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Checkpoint Berlim: Saudades da Alemanha Oriental

16 de dezembro de 2016

Feira em Berlim reúne há 25 anos nostálgicos pela antiga Alemanha Oriental. Nela, visitantes encontram, além de produtos da RDA, lembranças de um tempo que não existe mais.

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Imagem de 1981 mostra supermercado em Leipzig
Imagem de 1981 mostra supermercado em LeipzigFoto: picture-alliance/akg-images

Há 26 anos, a República Democrática Alemã (RDA) morria com a reunificação da Alemanha. Na época, a mudança foi recebida com júbilo por muitos. Era o início de uma nova era, sem os vícios do antigo sistema. Uma era de liberdade e possibilidades infinitas. O tempo passou, e muitas das expectativas iniciais não deixaram de ser expectativas. No decorrer dos anos, um sentimento de frustração e saudade tomou conta de alguns.

Esse sentimento ganhou até um nome em alemão: Ostalgie, ou seja, a nostalgia pela Alemanha Oriental. Em Berlim, essa sensação se faz bastante presente por sua posição geográfica e história. A cidade dividida pelo muro foi o centro do poder da antiga RDA. E na antiga capital socialista, há 25 anos, uma feira oferece aos saudosistas os produtos preferidos daquela época.

Com duas edições anuais, a Ostpro reúne o melhor de produtos e especialidades típicas da RDA, inclusive os pepinos em conserva da região de Spreewald, que ficaram famosos graças ao filme Adeus, Lênin!.

Mas a feira, que parece exótica e divertida, tem um ar melancólico. No início deste mês, ocorreu a última edição da Ostpro do ano. O local que a recebeu foi o SEZ, um antigo ginásio esportivo da RDA, cujos dias de glória passaram há décadas. Filas de visitantes aguardavam para entrar no complexo cor-de-rosa desbotado, que revelava uma decadência de partir o coração.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

A impressão exterior se repete dentro do ginásio, com paredes rachadas, teto caindo aos pedaços e pintura encardida. Porém, minha maior surpresa foi com o público. Esperava encontrar muitos turistas e curiosos ansiosos por raridades e produtos especiais.

Mas não: a grande maioria dos frequentadores era idosos da antiga Alemanha Oriental, que se acumulavam em frente aos estandes que vendiam licor de ovo, bolo-árvore, salame de cavalo e, é claro, pepinos do Spreewald.

Não que esses produtos sejam difíceis de encontrar nos mercados, mas, na feira, eles estavam ali reunidos, quase como uma viagem no tempo, eles traziam lembranças de uma época que não existe mais, porém, que deixou saudades. E, assim, iam para casa com sacolas cheias de pequenas alegrias.

A feira acompanhou as transformações ao longo de seus anos. Ela não é mais exclusivamente voltada a produtos da antiga RDA. A globalização lhe pegou em cheio e, em meio a marcas regionais, há diversos estandes vendendo quinquilharias made in China, além de souvenires com símbolos da Alemanha Oriental, oriundos do país oriental que ainda mantém o sistema que foi abandonado aqui há mais de duas décadas.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.