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"China tenta superar atraso tecnológico militar"

Gabriel Domínguez (md)7 de março de 2015

Especialista em indústria bélica diz que, ao aumentar para 145 bilhões de dólares o orçamento das Forças Armadas, Pequim busca atender às necessidades de uma posição mais assertiva em relação a disputas territoriais.

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Foto: AFP/Getty Images/L. Downing

Quando anunciou o aumento do orçamento militar para cerca de 145 bilhões de dólares, o governo chinês explicou que a medida visa modernizar e melhorar as condições do Exército de Libertação Popular, que tem 2,3 milhões de membros.

A decisão, que marcaria o quinto ano consecutivo de aumentos de dois dígitos nos gastos para a maior força militar do mundo, é anunciada quando Pequim se envolve em disputas territoriais com vizinhos, tanto no Mares da China Oriental e Meridional.

Sam Perlo-Freeman, diretor de projetos sobre monitoramento internacional de despesas militares e de produção de armas do Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri), conta, em entrevista à DW, como a China usa o dinheiro e fala sobre a mensagem que Pequim está enviando a seus vizinhos através da medida.

Sam Perlo-Freeman SIPRI
Sam Perlo-Freeman: "aumento de gastos é resultado de uma economia em crescimento"Foto: SIPRI

DW: Por que a China decidiu aumentar ainda mais seus gastos militares?

Sam Perlo-Freeman: A China tem procurado se modernizar militarmente há muito tempo. O aumento dos gastos é, em parte, um resultado natural de uma economia em crescimento, onde soldados e oficiais esperariam poder desfrutar de aumentos de renda. E, de fato, houve aumentos significativos nos salários militares ao longo dos anos.

Mas o outro aspecto é que a China, na década de 1990 e início de 2000, se deu conta de como está atrás dos Estados Unidos tecnologicamente, fazendo com que o país esteja em uma posição onde os EUA o dominaram completamente em termos de capacidade militar na própria região da China o que, para Pequim, era uma situação muito insegura para se estar.

O aumento das despesas de defesa neste ano é maior do que antes?

Os 10% estão alinhados com as tendências recentes. Com uma taxa de inflação projetada de 2,5%, o aumento real está em 7,3%, apenas ligeiramente acima da meta de crescimento econômico esperada para o país, de 7%.

Então, o orçamento vai deixar os gastos militares da China em termos de percentagem do PIB mais ou menos inalterados. No ano passado, o aumento de 12,2% (9,7% em termos reais) foi um pouco maior do que o crescimento do PIB, mas a tendência geral ao longo dos anos tem sido que os gastos militares acompanhem o ritmo de crescimento do PIB. E o mais recente anúncio continua esta tendência.

China Kampfjet J 11
Caça chinês: foco atual é defesa aérea e marítima, segundo especialistaFoto: picture-alliance/dpa

O dinheiro é previsto para ser gasto exatamente em quê?

A China não fornece uma repartição das despesas militares entre Exército, Marinha, Força Aérea. Às vezes, eles fornecem uma repartição entre grandes categorias, como pessoal, treinamento e manutenção e equipamentos.

Essas categorias têm sempre cerca de um terço do orçamento, cada. Então, o aumento de gastos vai tanto para a modernização de equipamentos, como para melhoria salarial e da condição das tropas e para custos gerais de funcionamento.

O aumento dos gastos no desenvolvimento e aquisição de equipamentos vem ocorrendo em toda a linha, em terra, mar e ar, embora haja uma maior ênfase agora nos domínios marítimos e aéreos, comparado ao passado, quando o foco principal era nos militares de terra.

Mas o tema central da modernização militar é trazer as modernas tecnologias de informação e comunicações para o meio militar, alinhando-o com a moderna tecnologia ocidental de combate.

Como essas mudanças melhoram as capacidades de defesa da China?

Um recente estudo da Rand Corporation descobriu que, enquanto as capacidades militares da China estão, certamente, aumentando, há algumas dúvidas sobre como isso está se traduzindo em capacidade de combate real. A capacidade de realizar operações conjuntas entre diferentes partes das Forças Armadas é, em particular, ainda incerta.

A corrupção endêmica nas Forças Armadas ainda causa grande preocupação nos dirigentes chineses como algo que poderia afetar gravemente a sua capacidade de combate, bem como, naturalmente, levar ao desperdício de recursos.

China Flugzeugträger Liaoning
Porta-aviões chinês Liaoning: país assume posição mais assertiva na regiãoFoto: picture-alliance/AP

Como esse movimento se reflete sobre a maneira da China de se projetar na região e no mundo?

A China está sendo muito mais assertiva na região ao pressionar suas reivindicações territoriais, embora esta se dê com um baixo nível de emprego da força: estabelecendo uma presença forte em áreas em disputa, em geral, principalmente com embarcações de patrulhamento, mas suportadas por suas capacidades navais militares ampliadas.

Além da região, os chineses estão desenvolvendo mais uma capacidade naval oceânica, por exemplo, no Oceano Índico, onde eles têm sido muito ativos – de forma cooperativa, com outros países – na luta contra a pirataria marítima, enviando navios para participar desses esforços.

Mas eles também estão interessados em ter esta capacidade pronta para defender os interesses chineses comerciais e de investimento, assim como a ajudar os cidadãos chineses no exterior. Um exemplo disso foi a retirada de cidadãos chineses da Líbia em 2011.

Que mensagem Pequim tenta enviar à região, especialmente considerando as disputas territoriais recentes com alguns de seus vizinhos?

Em termos de implicações para a região, enquanto o anseio de modernização da China pode ter sido originalmente dirigido pela insegurança, agora que eles têm um nível muito maior de capacidade, eles estão tomando uma posição muito mais assertiva, alguns diriam agressiva, em relação a disputas territoriais na região, como nos mares da China Meridional e Oriental.

Não há absolutamente indicação alguma de que eles queiram ou esperam que ocorram conflitos armados, o que poderia ser desastroso economicamente, mas eles parecem estar procurando usar seu maior poder para influenciar a situação na terra (ou na água), especialmente no Mar da China Meridional, onde navios chineses paramilitares de patrulhamento estão exercendo uma presença muito mais forte.


Os gastos oficiais militares da China ainda é menos que um terço do orçamento de defesa dos EUA. Este número é exato?

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Marinheiros no Liaoning: há dúvidas se aumento de capacidade militar se reflete em aumento de capacidade de combateFoto: Reuters

O Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri) faz estimativas de gastos totais militares da China que tendem a ser um pouco mais de 50% superior ao orçamento oficial. Os dois maiores elementos que nós adicionamos ao orçamento oficial são: 1) estimados gastos adicionais de pesquisa e desenvolvimento e 2) os gastos paramilitares com a polícia chinesa. Outros incluem pagamentos de desmobilização de soldados no orçamento do Ministério da Assuntos Civis, e investimentos em construções militares adicionais estimados.

Que reações os aumentos das despesas militares da China causam na região?

Eles estão levando a respostas em alguns países vizinhos, em termos de maiores gastos militares e aquisições, incluindo o Japão, que já começou a aumentar os gastos gradualmente, depois de muitos anos de declínio; o Vietnã, que tem aumentado gastos muito rapidamente, impulsionado pela alta da receita com o petróleo, adquirindo submarinos e outros equipamentos navais para responder ao poder chinês na área; e as Filipinas.

China Vietnam Konflikt im Südchinesischem Meer
Navio chinês joga jato de água em barco vietnamita no Mar da China MeridionalFoto: picture alliance/AP Photo

No entanto, considerando as capacidades militares extremamente limitadas das Filipinas, o país está também se voltando mais para os EUA, para reforçar sua aliança, bem como para mecanismos jurídicos internacionais, onde busca uma sentença da Corte Internacional de Justiça contra China, em relação ao Mar da China Meridional.

Acho que o nível de aumento não era inesperado na região. São mais as ações da China em relação às disputas territoriais, em particular e, claro, as ações de outros países, que determinarão se as tensões na região aumentarão.