Chile é palco de novos protestos e incêndio na capital
29 de outubro de 2019Em mais um capítulo da atual onda de manifestações no Chile, uma passeata realizada nesta segunda-feira (28/10) rumo ao Palácio de la Moneda, sede do governo chileno, acabou com um incêndio de grandes proporções num shopping em pleno centro da capital Santiago, após horas de distúrbios e confrontos com a polícia.
A passeata tinha sido convocada com o objetivo de pressionar o governo, rejeitar as mudanças recém-anunciadas no gabinete e mostrar o descontentamento social.
Após dias de manifestações, desencadeadas por um aumento das tarifas do metrô de Santiago, já revogado, a popularidade do presidente do Chile, Sebastián Piñera, atingiu um mínimo histórico.
Piñera tentou conter a agitação no país ao reconhecer as preocupações dos cidadãos e pedir a todos os seus ministros que colocassem seus cargos à disposição para que ele pudesse estruturar um novo gabinete. "O Chile mudou, e o governo deve mudar com ele", afirmou o presidente chileno.
No entanto, horas depois da oficialização do novo gabinete, milhares de manifestantes se reuniram na capital Santiago e marcharam em direção à sede do governo. Mas a ação dos carabineiros – a polícia militarizada chilena – fez com que os manifestantes só conseguissem chegar a 200 metros da entrada do palácio.
Até esse ponto, a passeata alcançava quase um quilômetro pela alameda Bernardo O'Higgins, a principal avenida de Santiago. Na linha de frente, manifestantes radicais montaram barricadas, incendiaram pedaços de madeira e jogaram pedras e outros objetos nos policiais, que responderam lançando bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água.
Durante os confrontos, um grupo de encapuzados forçou a porta de entrada do shopping e começou a saqueá-lo, assim como ocorreu mais cedo em algumas farmácias e lojas de rua. Em seguida, um incêndio tomou conta do estabelecimento.
As chamas atingiram dois edifícios comerciais vizinhos e geraram uma enorme coluna de fumaça. Bombeiros voluntários conseguiram evitar que o fogo se espalhasse ainda mais.
Simultaneamente, a Praça Itália, epicentro dos protestos, também era palco de distúrbios. Homens mascarados colocaram fogo no acesso à estação de metrô Baquedano, onde, segundo denúncias, alguns agentes teriam torturado manifestantes detidos.
Ao mesmo tempo, milhares de pessoas, como nos dias anteriores, ocupavam o espaço público de forma pacífica para reivindicar melhorias sociais.
"O que estamos vendo hoje não são pessoas que querem justiça e um Chile melhor. Estamos vendo pessoas que querem destruição e caos", disse a ministra da Secretaria-Geral do Governo, Karla Rubliar.
"Um pequeno grupo cria a violência. São cerca de sete mil pessoas, que nada têm a ver com os 1,2 milhão de chilenos que marcharam na sexta-feira", acrescentou, em referência às mobilizações da semana passada.
Uma pesquisa de opinião pública da empresa chilena Cadem, publicada no domingo, apontou que 80% dos chilenos não consideravam as propostas de Piñera adequadas – algo que foi reconhecido pelo próprio presidente chileno no discurso que fez nesta segunda-feira.
"Sabemos que essas medidas não resolvem todos os problemas, mas são um primeiro passo importante", afirmou Piñera.
A pesquisa da Cadem apontou que a taxa de aprovação de Piñera era de apenas 14%, a taxa mais baixa para um presidente chileno desde a redemocratização do país, em 1990.
Embora o Chile tenha uma história de sucesso econômico e democrático na América Latina, tendo sido admitido na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e detendo a maior pontuação da região no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, o país também é atormentado por uma elevada desigualdade.
O 1% mais rico da população do Chile detém 33% da riqueza do país. Muitos chilenos estão descontentes com baixos salários e baixas aposentadorias e planos de saúde e educação custosos.
Os protestos no Chile completaram 11 dias consecutivos nesta segunda-feira e já deixaram 20 mortos, mais de mil feridos e cerca de três mil detidos.
PV/efe/lusa/afp/ap/rtr
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