Língua das ideias
28 de fevereiro de 2010Foi graças à língua alemã que Körnel Esti entrou em contato com o resto do mundo. Isto pelo menos é o que conta, de forma bastante verossímil, o escritor húngaro Péter Esterházy em seu ensaio sobre a personagem do romance de seu compatriota Dezsö Kosztolányi.
E Esti fica grato a esse idioma, apesar das tensões iniciais, até mesmo de uma rejeição declarada. Uma citação: "A língua alemã, por natureza, é duckmäuserisch – covarde, arredia –, é esta a nossa constatação. Ela é desonesta, tem intenções traiçoeiras e uma vontade dissimulada. Contra a qual é preciso defender-se".
Esti é forçado a rever essa opinião no decorrer de suas lições do idioma. Ou melhor: durante uma mesma aula, ao pegar do chão, repetidas vezes, a borracha que cai sempre debaixo da mesa, perigosamente próxima à opulenta junção perna-barriga-perna da professora. Lá, debaixo da mesa de aula, ele finalmente aprende a amar a língua alemã.
Palavras de Westerwelle
Hoje em dia 14,5 milhões de pessoas aprendem o alemão, em todo o mundo. Uma cifra considerável, mas que era 2,5 milhões superior, cinco anos atrás. O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, pretende reagir a esse retrocesso com uma campanha intitulada "Alemão, língua das ideias".
A meta declarada do chefe da diplomacia alemã é que "o maior número possível de pessoas no mundo, sobretudo jovens, aprenda o alemão. Achamos que a língua alemã é uma língua muito bonita, que não tem por que se esconder. É também uma língua que abre portas para instituições de ensino excepcionais, uma língua com a qual é possível se virar excepcionalmente bem, também na Europa".
Em vez de se perder, o idioma de Goethe deve, portanto, ganhar em significado. Para tal o ministério de Westerwelle conta com o apoio de parceiros influentes, como o Instituto Goethe, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e a Deutsche Welle. Todas essas instituições se empenham no incentivo ao ensino do alemão como idioma estrangeiro, em nível internacional.
Calendário respeitável
A agenda deste ano de campanha é imponente: uma olimpíada internacional de alemão, o congresso mundial das escolas alemãs no estrangeiro durante a Expo em Xangai, um "acampamento de vivências" para jovens, acompanhando a Copa do Mundo de Futebol na África do Sul, entre outros eventos.
Segundo Westerwelle, trata-se da língua-mãe mais falada na Europa. "Por isso seria errado se perdêssemos nossa bela língua alemã. Gostaria que ela fosse uma língua que se continuasse mesmo a utilizar oficialmente na Europa. E, acima de tudo, eu gostaria que muitos jovens também aprendessem alemão. Pois isso, aliás, é muito bom também para nós, para nossas chances de futuro, também como república alemã no exterior."
Durante o lançamento de "Alemão, língua das ideias", em Berlim, o presidente do Instituto Goethe, Klaus-Dieter Lehmann, mencionou um exemplo eloquente do potencial de seu idioma. O ator indiano Mohan Agashe começou a estudá-lo após assistir a uma apresentação do grupo berlinense Grips Theater. Agashe ficou tão fascinado pela concepção de unir humor e crítica social num formato apropriado para o público infantil, que atuou no Grips como convidado e agora pratica teatro infantil nos mesmos moldes, na Índia, unindo jovens das castas superiores e inferiores.
Enriquecimento de fora
Lehmann citou as palavras do germanista Gholam Dastgir Behbud, ativo em Cabul: "Aproximar as pessoas de um idioma estrangeiro é uma missão importante para o futuro. Os estudos germânicos no Afeganistão representam para os jovens enorme esperança e expectativa, com importantes funções e possibilidades de trabalho".
Os alunos iniciam o estudo com Behbud por almejarem um futuro, prosseguiu o presidente do Instituto Goethe. Há dois anos o professor afegão recebeu uma Medalha Goethe por seu empenho em prol dos estudos germânicos e da reconstrução da Universidade de Cabul.
Assim, nos melhores dos casos, a língua alemã pode ser um incentivo à vida. Ao mesmo tempo, com sua ajuda é possível observar a partir de novas perspectivas tudo o que se refere à cultura do país, questionar e experimentar. Uma mestra dessa arte é a escritora japonesa Yoko Tawada, residente na República Federal da Alemanha desde 1982, que sabe brincar de forma virtuosística e poliglota com a língua dos alemães. Também um enriquecimento!
Autor: Silke Bartlick (av)
Revisão: Carlos Albuquerque