Cortina de Ferro
26 de abril de 2010Representantes de quatro regiões da Macedônia e Bulgária – países adjacentes à chamada Cortina de Ferro – aprovaram o projeto de uma ciclovia turística e histórica. O percurso de 7 mil quilômetros vai cruzar 20 países que, há pouco mais de 20 anos, tinham como fronteira o símbolo da Guerra Fria.
O objetivo do projeto, que recebe o apoio da União Europeia, é criar a rota EuroVelo 13, em que o ciclista poderá percorrer 40 anos de história europeia.
Outras ciclovias históricas
Projetos semelhantes já existem na Alemanha. Um deles é a ciclovia ao longo de antigo Muro de Berlim, com uma extensão de 160km. Ao percorrê-la, é possível enxergar o cenário que persistiu de 13 de agosto de 1961 a 9 de novembro de 1989, enquanto o Muro de Berlim dividia a capital alemã.
Já a rota ao longo da fronteira que separava a Alemanha Ocidental da Oriental, com 1.378 km, vai de Travemünde, na costa do mar Báltico, até a fronteira entre Alemanha, República Tcheca e Áustria. O percurso inclui a “faixa da morte”, zona fronteiriça que, entre 1958 e 1989, continha torres de controle, muros e cercas para dividir o território das duas Alemanhas.
Longo caminho
Essa divisão geopolítica na época da Guerra Fria evidentemente não se restringia apenas à Alemanha. A Cortina de Ferro cortava a Europa a partir do mar de Barents, na fronteira entre Rússia e Noruega, até a costa búlgara do Mar Negro.
Os sete mil quilômetros da Eurovelo 13 tornarão “visíveis 40 anos de história europeia”, disse o fundador do projeto, o parlamentar europeu Michael Cramer, do Partido Verde.
O Iron Courtain Trail, como o projeto é chamado, foi aprovado pela Comissão Europeia no verão de 2009 e aos poucos conquistou o apoio dos países envolvidos. Dos 20 em questão, 14 fazem parte da União Europeia.
Por promover o turismo sustentável – sendo a bicicleta o meio de locomoção — e o desenvolvimento de diversas regiões com pouca concentração turística, a iniciativa recebeu o apoio comunitário e também de organizações de desenvolvimento, como a Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ).
“A Hungria apoia a construção da ciclovia, pois essa é uma boa oportunidade de desenvolver o turismo nas regiões mais distantes”, disse à Deutsche Welle Miklós Kovács, secretário de Estado de Turismo da Hungria. Segundo uma análise, o projeto tem potencial de promover aproximadamente 849 mil viagens anuais à região.
“Se a rota do Muro de Berlim levou dez anos até ser implementada, e a das duas Alemanhas 15 anos, esta deverá demorar uns 25 anos, mas chegaremos lá”, disse Cramer. Ele fez o percurso do Muro pela primeira vez 1989 e, como deputado da cidade-Estado de Berlim, viabilizou que o caminho fosse classificado como histórico e digno de conservação.
Posteriormente, decidiu-se fazer o mesmo com a fronteira entre as duas Alemanhas. Em 2007 surgiu então uma nova trilha através de um cinturão verde de vários quilômetros de largura, uma área que permaneceu intocada durante 40 anos e hoje abriga diversas reservas para preservação de flora e fauna. A ciclovia atravessa parques nacionais e cruza algumas vezes a antiga fronteira alemã-alemã, além de abranger muitos pontos de interesse histórico.
A longo prazo
Embora o projeto tenha despertado interesse, conquistando apoio de diversos organismos nacionais e regionais, ele deverá ser implementado a longo prazo.
“A realização depende da vontade política”, diz Cramer: "Se cada país construísse um quilômetro a menos de estradas a cada ano, o projeto estaria garantido". Ele imagina essa ciclovia como uma combinação de natureza e história ao longo da antiga fronteira, um percurso confortável para o turista, longe das estradas movimentadas. Para cumprir sua missão cultural e histórica, a trilha teria que cruzar diversas vezes a fronteira intransitável durante tantos anos e mostrar a maior quantidade possível de lugares históricos.
Natureza, história, bicicleta e conforto
Na cidade húngara de Sopron, por exemplo, a ciclovia da Cortina de Ferro passa pela chamada “praça do piquenique”, na fronteira com a Áustria. Esse é o lugar exato onde, em 19 de agosto de 1989, cerca 700 cidadãos da antiga Alemanha Oriental conseguiram passar para o Ocidente, após o discreto fluxo de fugitivos que se estendera pelos meses anteriores.
Em 11 de setembro daquele ano se abriria oficialmente a fronteira da Hungria com a Áustria. Assim como esse exemplo, muitos outros revelam ao ciclista uma história de décadas de separação.
Para que a Eurovelo 13 fique pronta, além da adequação do caminho, a infraestrutura turística regional é imprescindível. E o projeto aposta nas parcerias locais, a fim de que se criem hotéis para suprir as necessidades deste tipo de turismo, com vagas para bicicletas e oficinas ou ofertas do tipo bed&bike. Afinal, não adiantaria nada criar um percurso interessante através da história que não atraia ninguém.
Autora: Mirra Banchón (np)
Revisão: Simone Lopes