Campanha gera polêmica por lembrar slogan nazista
1 de dezembro de 2005A campanha foi criada para injetar otimismo e confiança nos alemães, mergulhados há anos em pessisimo e medo, diante da crise econômica na qual vêem uma ameaça a seu bem-estar. Planejada a um custo total de 32 milhões de euros, ela conta com o apoio de todas as grande editoras e jornais do país, bem como de 11 emissoras de televisão.
Outdoors, cartazes e spots ressaltam personalidades e feitos que – segundo seus idealizadores – deveriam despertar orgulho, identificação e espírito de comunidade, sempre acompanhados do slogan "Você é a Alemanha".
Consideradas por uns genial, ela foi, desde seu lançamento, uma pedra no sapato de outros, incomodados com seu sabor nacionalista. "Desperdício de dinheiro" e "os empresários deveriam gerar empregos, em vez de lançar apelos à população" eram alguns dos argumentos de seus críticos.
A sombra do passado
De uns dias para cá, a blogosfera alemã – que desde o início concentrou os debates sobre a campanha – passou a ferver. Uma foto em preto-e-branco, descoberta num álbum de fotografias editado em 1999 em 1200 exemplares já esgotados, mostra justamente o slogan atual numa faixa de propaganda nazista.
Tirada provavelmente em 1934 ou 1935, a fotografia mostra uma manifestação nazista na cidade de Ludwigshafen, talvez por ocasião da visita de um dos grandes do partido. Um retrato monumental de Hitler e os dizeres: "Pois você é a Alemanha".
Prato cheio para críticos
A descoberta foi um prato cheio para os críticos da campanha. Reproduzida e multiplicada na internet, a foto ganhou também as páginas de vários jornais do país.
"Não estamos nada entusiasmados", declarou Lars Cords, porta-voz da agência que coordena a campanha. Os organizadores viram-se então levados a publicar uma declaração em que asseguram condenar sem restrições o nazismo, o racismo e a ideologia neonazista.
As imagens de alguns dos spots seriam, em sua opinião, prova de que a campanha defende "valores como a dignidade humana, a democracia, o respeito pela personalidade e o pluralismo".
Com a palavra, os historiadores
A mídia saiu em busca de especialistas que dessem sua opinião. Que os dizeres na faixa dos nazistas sejam praticamente os mesmos do slogan da atual campanha é uma "analogia casual", declarou o respeitado historiador Hans Mommsen. Segundo ele, o lema não era "usual" naquela época.
Para o especialista no período nazista Hans-Ulrich Wehler, o fato de uma formulação semelhante ter sido usada décadas atrás não significa que não se possa utilizar o atual slogan. "Se não, centenas de palavras precisariam ser riscadas do vocabulário."
Diluição do indivíduo na coletividade
Seria simples demais, aistórico demais estabelecer uma linha direta entre a manifestação da década de 30 e a atual campanha, afirma também o jornal taz. Na opinião do diário berlinense, o problema básico dessa campanha é que ela dilui o indivíduo na coletividade, o que seria questionável não apenas no contexto nazista.
O blogueiro Johnny Haeusler (Spreeblick) também considera "tolo e perigoso" estabeleccer uma co-relação entre a atual campanha e o nazismo. Para ele, o atual debate deveria provocar a reflexão sobre como "estão desaparecendo os limites entre a propaganda [política] e o marketing".