Campo de detenção para imigrantes na Grécia indica aumento na xenofobia
1 de maio de 2012A Grécia abriu nesta segunda-feira (30/04), na periferia da capital, seu primeiro campo de detenção especialmente construído para imigrantes sem permissão de residência. A inauguração transcorreu a uma semana das eleições nacionais, em cuja campanha a imigração tem emergido como fator central, em meio a recessão e endividamento crônicos.
Pesquisas de intenção de voto mostram que os extremistas de direita contam com o apoio de 5% do eleitorado grego. Isso lhes garantiria assentos no parlamento pela primeira vez. Os imigrantes têm sido alvo da campanha eleitoral dos radicais.
Como recurso para conquistar votos, o partido socialista PASOK, atualmente no poder, e seu rival conservador Nova Democracia também prometem combater a imigração. Numa manifestação em Atenas, nesta segunda-feira, o ministro da Proteção Civil, Miahlis Chrysohoidis, declarou: "Estamos enviando uma mensagem em todas as direções: o país não está mais desguarnecido".
Na semana anterior, o líder oposicionista conservador Antonis Samaras declarara que deteria o que chamou de "invasão desarmada" por parte de imigrantes sem permissão.
Moradores protestam: medo da criminalidade
Segundo um porta-voz da polícia, o campo de detenção comporta até mil presos. Até o momento, várias dezenas de pessoas foram transferidas para o local e alojadas em contêineres originalmente destinados a abrigar vítimas de desastres naturais, como terremotos.
A unidade se situa em Amygdaleza, no limite norte de Atenas. Seus moradores realizaram uma série de protestos contra a inauguração, alegando que o campo contribuirá para aumentar a criminalidade no local. Segundo Panayiotis Anagnostopoulos, vice-prefeito de Acharnes, a 25 quilômetros da capital, as autoridades locais já apelaram para a Justiça, numa tentativa de sustar a inauguração do campo. "Espero que os tribunais ajam rapidamente", declarou.
Até meados de 2013, está planejada a construção no país de um total de 50 campos de detenção para imigrantes não legalizados.
Cercas e batidas
As autoridades gregas estão também erguendo uma cerca de arame ao longo de parte do Rio Evros, que faz fronteira com a Turquia e configura um importante ponto de ingresso dos imigrantes ilegais.
Nos últimos anos – desde a adoção de medidas de controle mais severas nas outras fronteiras no Mar Mediterrâneo – a Grécia se tornou o principal ponto de acesso à União Europeia para imigrantes sem papéis. A cada ano, cerca de 130 mil deles – 90% do volume total do bloco de 27 países – entram na UE através da Grécia.
Numa batida no início de abril, a polícia deteve milhares de chamados "imigrantes ilegais" que ocupavam prédios vazios em Atenas. As autoridades calculam que haja cerca de 1 milhão de imigrantes em meio à população da capital, de 11 milhões de pessoas. Atualmente estão sendo processados 30 mil requerimentos de asilo.
Extremistas em ascensão
Até pouco tempo atrás, o partido Aurora Dourada era relativamente obscuro. Nas eleições de 2009 ele conseguiu ínfimo 0,23% dos votos. Seus membros fazem saudações fascistas e preconizam responsabilizar os políticos pela crise econômica nacional, deportar os imigrantes e selar as fronteiras nacionais com minas terrestres.
Recentemente, Ilias Nicolacopoulos, professor de Ciência Política na Universidade de Atenas, advertiu para um avanço do Aurora Dourada nas pesquisas de opinião. Ele classifica o grupo como "a forma mais extrema da extrema direita".
Ketty Kehagioglou, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em Atenas, confirmou existir na Grécia "uma tendência alarmante de ataques racistas contra estrangeiros não pertencentes à UE". "Em épocas de instabilidade é sempre fácil procurar bodes expiatórios", declarou.
AV/afp/rtr/dapd/dpa
Revisão: Francis França