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Cúpula UE-China trata da Ucrânia em meio a tensões

2 de abril de 2022

Presidente da Comissão Europeia afirma que China não deveria interferir nas sanções da UE à Rússia. Primeiro-ministro chinês diz que seu país faz esforços pela paz "à sua própria maneira".

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O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante a cúpula virtual
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante a cúpula virtualFoto: Olivier Matthys/Pool/REUTERS

Os principais líderes da União Europeia reuniram-se nesta sexta-feira (01/04) por videoconferência com líderes da China para discutir assuntos urgentes, incluindo a guerra na Ucrânia, a pandemia de covid-19 e as mudanças climáticas.

Participaram da cúpula o presidente chinês, Xi Jinping, o primeiro-ministro do Conselho de Estado da China, Li Keqiang, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell.

O que os dois lados disseram?

Em sua fala, Xi apelou para que a UE e a China "evitem repercussões da crise". 

Li disse que Pequim "se opõe à divisão em blocos e a tomar um lado", relatou um diplomata chinês à agência de notícias alemã DPA. Segundo a emissora estatal chinesa CCTV, ele também afirmou que a China está fazendo esforços pela paz "à sua própria maneira".

Von der Leyen afirmou: "Deixamos muito claro que a China deveria, senão apoiar, pelo menos não interferir nas nossas sanções [contra a Rússia]". Ela também disse a Pequim que o apoio à invasão russa "causaria grandes danos à reputação" da China na Europa. A chefe da Comissão Europeia afirmou ainda que a UE não tinha recebido nenhuma garantia explícita da China sobre esse assunto.

Michel acrescentou que os dois lados haviam "concordado que a guerra na Ucrânia está ameaçando a segurança global e a economia mundial". Ele também disse que "qualquer tentativa de contornar as sanções ou fornecer ajuda à Rússia prolongaria a guerra", o que "não é do interesse de ninguém a longo prazo".

A China é crítica às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia. Em uma conferência de imprensa em Pequim nesta sexta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, afirmou que, "para a China, os problemas não se resolvem através de sanções, ainda menos de sanções unilaterais e de longo prazo que não têm base no direito internacional".

Dependência mútua

A UE relatou que as conversas se concentraram na invasão russa da Ucrânia, bem como nos esforços para combater a pandemia e as mudanças climáticas. A China acabou de colocar Xangai, a maior cidade do país, em lockdown devido a preocupações com o coronavírus.

A China tem oferecido apoio político a Moscou e à narrativa de que os Estados Unidos, países europeus e a Otan seriam os responsáveis pela guerra que a Rússia está promovendo na Ucrânia. A UE discorda frontalmente dessa avaliação e espera usar sua influência e poder econômico para influenciar a China a mudar de rumo.

Daniela Schwarzer, diretora executiva da Open Society Foundations na Europa e Eurásia, disse à DW que esse conflito poderia reverberar de muitas maneiras. "Se a China se envolver nesta guerra, haverá um debate totalmente novo sobre sancionar a China, o que sairia muito caro para a Europa", afirmou. "A UE precisa da China de várias maneiras".

Os investimentos e o comércio compõem o aspecto econômico. Mas desafios globais maiores, como as mudanças climáticas, exigem a cooperação dos Estados Unidos e da China, apontou.

Interesses chineses

Joris Teer, analista chinês do Centro de Estudos Estratégicos de Haia, afirmou à DW que a forma como Pequim se posiciona em relação à guerra traz novos desafios.

"A China tem um mercado de exportação muito importante na União Europeia, do qual quer continuar a fazer uso". A cúpula foi uma oportunidade para Pequim mostrar como "tentar separar a UE dos EUA", disse.

Embora os líderes da União Europeia e da Otan tenham avisado Pequim da possibilidade de lhe serem impostas sanções se seguir ao lado de Moscou, Teer acredita que a China continuará a focar no que considera serem ameaças contra si.

"Em 2022, a China vê claramente os Estados Unidos como o principal inimigo. Os Estados Unidos prejudicam os interesses fundamentais da China, uma vez que presidentes norte-americanos consecutivos têm afirmado que a democracia liberal é o único sistema governamental legítimo. Isto torna infundadas as esperanças da UE de que a China faça uma virada significativa em direção ao Ocidente", diz.

Já Moscou, nota o analista, "apoia a China na concretização dos seus interesses fundamentais, incluindo a preservação da supremacia do partido comunista e a salvaguarda da integridade territorial, e na ajuda do crescimento econômico e social".

Qual é o estado das relações UE-China?

No momento, as relações entre a UE e a China estão tensas. No ano passado, Pequim impôs sanções contra legisladores da UE em retaliação por terem se manifestado sobre questões que Pequim considera sensíveis.

Os europeus criticaram a perseguição, pela China, da minoria uigur e dos tibetanos. Na Alemanha, empresas como a Volkswagen planejam tornar-se menos dependentes das importações chinesas.

Outra questão é a repressão do movimento democrático em Hong Kong e iniciativas para acabar com a política de longa data de "um país, dois sistemas", em troca de um modelo pró-Pequim.

A pressão contra Taiwan, que a China vê como uma ilha rebelde que pertence ao seu território, é também um ponto de grande contenda. O apoio da Lituânia, país membro da UE, a Taiwan, foi seguido de um bloqueio a produtos lituanos nos portos chineses, o que elevou as críticas da UE.

bl (AP, dpa, Reuters, DW)