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"Cobrança sobre partidos de esquerda é mais severa"

Fernando Caulyt
5 de outubro de 2016

Para analista, PT foi o mais punido, mas escândalos de corrupção geraram um enfraquecimento geral do sistema partidário. Ele vê efeito limitado das eleições de domingo como prévia para 2018.

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Brasilien Demonstration pro Regierung Dilma Rousseff
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Peres

Envolvido no escândalo da Operação Lava Jato, o PT sofreu um grande golpe nas eleições municipais de domingo (02/10). A legenda encolheu quase 60% no número de prefeituras: conseguiu eleger 256 prefeitos no primeiro turno e tem chances de eleger sete no segundo. Em 2012, foram 611 prefeitos eleitos.

Ao mesmo tempo, legendas como o PP e o PMDB – que também tiveram políticos envolvidos em corrupção– não sofreram o mesmo baque. Para o cientista político Bruno Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o motivo é que o PT estava no "olho do furação" do escândalo em todos os sentidos.

"O PT ocupava a presidência e estava na posição central. Outro fator é que, também, há uma cobrança eventualmente mais severa sobre os partidos de esquerda. Estas legendas tendem a se imputar certa superioridade moral, e quando jogam simplesmente o jogo como qualquer outro partido, são mais severamente cobrados", opina.

DW: Quanto ao combate à corrupção e partidos envolvidos na Lava Jato, como se pode analisar a votação de domingo?

Bruno Reis: Eu acredito que a hiperexposição dos acontecimentos durante esses dois anos de investigações produziram um enfraquecimento geral do sistema partidário e diminuiu a capacidade do sistema partidário de canalizar as preferências dos eleitores, o que se refletiu num aparente aumento da dispersão do voto entre os partidos. Todas as legendas saem relativamente enfraquecidas. Mas, claro que se alguma sigla perde prefeituras, outras vão crescer.

O PT saiu como o grande derrotado das eleições?

O PT estava no olho do furacão em todos os sentidos: era o partido no poder; estava no governo ao longo dos últimos três mandatos; e acaba de ter seu quarto interrompido pelo impeachment. E isso é sempre traumático, teria custos políticos em qualquer lugar do planeta. Soma-se a isso uma deterioração do quadro econômico que comprometeu a popularidade da ex-presidente Dilma Rousseff e viabilizou o próprio impeachment, e a hiperexposição do sistema político como um todo e, principalmente, do PT por dois anos na imprensa ao longo da Lava Jato. E, depois de dois anos neste clima, não há outra coisa a esperar, senão o que vimos: o número de prefeituras da legenda caiu cerca de 60%.

Por que o PP e o PMDB, também envolvidos na Lava Jato, não foram tão atingidos nas urnas?

O PT ocupava a presidência e estava na posição central. Outro fator é que, também, há uma cobrança eventualmente mais severa sobre os partidos de esquerda. Estas legendas tendem a se imputar certa superioridade moral, e quando jogam simplesmente o jogo como qualquer outro partido, são mais severamente cobrados. Eu acredito que, quando se vê um escândalo envolvendo algum político do PP ou PMDB, nenhum eleitor realmente se surpreende. E isso pode produzir um efeito muito negativo na democracia.

Houve um combate ao PT ou à corrupção?

Se você perguntar um eleitor se ele vota contra a corrupção, ele vai dizer sempre que sim. Ninguém é a favor da corrupção. Mas se você está com seu nome o tempo todo associado a práticas ilegais, você sofrerá as consequências. E isso tem mais a ver com reputação do que com os fatos. Por isso que o PP ou PMDB podem estar até mais implicados do que o PT [em casos ilícitos], mas a grande manchete destes dois anos foi a corrupção do PT, e isso é o que basta. Quem quis votar contra a corrupção votou contra a legenda e, tipicamente, não se informou muito bem se o PMDB ou PP estavam mais implicados ou não.

O PT deverá chegar às eleições de 2018 enfraquecido?

Eu sou cético sobre os prognósticos que apontam para o fim do PT ou algo parecido. Eu acho que essas análises ignoram a alavancagem do PT no mundo sindical: apesar de o peso desses recursos estar em decrescimento, eles ainda existem e não são irrelevantes. O PT tem um virtual monopólio no sindicalismo do setor público com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e, no setor privado, há uma imensa penetração no associativismo civil. Passada a tempestade, o PT tem canais por onde reativar esses movimentos. Então eu não vejo o partido como carta fora do baralho. A questão crucial é ter calma, assimilar a derrota e, principalmente, evitar a debandada.

Quais são os possíveis cenários petistas para as eleições de 2018?

As eleições municipais são uma prévia do pleito seguinte apenas no que diz respeito à composição da Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas. Como o PT perdeu dois terços de seus prefeitos, podemos esperar uma queda expressiva da bancada petista na Câmara e, dependendo do estado, nas respectivas Assembleias. Quanto à eleição de governador e presidente já incidem outros fatores. Se Lula puder ser candidato, ele será relevante e tem a chance de ganhar, independente do que aconteceu no domingo. Mas há outras variáveis também: como estará a economia, o mapa de candidaturas, a popularidade do governo Michel Temer, entre outras.