Checkpoint Charlie, local histórico com ares de Disneylândia
14 de agosto de 2018Para muitos que visitam Berlim, o Checkpoint Charlie faz parte do roteiro obrigatório. O posto militar fronteiriço da rua Friedrichstrasse é símbolo da divisão da Alemanha. Mas hoje é difícil compreender seu significado ao visitar o local, que se tornou um verdadeiro ímã para turistas, sendo comparado a uma espécie de Disneylândia.
Diante de uma réplica do posto de controle, há atores vestidos de soldados americanos, os quais cobram três euros por uma foto. Uma placa, que também é uma réplica, alerta: "Você está deixando o setor americano". A alguns passos de distância, uma lanchonete oferece batata frita e currywurst. Um vendedor ambulante exibe máscaras de gás e bonés militares, e uma praia improvisada no asfalto convida à descontração.
Como um contraponto à banalização, Berlim instalou nas imediações do Checkpoint Charlie a exposição provisória Black Box, que informa sobre a Guerra Fria. Afinal, em 27 de outubro de 1961, poucas semanas depois do início da construção do Muro de Berlim, o posto de controle foi palco de um dos momentos mais tensos do conflito. Durante 16 horas, tanques de guerra americanos e soviéticos posicionaram-se frente a frente prontos para atirar, fazendo com que o mundo inteiro se voltasse para Berlim.
Mas e o muro, onde fica?
Hoje, turistas do mundo ficam fascinados em frente às famosas placas da zona fronteiriça. Mas quem espera ver o Muro de Berlim por ali, fica decepcionado.
"O muro passava por aqui? Uau, nunca imaginei", diz a americana Amira, de 26 anos. Pietro Lensi, um turista italiano, achava que fosse ver restos da construção e um memorial. "Deveria ser feito algo diferente aqui", diz. "É um lugar impressionante, mas bastante turístico", comenta a inglesa Lucy Gilcrest.
Durante os anos da divisão, a República Democrática da Alemanha (RDA), ou Alemanha Oriental, transformou o ponto de controle em uma verdadeira fortaleza. O local foi batizado de "Charlie" em alusão à terceira letra do alfabeto – por se tratar do terceiro posto fronteiriço entre Berlim Oriental e a zona americana da Alemanha Ocidental. Por ali podiam passar apenas estrangeiros, diplomatas e militares das potências aliadas.
Atualmente, porém, somente uma faixa de paralelepípedos no chão marca a antiga posição do muro, passando despercebida por muitos.
Um novo conceito urgente
Agora o governo de Berlim e a Fundação Muro de Berlim querem mudar a cara do Checkpoint Charlie. "Há 28 anos falta um conceito claro para o lugar", reclama o diretor da fundação, Axel Klausmeier.
A concepção provisória do local e seu uso predominante turístico dividem opiniões, aponta Já Katrin Lempscher (A Esquerda), senadora responsável pelo desenvolvimento urbano da cidade.
Há pouco a prefeitura chegou a um acordo com um novo investidor e atual proprietário do terreno ao redor do Checkpoint Charlie sobre o futuro do local: será mantida uma "praça urbana com áreas livres" e criado um museu como um "espaço de instrução e memória" em um dos novos prédios.
Segundo o diretor da Fundação Muro de Berlim, assim seria possível transmitir a dimensão histórica do local de maneira satisfatória. A entidade está desenvolvendo um conceito para o museu, cuja construção e data de abertura ainda estão em aberto.
Tornar a história visível
De fato, é difícil identificar ainda hoje os vestígios da divisão em Berlim. Na euforia pós-queda do Muro, grandes partes da monstruosa barreira de concreto, incluindo torres de vigilância e outros obstáculos, foram demolidas, trituradas ou vendidas. Terrenos – alguns deles bem situados, no centro da cidade – foram parar nas mãos de investidores privados. A reflexão sobre o passado só veio mais tarde.
Além do Memorial do Muro na rua Bernauer Strasse, estão entre os locais oficiais de memória da divisão a chamada East Side Gallery e a seção do muro em frente ao museu Martin-Gropius-Bau – e o Checkpoint Charlie, é claro. O Museu da História da Guerra Fria é o último projeto ainda em aberto em torno do Muro de Berlim.
Klausmeier vislumbra o famoso posto de fronteira da rua Friedrichstrasse como um "local de conexões", com referências a outros lugares da história da divisão. Afinal, Berlim é "o maior museu histórico a céu aberto do mundo", diz.
LGF/IP/dpa
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