Ciberguerra
23 de março de 2003O cenário poderia ser este: os combates acontecem nas centrais de comando eletrônicas dos militares. O general e seus oficiais sentados em frente a seus computadores. Com um simples aperto de botão em seu próprio país, os militares em questão conseguem paralisar centrais elétricas, radares, sistemas de controle de trânsito ou mesmo bancos do inimigo. Tudo isso através de um ataque cibernético.
Plano de combate para a ciberguerra
Transformar essa visão em realidade, parece ser há muito o objetivo do presidente norte-americano George W. Bush. Segundo informa o Washington Post, Bush já teria, em julho de 2002, exigido maiores detalhes sobre as diversas formas de organizar ataques cibernéticos a computadores inimigos. Até poucas semanas atrás, o governo havia conseguido manter sigilo a esse respeito. No entanto, após a assinatura de uma diretriz oficial por Bush, diversos especialistas e o Pentágono passaram a estabelecer regras sobre as formas de um ataque cibernético, além de definir a quem caberia autorizá-lo e quando ele poderia ser considerado legítimo.
... tão rápido pode ser
Quem planeja um ataque cibernético, pode acabar sendo vítima de um. Nos EUA, percebe-se, desde meados da década de 90, um forte temor em relação a ataques vindos do ciberespaço. Principalmente após o 11 de setembro, os departamentos de segurança norte-americanos alertaram todas as empresas do país quanto aos riscos vindos do universo virtual. Através da disseminação dos ataques conhecidos como DoS (Denial of Service), vírus e vermes eletrônicos, computadores podem ser paralisados completamente. Os primeiros exemplos podem ser encontrados em Israel, onde hackers palestinos invadiram várias vezes os processadores de bancos israelenses, provocando, entre outros danos, a paralisação total do site da bolsa de valores.
"Hacker" já na guerra do Kosovo
Citando fontes ligadas ao governo norte-americano, o Washington Post havia noticiado antes do início da guerra, que os EUA não teriam, até então, dado início a quaisquer ataques cibernéticos. Se a declaração já perdeu ou não sua validade, não se sabe. Na opinião do cientista político Ralf Bendrath, de Berlim, não houve até hoje nenhuma espécie de ciberguerra, embora os americanos, durante a guerra do Kosovo em 1999, tenham invadido os computadores da Defesa Aérea sérvia, simulando aeronaves inimigas nas telas dos radares. Dessa forma, os americanos conseguiram desviar a atenção das tropas sérvias dos ataques reais.
Todos querem dar as cartas
Hoje, o tema da ciberguerra tornou-se um ponto de discórdia entre diversas instâncias do governo norte-americano. A questão é: quem tem o direito de dar as cartas neste jogo de poder? Quem recebe os recursos financeiros para tal? De um lado está o Pentágono, que, por sua vez, forçou nos últimos anos o desenvolvimento de armas cibernéticas. Do outro lado está a CIA, o FBI e a Agência Nacional de Segurança (NSA). Segundo as informações do Washington Post, a luta de poder ainda está longe de ser encerrada.
E-mails às lideranças iraquianas
Ainda não se pode saber exatamente a quantas anda o desenvolvimento dessa nova forma de conduzir uma guerra. Embora não haja indícios claros de que esses métodos possam ser utilizados durante o conflito no Iraque, as Forças Armadas e os serviços secretos norte-americanos iniciaram, em janeiro último, uma primeira campanha de ciberguerra via e-mail.
Como parte de um plano de ação psicológico, foram enviados milhares de e-mails às lideranças iraquianas. O conteúdo conclamava oficiais e membros do governo a rebelarem-se contra as ordens de Saddam Hussein, desertarem e fornecerem pistas sobre armas de destruição em massa, pois "ganhar uma guerra contra os EUA não é possível". Sobre os efeitos desses e-mails, nada se ouviu até hoje.