Campanha arrecada € 1,4 milhão para policial que matou Nahel
4 de julho de 2023Uma campanha de crowdfunding para arrecadar dinheiro para a família do policial que matou na França com um tiro à queima-roupa o adolescente Nahel M. superou 1,4 milhão de euros (R$ 7,37 milhões) nesta terça-feira (04/07), superando uma iniciativa similar para a família da vítima e atraindo a raiva de uma faixa da sociedade francesa.
O esforço de arrecadação de fundos foi lançado na plataforma americana GoFundMe pela personalidade da mídia de ultradireita francesa Jean Messiha, que apoiou a candidatura presidencial do extremista Éric Zemmour em 2022 e recebeu mais de 72 mil doações privadas.
Políticos de esquerda e de centro classificaram a arrecadação de fundos como vergonhosa enquanto a extrema direita defende a força policial, que diz ser alvo diário de violência nos subúrbios de baixa renda das cidades francesas.
O deputado Éric Bothorel, filiado ao partido de centro do presidente Emmanuel Macron, descreveu a campanha como “indecente e escandalosa". Olivier Faure, chefe do Partido Socialista, apelou à plataforma GoFundMe para encerrar a angariação de fundos.
Este é um debate que reflete as fraturas profundas que percorrem a sociedade francesa. "Este policial é vítima de uma caça às bruxas nacional, que é uma vergonha", tuitou Messiha logo após lançar o campanha. "O esforço de arrecadação de fundos é o símbolo de uma França que diz não a esta traição."
O policial foi indiciado por homicídio e está em prisão preventiva.
O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, instou o GoFundMe a dar fim à campanha. "Vocês estão perpetuando uma brecha já escancarada ao apoiar um policial sob investigação por homicídio. Acabem com isso", escreveu ele nas redes sociais.
Campanha para família de Nahel arrecada 352 mil euros
Enquanto isso, as promessas de arrecadação de fundos para a família de Nahel chegaram a 352 mil euros (R$ 1,8 milhão).
O ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, disse à rádio France Inter que todos deveriam poder doar para um crowdfunder, mas acrescentou: "Eu não acho que (Messiha) vai na direção de apaziguamento."
O assassinato ocorrido há duas semanas de Nahel, jovem de 17 anos descendente de argelinos e marroquinos, desencadeou uma violenta onda de protestos em todo o país e chocou a França.
As últimas duas noites, entretanto, transcorreram em relativa tranquilidade. A polícia fez 72 prisões durante a última madrugada, segundo o Ministério do Interior francês.
Lei para reparar danos dos protestos
O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta terça-feira uma lei urgente para reparar os danos causados pelos tumultos.
O último relatório do Ministério do Interior detalha que quase 3.500 pessoas foram presas desde então, cerca de 12.200 carros foram incendiados e cerca de 1.100 edifícios foram danificados, incluindo delegacias de polícia e escolas.
Na região de Paris, epicentro dos tumultos, o governo regional contabilizou uma centena de prédios públicos danificados e deve aprovar na quarta-feira um fundo de ajuda de 20 milhões de euros.
Segundo a autoridade regional de transportes IDFM, o impacto financeiro dos distúrbios no transporte público em Paris e seus subúrbios vai a pelo menos 20 milhões de euros.
md (Reuters, ots)