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Cientistas e políticos pedem proteção do clima

av13 de agosto de 2002

Recentes tempestades e inundações na Europa apontam para um novo inimigo a ser combatido com meios políticos e econômicos: o aquecimento global do planeta.

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Atual enchente em Dresden: imagens como esta podem se tornar mais freqüentesFoto: AP

A Europa ameaça virar Atlântida, e a culpa parece ser do aquecimento global. Alguns especialistas, como o meteorologista de Munique Joachim Reuder, contra-argumentam que as violentas precipitações nada têm de extraordinário, "mesmo parecendo que a freqüência de tais acontecimentos aumentou nos últimos tempos". Isso está longe de ser uma mensagem tranqüilizadora, pois a ação destruidora de temporais isolados poderá até intensificar-se, mesmo que, no geral, o verão se torne mais seco.

De forma justificada ou não, a onda de enchentes na Europa – a "intempérie do século" – está despertando preocupação generalizada pela alteração do clima mundial. O ministro alemão do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, pediu esforços internacionais mais decididos para reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa.

"Seria bom se outras nações fizessem tanto quanto a Alemanha em defesa do clima mundial", disse o ministro. Trittin lembrou que o governo Schröder comprometeu-se a reduzir a emissão de dióxido de carbono (CO2) em 21% e já alcançou os 19%. Ele classificou os acordos internacionais fechados até agora como um primeiro passo importante, porém insuficiente.

O diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Klaus Töpfer, também exortou as nações industriais a assumirem maior responsabilidade. Ele considera indispensável tanto poupar energia como continuar desenvolvendo as energias renováveis. O ex-ministro alemão do Meio Ambiente não tem dúvidas de que as recentes catástrofes climáticas sejam, em parte, obra humana, uma tendência a ser "maciçamente combatida".

Expectativas moderadas de melhora

Embora a África, com 14% da população do planeta, seja responsável por apenas 3,2% do total das emissões de CO2, é justamente lá que as conseqüências da alteração do clima se fazem sentir com grande dureza. Töpfer aconselhou a moderar as expectativas em torno do Encontro Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a se realizar no fim de agosto, em Johannesburg. Não que ele conte com o fracasso da conferência, realizada 10 anos após a cúpula no Rio de Janeiro, mas "com certeza não sairemos todos felizes". Uma conferência não basta para consertar o mundo, advertiu Klaus Töpfer.

Regra ou exceção

O historiador do clima Rüdiger Glaser lembra que, nos últimos mil anos, a Europa Central tem sido constantemente atingida por inundações dramáticas, fortes tormentas e ondas de frio. Geralmente elas se intensificam ou cedem num ciclo de 30 a 100 anos. "Somos quase tentados a afirmar que a normalidade foi a exceção", comenta o pesquisador.

Em certas fases, as catástrofes climáticas nestas latitudes foram até mais freqüentes do que nos últimos 200 anos. "Este é o caso das enchentes entre 1500 e 1750", explica Glaser. Especialmente catastrófica foi a chamada "pequena Idade do Gelo", entre 1550 e 1850, com seus verões frios e chuvosos e invernos glaciais.

Neste meio tempo, Hans-Joachim Schellnhuber, do Instituto de Pesquisa do Clima, de Potsdam, prevê novos eventos meteorológicos extremos para a Alemanha, caso o aquecimento global não seja freado. As presentes tempestades seriam "somente pequenos anúncios da futura transformação do clima". Segundo o cientista, é preciso evitar que a Terra esquente mais de 2ºC em relação ao ponto atual. Entretanto isto será difícil, acrescentou o climatologista, pois não há nada para compensar a atual tendência.

Esta aponta para um planeta mais polarizado, com características regionais muito delimitadas. Enquanto o norte da Europa terá mais chuvas do que o usual, o sul ficará mais seco. Além disso, passará a chover com menor freqüência, porém com maior intensidade. Um problema é o fato de as pessoas não mais estarem adaptadas às condições vigentes. Porém a alteração do clima terá que ser considerada, tanto pelos serviços de combate às catástrofes como na construção de telhados e canalizações, advertiu Schellnhuber.