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Carta aberta do empresariado é bem-vinda: por que tão tarde?

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
1 de abril de 2021

Pela primeira vez, investidores e empresários exigiram que Bolsonaro tomasse medidas efetivas contra pandemia. Colunista questiona, porém, a demora em perceber como o governo destrói o futuro do país.

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Macas, pacientes e enfermeiros em hospital improvisado
Ginásio esportivo transformado em hospital em Santo André, SPFoto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images

A carta aberta da elite econômica do Brasil, publicada em 21 de março, provocou algum movimento. Com a conclamação "O país exige respeito; a vida necessita da ciência e do bom governo", investidores financeiros, economistas e empresários reivindicaram pela primeira vez medidas efetivas contra a pandemia de covid-19, assim como apoio social.

Parece que o apelo no Congresso provocou um despertar: pouco depois, os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados endureceram o tom de suas críticas a Jair Bolsonaro – o qual súbito se apresenta como partidário convicto das vacinas e desde então usa máscara. Daí para cá, contudo, muito mais não aconteceu. A formulação da carta é também antes inofensiva, não contendo uma só palavra de crítica direta à pessoa de Bolsonaro.

As exigências são espantosamente óbvias: os signatários querem vacinação o mais rápido possível, incentivo público ao uso de máscaras, assim como medidas de distanciamento social. Além disso, a luta contra a pandemia deveria ser colocada sob coordenação nacional.

A rigor, se poderia dizer que se trata do padrão mínimo de combate a um vírus, nada mais. Entretanto, após um ano em que o presidente negou o novo coronavírus e impediu medidas de gestão de crise, tais reivindicações são quase revolucionárias para o Brasil.

Da dependência à conivência

Ainda assim, cabe perguntar: por que essa carta só vem agora? Até poucas semanas ou meses atrás, os investidores empresários estavam convencidos de que o governo federal fazia um bom trabalho na pandemia? Parece que sim.

Segundo uma enquete da Datafolha, em meados de março os empresários ainda contavam entre os principais apoiadores do presidente: 55% deles consideraram bons o governo Bolsonaro e suas medidas na pandemia – de um total de 30% da população.

A até então ausência de crítica ao governo se explica, em parte, pelo fato de 40% da economia brasileira depender do Estado – um poder com que empresários e investidores preferem não se meter. Muitos deles são dependentes de financiamento, proteção de mercado e encomendas públicas. E o Brasil não é caso isolado, o mesmo se dá em outros países.

Contudo, empresários e investidores bem sucedidos são, por definição, excelentes em prever o futuro, senão não teriam tanto êxito. Entre os atuais cerca de 1.500 signatários da carta aberta encontram-se numerosos ícones do empresariado brasileiro.

Mas será que ainda há banqueiros e investidores financeiros que acham mesmo que Bolsonaro também está liderando muito bem a economia? Por que, até agora, foi tão raro representantes da elite econômica manifestarem desagrado com a radical política bolsonarista para o meio ambiente e a educação, ou com sua tática de terra queimada na ciência e pesquisa?

Pois aí o presidente está destruindo o futuro do Brasil, e de propósito. Se crianças e jovens têm uma formação ruim, se o meio ambiente é destruído em nome de lucros efêmeros, isso prejudica de forma duradoura as condições de produção no país.

O médico e autor Drauzio Varella diz achar certas e boas as exigências dos empresários, porém questiona: "Tem um problema de timing, um ano para fazer isso?"

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.