Champions League e a hora da verdade para o futebol alemão
18 de fevereiro de 2020Coincidência ou não, os três clubes que representam o futebol alemão na Champions League também disputam palmo a palmo o título da Bundesliga na atual temporada. Bayern, Leipzig e Dortmund começam a fase do mata-mata do torneio de clubes mais prestigiado do futebol mundial com a missão de encerrar o jejum de sete anos sem um título europeu.
Foi em 2013 que bávaros e aurinegros se encontraram em Londres para definir quem ergueria o caneco orelhudo. No caso, a sorte sorriu para o Bayern, que pôde, com todos os méritos, comemorar a tríplice coroa. Desde então, o mais longe que um representante do futebol alemão conseguiu chegar na Champions foi à fase semifinal, em quatro oportunidades, e isso sempre com o gigante da Baviera.
No ano passado, ocorreu o maior vexame alemão desde 2006. Bayern e Dortmund não passaram nem pelas oitavas de final, dando adeus às suas pretensões após terem sido derrotados por Liverpool e Tottenham, respectivamente. A expectativa é que desta vez tudo possa ser diferente.
Vamos por partes, a começar pelo Leipzig, cujas pretensões naturalmente são mais modestas. De todo modo, fez uma boa campanha na fase de grupos, na qual acabou ficando em primeiro lugar, à frente de Lyon, Benfica e Zenit St. Petersburg.
Com Julian Nagelsmann, o Leipzig tem um técnico jovem e competente, mas o time vez por outra sofre assustadoras quedas de rendimento. Foi eliminado nas oitavas de final da Copa da Alemanha pelo Frankfurt e, na Bundesliga, atravessa uma fase irregular (uma derrota, dois empates e uma vitória), que lhe custou a liderança na tabela do campeonato.
Acrescente-se à essa momentânea montanha-russa de altos e baixos do time o atual mau desempenho de Timo Werner, seu principal artilheiro, que não marcou um golzinho sequer nas últimas cinco partidas. Pelo menos o Leipzig poderá decidir a sua passagem para a próxima fase em casa, já que o primeiro confronto com o Tottenham será em Londres. Até lá, quem sabe Werner finalmente desencante e volte a ser o artilheiro que a torcida está acostumada a ver em campo.
O Borussia Dortmund, por sua vez, não tem conseguido repetir a boa performance de 2013, quando chegou a disputar o título na final com o Bayern. Desde então, seu melhor resultado foi obtido em 2017, ano em que deu adeus à competição apenas nas quartas de final, ao ser eliminado pelo Mônaco.
Na atual campanha, o Dortmund acabou se classificando com uma pequena ajuda do Barcelona na última rodada da fase de grupos. Os catalães venceram a Inter de Milão e, com a vitória, deram de bandeja e de mão beijada a classificação aos aurinegros.
Na Bundesliga, o Dortmund ostenta o ataque mais eficiente, com 63 gols marcados em 22 jogos. São quase três gols, em média, por partida. Os comandados de Lucien Favre esbanjam poderio ofensivo, mas, por outro lado, sobram problemas na defesa. Foram 32 gols sofridos até agora, e fica difícil imaginar como um setor defensivo composto por zagueiros lentos na recuperação e, em parte, envelhecidos, possam fazer frente às insinuantes investidas do trio atacante formado por Cavani, Mbappé e Neymar.
Se para o Leipzig e o Dortmund passar à fase seguinte do mata-mata representa um feito considerável, para o Bayern de Munique o objetivo mínimo é chegar pelo menos à semifinal, assim como tem sido na maioria das últimas temporadas. Os bávaros fizeram uma campanha impecável na fase de grupos, com seis vitórias em seis jogos. Foi a primeira vez na história da Champions que um time alemão obteve 100% de aproveitamento ao conquistar todos os 18 pontos em disputa.
O Bayern vai enfrentar the Blues, revivendo a traumática final de 2012, quando, em plena Allianz Arena, a equipe londrina do Chelsea acabou levando a melhor sobre os bávaros na decisão por cobrança de penalidades máximas.
O time de Munique está embalado e acumula oito partidas sem perder na Bundesliga (sete vitórias e um empate), além de se classificar às quartas de final da Copa da Alemanha – na qual marcha rumo ao seu 20º título, já que seus principais concorrentes, a saber Dortmund e Leipzig, já foram alijados do torneio.
Hansi Flick, o treinador que assumiu o comando técnico depois da demissão de Niko Kovac, conseguiu dar um padrão de jogo do tipo Bayern Like: marcação alta, intensidade ofensiva, ocupação de espaços, triangulações precisas, posse de bola produtiva e, acima de tudo, exploração máxima do potencial dos talentos individuais.
Não bastasse isso, contundidos de longa data, como Hernández, Coman e Tolisso, estão de volta ao elenco, aliviando consideravelmente as dores de cabeça da comissão técnica para escalar sem maiores improvisos o setor defensivo.
No frigir dos ovos, a tarefa mais difícil, do tipo "missão impossível", ficou para o Borussia Dortmund. Passar pelo Paris Saint-Germain, do técnico Thomas Tuchel e com seu elenco estelar, convenhamos, não é mole.
O Leipzig, por sua vez, com uma pitada de sorte, pode passar pelo Tottenham, especialmente se obtiver um resultado razoável em Londres (empate ou derrota por um gol de diferença) para que possa decidir sua classificação no jogo de volta em casa.
Do Bayern se espera que faça a sua lição, seja em Londres ou na sua própria casa. Se fizer, a sua torcida terá o gostinho do doce sabor da vingança por 2012 e poderá continuar sonhando com o sexto título da Copa dos Campeões.
No cenário internacional, a hora da verdade está chegando para esses três maiores representantes do atual futebol alemão. Daqui a um mês, ao final dessa fase das oitavas, vamos saber quem passou e quem ficou pelo caminho. Estarei por aqui para comentar.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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