Carinho de Merkel gera onda de indignação e críticas
17 de julho de 2015Reem é o nome da menina palestina que vive há quatro anos na Alemanha e fala perfeitamente alemão. Ela conversou com a chanceler federal Angela Merkel durante um encontro promovido pelo governo alemão na cidade de Rostock, chamado "Viver bem na Alemanha – o que é importante para nós".
A jovem falou sobre o seu sonho de estudar e também sobre o medo de ser deportada com a família. Diante da resposta de Merkel de que nem todos podem ficar, a menina começou a chorar. Merkel continuava falando quando percebeu o choro. Ela se aproximou da menina, passou a mão sobre sua cabeça e a elogiou.
A chanceler disse que a menina havia se saído muito bem. O moderador intervém, afirmando que "se sair bem" talvez não fosse a questão. Merkel rebateu, afirmando que havia entendido isso.
A cena está disponível no Youtube e foi destaque nos telejornais alemães e nos portais de notícias do país. O vídeo se espalhou rapidamente pelas redes sociais e provocou fortes reações.
Com a hashtag #Merkelstreichelt (Merkel faz carinho), a chanceler foi alvo de inúmeras críticas e comentários irônicos no Twitter.
"Uma menina que fala cinco línguas e que numa frase mostra motivação e responsabilidade. Pelo jeito, a Alemanha não precisa dela…"
"Dizer para uma menina, na frente da câmera, que o destino dela pouco te interessa – simplesmente vergonhoso."
"Você se saiu muito bem" – eu acho que enlouqueci [não acredito no que ouvi]. Sem coração. Descarado. Desumano. Pérfido."
"Sra. Merkel não é a 'mamãe', mas simplesmente dura e sem sentimentos."
"Ao dizer que ela 'colocou muito bem a situação em que se pode chegar', ela [Merkel] quis dizer que ela [a menina] ajudou muito bem a espantar [outros imigrantes]."
"Nem venham para cá! Nós vamos é destruir seus sonhos, deportar vocês, e aí vocês ficam chorando e eu faço carinho."
O apresentador de televisão Jan Böhmermann, do talk show Neomagazin Royale, não perdeu a oportunidade de contribuir com humor mordaz.
"Cinco coisas que despertam mais empatia que Merkel: uma caixa de luz, um robô de fábrica, um melão, um mixer de cozinha, um canivete."
O blogueiro Sascha Lobo aparentemente não vê muita sensibilidade na chanceler. Para ele, a simpatia de Merkel cabe num disquete.
"Merkel: suas aparições públicas mais cheias de empatia – 1992 a 2015, em HD – Finalmente lançada a Coleção Merkel em vídeo."
Políticos também se expressaram pelo Twitter com a hashtag #Merkelstreichelt. A política Katrin Göring-Eckardt, do Partido Verde, aproveitou a controvérsia para reforçar as críticas à política do governo para refugiados.
"Os erros do governo na política para refugiados não podem ser apagados passando a mão."
Na página oficial do projeto "Viver bem na Alemanha", o governo alemão descreve "a menina chorou e enxugou as lágrimas com um lenço". Antes estava escrito "de tanta emoção, a menina acabou chorando". O jornalista Richard Gutjahr criticou o governo alemão por ter modificado o site após as reações indignadas nas redes sociais.
"Em vez de #Merkelfazcarinho, Merkel faz cortes."
O jornal conservador Franfurter Allgemeine Zeitung criticou na sua versão online que o vídeo do programa NDR Aktuell não mostra tudo o que aconteceu porque foi editado. Mas o vídeo oficial do governo não melhora a situação.
"#Merkelfazcarinho na menina perto de ser deportada? O vídeo da NDR dá uma ideia falsa"
"Isso melhora as coisas, caro @FAZ_Politik? Seguindo o raciocínio 'se você tivesse vindo da Síria, estaria mais ameaçada e poderia ficar'?"
"Vi o original. Não, ele não dá [uma ideia falsa]."
Mas há também pessoas que se solidarizam com Merkel.
"Eu acho a crítica a #Merkelstreicht totalmente sem substância. Quem vê o vídeo original também vai..."
"Vocês são maldosos."
Uma questão que muitos se colocam fica sem resposta: como a chanceler deveria ter se comportando numa situação como essa?
"Para todos que fazem piada com #Merkelstreichelt: o que exatamente a chanceler poderia ter feito melhor nessa situação?"
"Vocês que estão falando que a situação é 'nojenta' deveriam limpar a espuma da boca. Nessa situação ela só poderia perder."
A NDR colocou no seu site uma versão não editada (assista) do vídeo. Para muitos usuários das redes sociais, no entanto, isso não muda nada. Eles continuam criticando Merkel pelo seu comportamento com a estudante Reem.