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Cessar-fogo é respeitado e vida em Gaza começa a voltar ao normal

Andreas Noll22 de novembro de 2012

A Faixa de Gaza amanheceu tranquila pela primeira vez desde a retomada do conflito entre Israel e Hamas. Cessar-fogo marca triunfo da diplomacia egípcia. ONU pede que trégua seja respeitada.

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Foto: Reuters

Nesta quinta-feira (22/11), os moradores da Faixa de Gaza aproveitaram os primeiros momentos de paz para limpar as ruas e reparar de danos causados pelos oito dias de ataques israelenses. Trabalhadores consertavam linhas de energia danificadas e juntavam lixo acumulado nas esquinas. Durante a madrugada, os moradores do enclave festejaram o cessar-fogo anunciado à noite. Tiros e fogos de artifício riscaram o céu. Algumas pessoas agitaram as bandeiras verdes do grupo radical palestino Hamas, que controla Gaza, enquanto outros empunhavam a bandeira do Egito, em homenagem ao papel desempenhado pelo país nas negociações.

Cinco israelenses, incluindo um militar, morreram pelos mísseis disparados por ativistas do Hamas. Já as autoridades de Saúde de Gaza contabilizaram 162 palestinos mortos, mais da metade deles, civis, incluindo 37 crianças e 11 mulheres. Esse foi o pior derramamento de sangue desde a invasão israelense de Gaza, quatro anos atrás, quando centenas de pessoas foram mortas. O conflito foi provocado após um ataque israelense ter matado um alto comandante do Hamas no dia 14 de novembro.

O acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas foi mantido por ambos os lados nas primeiras horas de quinta-feira. Só pouco depois do anúncio da trégua, 12 foguetes ainda atingiram o sul de Israel, segundo informações da polícia local, mas ninguém ficou ferido.

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Palestinos comemoraram trégua nas ruas da Faixa de GazaFoto: Reuters

Israel prende supostos terroristas na Cisjordânia

Nesta quinta-feira, o Exército israelense anunciou a detenção de 55 palestinos na Cisjordânia por "atividades terroristas", poucas horas depois da entrada em vigor do cessar-fogo. Os palestinos detidos são acusados de envolvimento em "atividades terroristas e violentas na Cisjordânia", informa um comunicado do Exército israelense. O texto afirma que os detidos pertencem a diferentes organizações.

O presidente dos EUA, Barack Obama, agradeceu ao presidente do Egito, Mohammed Morsi, por seu esforço de mediação entre israelenses e palestinos. Ele elogiou, num comunicado da Casa Branca, em particular o "engajamento pessoal" egípcio. Além disso, Obama ressaltou a "forte parceria" entre Washington e Cairo.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) pediu que Israel e Hamas levem o cessar-fogo a sério. Além disso, a entidade pediu esforços conjuntos da comunidade internacional para disponibilizar "ajuda adicional" ao povo de Gaza. O Conselho de Segurança também elogiou Morsi por seu papel de mediação.

Israel e Hamas entraram em acordo para um cessar-fogo na quarta-feira, sob mediação do Egito. De noite, o ministro do Exterior egípcio, Mohammed Amr, anunciou o acordo no Cairo, ao lado da secretária de Defesa dos EUA, Hillary Clinton.

Acordo foi surpresa

Após tentativas de mediação terem falhado no dia anterior, tudo parecia apontar para um fracasso. Pois desde o início os mediadores enfrentavam como barreira o fato de os dois lados se culparem mutuamente pela responsabilidade do início das hostilidades. Meir Elran, analista no Instituto para Estudos de Segurança Nacional, de Israel, acredita que Israel tinha bons motivos para atacar Gaza pois, segundo ele, os ataques do Hamas tinham ficado mais frequentes nos últimos meses. "Nos últimos meses, eles se intensificaram de tal modo, que era impossível para nós não reagir", afirmou, em entrevista à DW.

Tal parecer não é compartilhado pelo ativista palestino pela democracia Mustafa Barghouti. Ele lembra que nos últimos dois anos e meio a três anos houve uma trégua completa entre Israel e a Faixa de Gaza. Em entrevista à DW, ele afirma que em 12 de novembro, egípcios, palestinos e israelenses chegaram a um acordo para um cessar-fogo. "Ahmed al-Jabari, o chefe militar do Hamas, assinou o acordo. Mas dois dias depois, Israel matou o homem que tinha assinado o cessar-fogo. Isso foi que provocou esta espiral de violência."

Táticas políticas dos dois lados

"É muito difícil definir com precisão o início da violência", pondera o geógrafo alemão Günter Meyer, diretor do Centro para Estudo do Mundo Árabe, sediado em Mainz. Ele afirma que tudo depende do ponto escolhido para se iniciar a cronologia das agressões. Segundo o analista, ambos os lados agiram movidos por interesses políticos internos. Netanyahu queria usar a guerra para sua campanha eleitoral, tentando, na opinião do especialista, provocar deliberadamente o Hamas, para que o grupo disparasse foguetes contra Israel. "Com isso, ele pôde se apresentar como um defensor dos interesses de Israel", opina, acrescentando que o Hamas também lucrou com a guerra, obtendo grande apoio do mundo árabe, especialmente de Catar e Egito.

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Palestino carrega filho de 11 meses, morto em ataqueFoto: Reuters

O especialista alemão atribui a atual trégua ao medo de ambas as partes de que a guerra provoque mais vítimas. Netanyahu compreendeu que seus compatriotas o apoiam, mas recusam o uso de tropas terrestres. Isso abriu caminho para o acordo. "Por razões eleitorais, Netanyahu não tinha interesse que também o lado israelense sofresse com mais mortes." Além disso, Meyer lembra que o chefe de governo israelense sofreu pressão dos Estados Unidos, parceiro mais importante de Israel.

Abertura de fronteiras

O acerto prevê, inicialmente, uma suspensão de todos os ataques, seguida de negociações para um cessar-fogo permanente. Também as passagens de fronteira com a Faixa de Gaza devem ser abertas novamente em breve. O objetivo é simplificar a passagem de mercadorias e pessoas pela fronteira. A região tem sofrido há anos com um bloqueio imposto por Israel. O acordo deve ser monitorado pelo Egito.

O presidente do Irã saudou o cessar-fogo, mas expressou reservas sobre sua eficácia, segundo informações de uma estação de televisão do Paquistão. "O presidente [Mahmoud] Ahmadinejad disse que a crueldade em Gaza deve unir os muçulmanos. Ele disse que saúda o cessar-fogo entre o Hamas e Israel, mas parece não estar muito otimista", comunicou um âncora da estação.

O Irã é aliado do Hamas. O líder exilado do Hamas, Khaled Meshaal, agradeceu ao Irã na quarta-feira pelo fornecimento de armas e verbas. Ahmadinejad está em Islamabad para participar de uma cúpula de países em desenvolvimento.

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Clinton e líder egípcio, Mursi: Cairo foi decisivo em negociaçãoFoto: Reuters

Mediação egípcia foi importante

O cessar-fogo marca um triunfo da diplomacia egípcia, pois poucas horas antes do anúncio do acordo, tudo indicava que ambos os lados ainda continuariam se combatendo com dureza ainda maior.

A tática do Hamas foi similar, conforme ressalta Günter Meyer. Depois de ter recebido considerável apoio de grande parte do mundo árabe, a organização também começou a temer uma escalada da violência − especialmente por razões políticas internas. "O Hamas não tem interesse em perder o apoio popular devido a mais perdas de vidas na população civil."

Outro fator importante foi o trabalho dos mediadores. A afinidade ideológica entre o Hamas e a Irmandade Muçulmana criou confiança, segundo o analista alemão, permitindo que o Hamas reconhecesse o presidente egípcio como mediador. Mursi, por sua vez, tinha que corresponder às expectativas dos EUA, país que vem apoiando o Egito financeiramente de forma maciça.

MD/dw/afp/lusa/rtr/dapd
Revisão: Carlos Albuquerque