Carnaval de Colônia está cada vez mais político
20 de fevereiro de 2020"Um nariz de papelão no rosto, um quipá na cabeça: Shalom Alaaf Shalom!
Seja cristão ou judeu – hoje, todos somos loucos.
Hevenu Shalom Alechem – Queremos paz."
(trecho da música Shalom Alaaf)
Composta por Rolly Brings, um veterano da cena musical de Colônia, no noroeste da Alemanha, a canção "Shalom Alaaf" é dedicada à primeira associação carnavalesca judaica na cidade: a Kölschen Kippa-Köpp, fundada em 2017 e que já se tornou um símbolo contra o racismo e discriminação no carnaval de Colônia.
Para o músico, a fundação deste tipo de associação carnavalesca é "maravilhosa e correta". "Os judeus de Colônia não se isolam e atuam publicamente junto com outros grupos do carnaval da cidade, depois de muito, muito tempo", afirmou Brings à DW.
Brings, que nas últimas décadas escreveu músicas sobre a perseguição e o assassinato de judeus em Colônia, quer olhar para o futuro. "Era hora de escrever uma canção para nós e para os homens e mulheres judeus que vivem conosco. Uma música que nos encoraja a lutar juntos pelo amor e pela vida numa democracia multicolorida, viva e liberal e, assim, mostrar aos antissemitas e extremistas de direita que eles não têm chance contra nós, democratas."
Segundo ele, o carnaval de Colônia é o palco mais adequado para esse posicionamento. E Brings não é o único que pensa desta maneira. Cada vez mais, um maior número de músicos da cidade está levando mensagens claras à festa. Entre eles, estão os filhos de Brings, Peter e Stephan, que não só animam os bailes de carnaval com sua banda de rock chamada "Brings", mas também trazem textos diretos.
Com um cantor negro, uma banda recém-formada está fazendo sucesso com a música "Heimat" (Pátria, em alemão), que lembra que pessoas de cor também podem ser genuínas de Colônia. Já a comediante Carolin Kebekus e sua banda feminina Beerbitches gritam em voz alta "deixem-me em paz" àqueles que entonam lemas de extrema direita.
O coletivo de músicos e ativistas AG Arsch Huh criticam na música "Su läuf dat he" o uso de canções de Colônia sobre pátria e união pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), pelo movimento xenófobo e anti-islã Pegida e por outros grupos de extrema direita em seus eventos. A música do grupo é uma das mais populares no carnaval deste ano.
Lemas cada vez mais políticos
O atual desenvolvimento não surpreende Rolly Brings."Nas últimas décadas, estabeleceu-se em Colônia uma cena musical que reage de forma extremamente sensível a acontecimentos sociais, que sempre têm impactos políticos e na sociedade. É óbvio que muitas e até bandas muito populares façam declarações claras contra o fascismo, xenofobia, racismo e antissemitismo".
Mas como isso é recebido pelas associações carnavalescas oficiais? A certa rigidez dos clubes tradicionais está mudando há alguns anos. Eles também estão rejuvenescendo e precisam das bandas de Colônia em seus eventos. Assim, são convidados os artistas que se posicionam politicamente de forma aberta, o que dá a essas associações uma aparência mais jovem e moderna.
Todo ano, o carnaval de Colônia ganha um novo lema. Na maioria das vezes, ele é inofensivo, como "Nós, de Colônia, dançamos fora da linha" ou o atual "O nosso coração bate em nosso bairro". O filho de Rolly Brings, Peter, sugeriu para o próximo ano um mote mais político: "Nenhuma Kölsch [cerveja típica da região] para nazistas".
O lema não é novo e foi usado por donos de bares e profissionais da área cultural de Colônia em 2008, quando os extremistas de direita anunciaram suas marchas na cidade. O slogan, que ainda hoje é visto em muitos bares, também se espalhou quando a conferência do partido AfD foi realizada na cidade, em 2017.
Muitos apoiaram a proposta de Peter Brings, mas ela é obviamente um pouco progressista demais para as autoridades. Segundo o comitê do carnaval de Colônia, embora a ideia seja boa, eles não querem ser empurrados numa direção política com tal lema.
Mas o carnaval é político, como é visto todos os anos nos carros alegóricos que participam dos desfiles que acontecem na Rosenmontag (Segunda-feira de Carnaval). Brings considera um lema claro contra o nacionalismo, a xenofobia e o antissemitismo e que, ao mesmo tempo, promove a tolerância e uma convivência multicolorida um "bom, correto e importante sinal", não somente na Alemanha, mas para todo o mundo.
Para o músico, o grande evento social carnaval é exatamente o lugar certo para enviar um sinal contra as novas e antigas ideias nazistas. "Nós, a família Brings, não esquecemos para onde elas levaram: ditadura, terror, guerra e assassinatos em massa."
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