perdido com o conhecimento da ecologia e da botânica. Mas o artista também achava que um jardim era algo do homem para o homem. Isso explica os objetos que posiciona em seus projetos, como este na Fazenda Vargem Grande, em Areias, São Paulo.
O longe e o perto
Influenciado pelo jardim japonês, Burle Marx introduziu os seixos no paisagismo moderno, onde criou formas e texturas que preenchia às vezes com plantas, às vezes com pedras. Para ele, o paisagismo deveria ter uma estrutura básica, o que lhe permitiu transformar seus jardins em pinturas quando observados de longe. Mas, de perto, eles assumem outras dimensões, como no Banco Safra, em São Paulo.
Arquiteto das plantas
Como aqui no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, Burle Marx introduziu a água no jardim moderno, trabalhando com grupos de plantas similares e regionais para facilitar os cuidados de manutenção. Ele também usava muros e paredes para contextualizar espacialmente os jardins, enriquecendo-os com azulejos e resgatando assim uma tradição portuguesa. Suas ideias foram copiadas em todo mundo.
O belo mais belo
Burle Marx trabalhou com os principais arquitetos de sua época. Neste projeto de Oscar Niemeyer, do início dos anos 1950, ele deixou a natureza ainda mais bela, usando a montanha como pano de fundo, agrupando plantas em texturas e cores, complementando a arquitetura. O paisagista também gostava de ver pássaros em seus jardins, atraindo-os com flores e frutos.
Cores e formas
Seu vocabulário formal, no entanto, não se restringiu a seus projetos de paisagismo. Ele se estendeu por toda sua produção criativa. Variando entre o figurativo e o abstrato, Burle Marx criou os mais diversos objetos, que também utilizava em seus jardins. Na foto, vê-se ele pintando uma toalha de mesa em seu ateliê no seu sítio em Guaratiba, em 1980. O candelabro é adornado com frutas e flores.
Plantas, joias e pedras
Formalmente, o contraste é uma das principais características do trabalho de Burle Marx. As formas desenvolvidas por ele podem ser traduzidas nos mais diversos objetos, sejam azulejos, pinturas, projetos de jardinagem ou até mesmo joias. Como neste bracelete em ouro e água-marinha que se vê na foto, desenhado provavelmente na década de 1960.
Vitrais de sinagoga
Entre os projetos não executados de Roberto Burle Marx, apresentados na mostra do Museu Judaico de Nova York, está o desenho de oito vitrais, que foram projetados em 1985 para a sinagoga Beit Yaakov, no Guarujá em São Paulo. Mais uma vez, aqui se encontra o mesmo jogo de formas e cores que caracterizou toda a obra do artista brasileiro.
Do Brasil para o mundo
A calceteria - o famoso mosaico de "pedras portuguesas" - é uma das principais características dos pisos de jardins projetados por Burle Marx nas lajes e cobertas de edifícios, bem como ao longo de calçadões, como este no Biscayne Boulevard, em Miami, nos Estados Unidos. Com pedrinhas brancas, pretas e marrons, Burle Marx deu vida a pisos antes marcados pela monotonia monocromática.
Copacabana
O projeto de renovação urbana dessa parte da orla na zona do sul do Rio de Janeiro se iniciou em 1954 com as obras do aterro do Flamengo e foi concluído em 1970 com o calçadão de Copacabana. Burle Marx foi responsável pelo projeto de paisagismo, como também pelos desenhos abstratos de calceteria que elevaram ainda mais a fama de Copacabana como a praia mais famosa do mundo.