Cientistas pedem mais pesquisa em biotecnologia
7 de setembro de 2005
A Alemanha poderá perder o bonde da história se mantiver políticas conservadoras em relação a pesquisas com biotecnologia e células-tronco. Essa é uma das conclusões do primeiro Relatório de Engenharia Genética da Academia de Ciências Berlim-Brandemburgo, apresentado nesta quarta-feira (07/09), na capital alemã. O objetivo do estudo foi aproveitar a proximidade das eleições para influenciar o novo governo a modificar regras que restrinjam experimentos científicos na área.
O documento de 579 páginas, redigido por uma equipe de 11 cientistas, analisa o estágio de desenvolvimento das pesquisas com DNA humano em projetos relacionados a diagnóstico e prevenção de doenças, investigações forenses e na melhoria da produtividade na agricultura.
De acordo com o professor de medicina molecular Jens Reich, um dos envolvidos no relatório, há um consenso de que não é possível pensar em pesquisa científica séria quando se ignora a biotecnologia.
Leis mais flexíveis
O relatório pede a flexibilização das leis relacionadas a pesquisas em biotecnologia. Afinal, a comunidade científica alemã quer ser incluída no processo de estabelecimento de regras para experimentos envolvendo engenharia genética e células-tronco.
O Parlamento alemão usou um dos mais importantes artigos da Constituição do país – relativo à dignidade e à segurança do ser humano – para estabelecer regras duras, que dificultam a pesquisa com material genético.
A exemplo do que ocorre no Brasil, a Alemanha ainda não conseguiu chegar a um consenso legal sobre o início da vida humana – até agora, porém, ganha a tese de que embriões têm de ser considerados seres vivos e não podem ser usados exclusivamente para fins científicos.
Os dois países enfrentam também problemas para definir uma estratégia para a modificação genética de plantas. Na Alemanha, pesquisadores afirmam que a lei colocou a preocupação com os perigos dos experimentos antes das chances de desenvolvimento econômico que eles poderiam proporcionar.
Segundo o bioquímico Ferdinand Hucho, outro envolvido na elaboração do estudo, a estratégia de proibição do governo alemão não é forte o suficiente para impedir o desenvolvimento de experimentos em engenharia genética ao redor do mundo.
Por isso, a Alemanha deveria, segundo ele, observar e acompanhar experimentos biotecnológicos em vez de simplesmente proibi-los. Hucho afirma que a comunidade científica precisa ganhar mais espaço para defender a pesquisa com células-tronco.
Pesquisas paradas
O bioquímico diz que é necessário um relaxamento das regras para a importação e a pesquisa de células-tronco de embriões humanos. As leis atuais, segundo ele, ferem o direito dos cientistas de realizar experimentos na área.
O grupo de trabalho responsável pelo Relatório de Engenharia Genética pretende organizar um capítulo especial sobre células-tronco até o fim do ano, para acentuar ainda mais o debate sobre a flexibilização das leis alemãs no setor.
Recentemente, os cientistas obtiveram uma vitória. O chanceler federal Gerhard Schröder afirmou que as leis alemãs impedem o avanço científico do país em diversas áreas e, por essa razão, acenou com a possibilidade de abrandar as regras para experimentos com engenharia genética. Atualmente, todo projeto de pesquisa precisa de uma autorização individual antes de ser iniciado.
Mas, apesar do debate sobre o atraso das pesquisas em engenharia genética, também há no país uma preocupação social com o tema. Grupos afirmam que a fronteira entre pesquisas de base e experimentos práticos nem sempre é bem definida. Por isso, defende-se uma maior reflexão sobre que tipo de pesquisas envolvendo células-tronco são realmente necessárias e discute-se a possibilidade da abertura de centros científicos especiais para a realização destes experimentos.