Cavalos selvagens estão extintos, diz estudo
23 de fevereiro de 2018Todos os cavalos selvagens do mundo estão extintos, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (22/02) na revista Science. Com base em análise genética, os pesquisadores constataram que uma raça de cavalos da Mongólia, considerada a única selvagem do mundo, é formada na verdade por animais domesticados que escaparam de seus donos.
O estudo, que envolveu 47 pesquisadores de 28 instituições de diferentes países e traz o resultado da análise do DNA de 88 cavalos antigos e modernos, mudou completamente o que se conhecia da história dos cavalos.
Os cavalos-de-Przewalski, que habitam o deserto da Mongólia, eram tidos até então como a única espécie selvagem ainda existente. No entanto, a partir da comparação entre os genomas, os cientistas identificaram que essa espécie de cavalo é descendente dos botai, espécie domesticada há cerca de cinco mil anos na região que hoje corresponde ao norte do Cazaquistão.
Considerada espécie em risco de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza, hoje ainda existem cerca de dois mil cavalos-de-Przewalski. Desde a década de 60, foram realizados programas de reprodução da espécie e reintrodução ao habitat natural, caso contrário, esses números seriam ainda menores.
"O mundo já tinha perdido seus cavalos realmente selvagens há centenas ou até milhares de anos atrás. Porém, só ficamos sabendo disso agora, com os resultados deste estudo”, declarou Sandra Olsen, coautora da pesquisa pela Universidade do Kansas.
E as descobertas impactantes não param por aí: os cientistas chegaram à conclusão de que a origem dos cavalos domesticados modernos – diferente do que se pensava - é desconhecida.
Isso porque as mais recentes teorias afirmavam que as raças domésticas modernas provinham justamente dos cavalos botai, mas o estudo mostrou que elas pertencem a uma árvore genealógica completamente diferente.
Ou seja, os cavalos botai são ancestrais dos cavalos-de-Przewalski, mas não, dos cavalos adestrados modernos.
"É a primeira vez na minha vida que me ocorre algo assim. É como se, de repente, descobríssemos que o ser humano não provém de onde acreditamos.", afirmou Ludovic Orlando, diretor da equipe e integrante do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) da França.
Conhecer a linha evolutiva dos cavalos é importante, pois ela também conta parte da história da humanidade. Até a invenção do motor a vapor - que permitiu o surgimento do trem e, mais tarde, do carro - o cavalo foi o principal meio de transporte do homem.
Porém, de acordo com Orlando, "é quase impossível ter acesso aos primeiros períodos da domesticação analisando os genomas de cavalos modernos”. A razão disso foi demonstrada em pesquisa divulgada em 2017 por sua equipe.
Ao longo da história, o ser humano selecionou e cruzou os melhores equinos segundo os diferentes usos que seriam feitos do animal, fazendo com que hoje haja pouca variação genética entre os cavalos adestrados.
Segundo Orlando, o caminho para remontar a ancestralidade dos cavalos modernos pode estar em sítios arqueológicos da Ásia Central, do sul da Rússia ou da Espanha.
RG/dpa/ efe/rtr/afp
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