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Cientista polêmico quer clonar mamute

18 de março de 2012

O sul-coreano Woo Suk, considerado um pioneiro em clonagem, chegou a ter uma de suas pesquisas considerada fraude. Agora, ele apresenta um novo e ousado projeto: trazer os gigantes do gelo de volta à vida.

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Foto: picture-alliance/dpa

Fazia tempo que as coisas andavam calmas para o pesquisador sul-coreano Hwang Woo Suk. Há alguns anos, Hwang afirmou ter clonado um embrião humano e ter reproduzido células-tronco embrionárias. Ambas as afirmações foram mais tarde desmascaradas e consideradas fraude.

Agora, o polêmico veterinário volta a chamar atenção. A partir de amostras de tecido congelado, Hwang pretende trazer o extinto mamute-lanoso de volta à vida.

Ele já assinou um convênio com uma universidade da República de Sakha, na Rússia. Nessa região da Sibéria foram encontrados nos últimos anos vários corpos de mamutes em bom estado de conservação. Eles ficaram congelados em permafrost durante mais de 10 mil anos e agora, devido ao aquecimento global, puderam ser retirados do gelo.

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Hwang Woo Su anunciou falsa clonagem de embrião humanoFoto: picture-alliance/dpa

Para clonar um mamute a partir de seus restos mortais, Hwang Woo Suk precisa de núcleos celulares intactos, nos quais ele espera encontrar a informação genética completa sobre o animal. O cientista então terá que substituir o conteúdo do óvulo de uma determinada espécie – no caso, um elefante indiano – pelo material genético retirado das células do mamute.

Isso é possível – a princípio. Três anos atrás, como parte de um projeto de clonagem de mamutes no Japão, pesquisadores conseguiram clonar um camundongo a partir das células de um roedor que estava congelado havia 16 anos. Desde então, nada mais foi ouvido a respeito do projeto.

DNA fragmentado

O biólogo Alex Greenwood, do Instituto Leibniz de Pesquisas em Zoologia e Vida Selvagem (IZW) em Berlim, é cético em relação ao projeto de clonagem de mamute. Segundo ele, uma primeira análise no microscópio pode dar aos cientistas esperanças porque eles conseguem discernir contornos nas células e mesmo núcleos dentro do tecido do mamute. Mas as estruturas não estão intactas, diz Greenwood, "eles são impressões congeladas de células antigas."

O biólogo descartou a possibilidade de que o tecido dos mamutes da Sibéria possam conter células em funcionamento. "Dez mil anos de permafrost são diferentes de 16 anos em um freezer", disse Greenwood, referindo-se ao experimento japonês.

De acordo com o biólogo, como as temperaturas não são constantes na Sibéria, o tecido descongelou e congelou várias vezes ao longo dos milênios. Esse processo destruiu todas as microestruturas de células vivas – e o que resta do DNA está fragmentado.

"Não existe possibilidade de dar certo", sentencia Greenwood.

Quebra-cabeça genético

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Células do bebê-mamute Ljuba, descoberto em 2007, podem conter informações genéticas importantesFoto: picture-alliance/dpa

O geneticista molecular Stephan Schuster, da Universidade do Estado da Pensilvânia, concorda que a clonagem não é a melhor maneira para recriar um mamute-lanoso. Mas a reconstrução pode ser possível pro outros meios, diz ele. Em 2009, o geneticista e sua equipe conseguiram reconstruir 70% da informação genética de um mamute. Eles não utilizaram o núcleo da célula, mas pequenos fragmentos de material genético encontrados no pêlo do animal.

Os cientistas norte-americanos conseguiram colocar a informação genética na sequência certa e em alguns anos o genoma do mamute deve ser decifrado, assim como o de muitos outros animais, diz Schuster. Com um mapa completo na mão, a informação genética pode ser montada pouco a pouco, explica o geneticista.

Da bactéria ao mamute

Em 2010, o biólogo e geneticista norte-americano Craig Venter foi o primeiro a recriar o genoma completo de uma bactéria. Schuster acredita que o mesmo poderia ser feito no caso de um mamute-lanoso – se o genoma do gigante do gelo não fosse 10 mil vezes mais extenso do que o da bactéria.

Enquanto não for possível criar genomas tão grandes sinteticamentes, os cientistas tiveram que escolher um método diferente. De acordo com Schuster, pesquisadores poderiam reconstruir um genoma similar até que ele se torne parecido com o do mamute. O parente mais próximo da espécie é o elefante indiano.

George Church, geneticista na Harvard Medical School, em Boston, está trabalhando em um projeto assim. Sua equipe desenvolveu um aparelho capaz de alterar a bactéria, uma espécie de "máquina de evolução". Ele disse que a máquina pode ser usada para modificar a bactéria a níveis básicos, de modo que as células do elefante também podem ser transformadas em células de mamutes.

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Células bacterianasFoto: Fotolia/Irina Tischenko

Ainda assim os cientistas não iriam de fato criar um novo mamute. O genoma teria que ser transferido para uma célula viva – o mesmo processo usado na clonagem. Aqui, também, uma fêmea de elefante indiano seria a doadora do óvulo e mãe de aluguel. A ciência ainda não chegou a esse ponto. "Mas está no caminho certo", garante Church.

Do gelo para o zoológico

Schuster disse que três anos atrás ele achava que um desenvolvimento como esse seria absolutamente impossível. "Hoje eu já não acho que seja totalmente impossível", diz.

Mas uma simples clonagem como a imaginada por Hwang não é a solução – e reconstruir uma criatura da era do gelo é muito mais complicado.

Autor: Michael Lange (ff)
Revisão: Mariana Santos