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Calote na ordem do dia

Karl Zawadzky / sm21 de novembro de 2002

A onda de insolvências na Alemanha bate um novo recorde em 2002. A baixa conjuntura e os calotes cada vez mais freqüentes vão levar mais de 40 mil firmas à falência este ano. A situação tende a piorar em 2003 .

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Alemães devem em média 40 mil eurosFoto: DPA

A Associação Federal das Empresas de Cobrança (BDIU) da Alemanha prevê que 41.500 firmas declarem falência até o fim de 2002. Isso corresponde a um aumento de quase um terço em relação ao ano passado, em que se registraram 32.278 falências. Os prejuízos relativos a este ano somam 50 bilhões de euros. A baixa conjuntura e os freqüentes calotes atingiram sobretudo o médio empresariado, que gera o maior número de empregos. A onde de falências ocasionou neste ano o corte de 650 mil empregos.

Efeito dominó

O maior número de insolvências provém de empresas fornecedoras impossibilitadas de pagar os produtores. Mais de metade dos empresários alemães já sofreram prejuízos em decorrência da falência de algum cliente. Segundo o presidente da BDIU, Dieter Plambeck, 50% das falências foram declaradas por pequenas e médias empresas com até cinco funcionários. "A situação das grandes empresas não é tão negativa como se vem noticiando", acrescenta Plambeck. "Mas os pequenos empresários morrem em silêncio, sem poder contar com a proteção de nenhum tipo de lobby."

A principal razão das falências é o reduzido capital próprio das empresas, além de o calote estar se tornando uma prática cada vez mais comum na iniciativa privada. Em função de uma liquidez insuficiente, um número cada vez maior de empresas são obrigadas a adiar seus pagamentos, colocando outras firmas, por sua vez, em xeque.

Dinheiro na mão é vendaval

Mas não é apenas o empresariado que está falido. As dívidas dos orçamentos privados também vêm assumindo dimensões assustadoras. De acordo com as estimativas da BDIU, dois milhões de orçamentos familiares não têm condições de saldar suas dívidas. Cerca de 30 mil pessoas deverão contar com processos de insolvência privada.

Sejam despesas com decoração da casa, com carros ou férias, a tendência de endividamento não promete diminuir. Em média, a dívida de cada orçamento privado na Alemanha chega a quase 40 mil euros. Grande parte dos devedores acabaram de completar a maioridade e ainda estão em fase de formação. Para o presidente da BDIU, o exemplo positivo deveria partir da União, do estados e municípios. No entanto, lamenta Plambeck, o pior pagador é justamente o setor público, sobretudo os municípios.

Cobrança lucra com crise

A crise econômica significa alta conjuntura para as 650 empresas de cobrança da Alemanha. O faturamento anual do setor é de quatro bilhões de euros, mas os pedidos de cobrança em trâmite somam atualmente vinte bilhões de euros. Em geral, os serviços de cobrança conseguem acertar pelo menos o pagamento de dívidas em parcelas, garantindo que as empresas vejam a cor do dinheiro e os devedores não precisem declarar insolvência.

A BDIU sugere que a sociedade se una no combate ao endividamento. A associação propõe que empresários, políticos, organizações de consumidores, representantes de devedores e credores criem um pódio de discussão sobre o problema, sobretudo para conter a moda do calote.

Para Plambeck, a sociedade alemã lida com dinheiro de forma descuidada demais. Ele exige que a educação pública priorize nos currículos escolares questões de planejamento financeiro e alerte para as conseqüências do endividamento. "Só assim será possível evitar que os calotes aumentem ainda mais a longo prazo", diz Plambeck.