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Carnaval de Colônia está cada vez mais político

Silke Wünsch fc
20 de fevereiro de 2020

Músicos da cidade alemã dão sinais claros contra o extremismo de direita e o antissemitismo. Neste ano, uma canção é dedicada a um clube carnavalesco judaico e algumas combatem abertamente os ideais nazistas.

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Carro alegórico critica escândalo de emissão de gases de automóveis no carnaval de Colônia, em 2019
Carro alegórico critica escândalo de emissão de gases de automóveis no carnaval de Colônia, em 2019Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg

"Um nariz de papelão no rosto, um quipá na cabeça: Shalom Alaaf Shalom!
Seja cristão ou judeu – hoje, todos somos loucos.
Hevenu Shalom Alechem – Queremos paz."
(trecho da música
Shalom Alaaf)

Composta por Rolly Brings, um veterano da cena musical de Colônia, no noroeste da Alemanha, a canção "Shalom Alaaf" é dedicada à primeira associação carnavalesca judaica na cidade: a Kölschen Kippa-Köpp, fundada em 2017 e que já se tornou um símbolo contra o racismo e discriminação no carnaval de Colônia.

Para o músico, a fundação deste tipo de associação carnavalesca é "maravilhosa e correta". "Os judeus de Colônia não se isolam e atuam publicamente junto com outros grupos do carnaval da cidade, depois de muito, muito tempo", afirmou Brings à DW.

Brings, que nas últimas décadas escreveu músicas sobre a perseguição e o assassinato de judeus em Colônia, quer olhar para o futuro. "Era hora de escrever uma canção para nós e para os homens e mulheres judeus que vivem conosco. Uma música que nos encoraja a lutar juntos pelo amor e pela vida numa democracia multicolorida, viva e liberal e, assim, mostrar aos antissemitas e extremistas de direita que eles não têm chance contra nós, democratas."

Segundo ele, o carnaval de Colônia é o palco mais adequado para esse posicionamento. E Brings não é o único que pensa desta maneira. Cada vez mais, um maior número de músicos da cidade está levando mensagens claras à festa. Entre eles, estão os filhos de Brings, Peter e Stephan, que não só animam os bailes de carnaval com sua banda de rock chamada "Brings", mas também trazem textos diretos.

Com um cantor negro, uma banda recém-formada está fazendo sucesso com a música "Heimat" (Pátria, em alemão), que lembra que pessoas de cor também podem ser genuínas de Colônia. Já a comediante Carolin Kebekus e sua banda feminina Beerbitches gritam em voz alta "deixem-me em paz" àqueles que entonam lemas de extrema direita.

O coletivo de músicos e ativistas AG Arsch Huh criticam na música "Su läuf dat he" o uso de canções de Colônia sobre pátria e união pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), pelo movimento xenófobo e anti-islã Pegida e por outros grupos de extrema direita em seus eventos. A música do grupo é uma das mais populares no carnaval deste ano.

Cartaz com lema "Nenhuma Kölsch para nazistas" em Colônia
"Nenhuma Kölsch para nazistas": lema é usado contra extremistas de direita em ColôniaFoto: Reuters/W. Rattay

Lemas cada vez mais políticos

O atual desenvolvimento não surpreende Rolly Brings."Nas últimas décadas, estabeleceu-se em Colônia uma cena musical que reage de forma extremamente sensível a acontecimentos sociais, que sempre têm impactos políticos e na sociedade. É óbvio que muitas e até bandas muito populares façam declarações claras contra o fascismo, xenofobia, racismo e antissemitismo".

Mas como isso é recebido pelas associações carnavalescas oficiais? A certa rigidez dos clubes tradicionais está mudando há alguns anos. Eles também estão rejuvenescendo e precisam das bandas de Colônia em seus eventos. Assim, são convidados os artistas que se posicionam politicamente de forma aberta, o que dá a essas associações uma aparência mais jovem e moderna.

Todo ano, o carnaval de Colônia ganha um novo lema. Na maioria das vezes, ele é inofensivo, como "Nós, de Colônia, dançamos fora da linha" ou o atual "O nosso coração bate em nosso bairro". O filho de Rolly Brings, Peter, sugeriu para o próximo ano um mote mais político: "Nenhuma Kölsch [cerveja típica da região] para nazistas".

O lema não é novo e foi usado por donos de bares e profissionais da área cultural de Colônia em 2008, quando os extremistas de direita anunciaram suas marchas na cidade. O slogan, que ainda hoje é visto em muitos bares, também se espalhou quando a conferência do partido AfD foi realizada na cidade, em 2017.

Muitos apoiaram a proposta de Peter Brings, mas ela é obviamente um pouco progressista demais para as autoridades. Segundo o comitê do carnaval de Colônia, embora a ideia seja boa, eles não querem ser empurrados numa direção política com tal lema.

Mas o carnaval é político, como é visto todos os anos nos carros alegóricos que participam dos desfiles que acontecem na Rosenmontag (Segunda-feira de Carnaval). Brings considera um lema claro contra o nacionalismo, a xenofobia e o antissemitismo e que, ao mesmo tempo, promove a tolerância e uma convivência multicolorida um "bom, correto e importante sinal", não somente na Alemanha, mas para todo o mundo.  

Para o músico, o grande evento social carnaval é exatamente o lugar certo para enviar um sinal contra as novas e antigas ideias nazistas. "Nós, a família Brings, não esquecemos para onde elas levaram: ditadura, terror, guerra e assassinatos em massa."

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