Mais qualidade
5 de julho de 2008A debandada de empresas alemãs para o exterior, a fim de escapar dos altos custos trabalhistas e da onerosa carga fiscal, é um dos temas prediletos de talk shows da tevê alemã, nos quais políticos e especialistas repetem incansavelmente que o mercado do futuro é a China e que a Ásia é o continente mais atraente para investidores com visão.
Quando a tradicional empresa suábia de bichos de pelúcia Steiff recentemente anunciou que suspenderia sua produção na China até 2009, o interesse público foi grande. No dia seguinte, a Associação dos Engenheiros Alemães (VdI) divulgou uma nota à imprensa, informando que este não se trata de um caso isolado.
De acordo com um estudo encomendado pela VdI, empreendido pelo Instituto Fraunhofer, praticamente uma em cada cinco empresas que transferiram sua produção para o exterior retorna ao país após alguns anos.
E, por mais que uma em cada onze empresas ainda transfira parte de sua produção para o exterior, a tendência é regressiva. "Os números mostram que o selo Made in Germany continua sendo sinônimo de qualidade", disse Bruno O. Braun, presidente da VdI.
Exterior continua tentador
Mas nem todos confirmam tal tendência. O economista-chefe da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), Volker Treier, por exemplo, não a reconhece e considera "altos demais" os números divulgados pela VdI. Segundo ele, empresas que retornam sempre houve, e a parcela dos que voltaram se manteve relativamente estável nos últimos anos.
Treier se baseia numa pesquisa anual empreendida pela DIHK entre 8 mil empresas industriais. "A tendência de investir no exterior – o que aliás não pode ser equiparado à transferência da produção – permanece. E a China continua atraente para um terço das empresas consultadas", afirma Treier. Para ele, afirmar que "cada vez mais empresas deixam a China", como fizeram recentemente diversas publicações alemãs, é errado.
Segundo a DIHK, entre 2003 e 2007, as empresas participantes sinalizaram que havia diminuído a necessidade de transferir a produção para o exterior. No entanto, devido à alta do euro neste ano, voltou a ser interessante para empresas que comercializam produtos na zona do dólar construir unidades de fabricação neste mercado.
Decisões a curto prazo
Para a VdI, o fato de muitas empresas desistirem de suas operações no exterior muitas vezes se deve à "falta de visão" ao se tomar decisões. "O tempo de adaptação no novo ponto, o estabelecimento de uma rede de abastecimento e os custos de monitoração e controle muitas vezes não são levados em conta", avalia a associação.
Treier acrescenta que também a escolha do pessoal freqüentemente representa um problema. "Há muitas surpresas desagradáveis", alerta. No caso da China, a falta de segurança na produção é outro motivo mencionado por empresas que desistem deste mercado.
Em seu parecer, a firma Steiff declarou que deficiências na qualidade e longos percursos de transporte foram os critérios que a fizeram deixar o país. Em entrevista à imprensa, o diretor Martin Frechen argumentou que a China é "simplesmente imprevisível para produtos premium".
Além disso, o boom econômico teria causado uma enorme flutuação de pessoal, o que leva os funcionários de uma empresa a mudarem de emprego por uma diferença de 20 dólares ao ano, enquanto que a Steiff levaria até 12 meses para treinar um empregado em sua função.
Petróleo é barreira ao comércio
No futuro, também os crescentes custos de energia poderiam levar empresas a retornar à Alemanha. Na economia globalizada, fabricantes – de automóveis a computadores – simplesmente encomendam os componentes necessários para sua produção onde for mais barato. Em seguida, as peças são enviadas de navio, avião ou caminhão à unidade de montagem.
Até agora, os custos de transporte não tiveram influência. Mas, com o aumento do preço do petróleo, isso poderia se tornar um grande obstáculo ao comércio. Segundo Treier, já é possível observar tal fenômeno em vários casos, embora ainda não se possa registrar uma tendência geral.