Arquivo de Colônia
9 de janeiro de 2011Duas capas de papelão, um gancho de segurança de metal: um simples fichário de escritório foi o que salvou numerosos documentos do Arquivo Histórico de Colônia da destruição total, brinca a chefe do órgão municipal, Bettina Schmidt-Czaia. A coletiva de imprensa no início de janeiro de 2011 foi o primeiro balanço dos danos, quase dois anos após o desabamento do prédio no centro da cidade renana.
Culpa em aberto
Em 3 de março de 2009, o arquivo histórico, com seis andares, desabou em consequência de uma inundação subterrânea no túnel de uma linha de metrô em construção. Em casas vizinhas, também precipitadas no fosso das obras, dois rapazes morreram.
A promotoria pública continua investigando o caso, que contém aspectos francamente criminosos. Até hoje não está esclarecido a quem cabe a culpa pelo desastre: certo está que os prejuízos resultantes são bilionários. Bettina Schmidt-Czaia estima somente os custos de restauração em 500 milhões de euros, não incluídos os gastos adicionais com pessoal como restauradores e arquivistas.
Não há como falar em "recuperação" do valioso acervo. Embora 85% do material tenha sido precariamente recuperado, não há garantia de que os documentos, livros, arquivos e fotos possam ser restaurados, após terem ficado ensopados, dilacerados e soterrados sob toneladas de escombros.
Apoio generoso
Uma das maiores perdas para a cidade é o fato de sua memória não mais ter um local próprio. Em 20 "arquivos que oferecem asilo" por toda a Alemanha, especialistas e restauradores trabalham a pleno vapor na compilação dos materiais resgatados. Tudo é digitalizado e distribuído em três classes de avarias, possibilitando eventuais trabalhos de restauração no futuro.
Calcula-se que, dos objetos resgatados, 35% estejam severamente danificados, 50% apresentem danos médios, e 15% danos leves. Os itens, em parte seculares, reunidos meticulosamente ao longo dos anos, sobreviveram guerras, bombardeios, até catástrofes naturais da Idade Moderna. Agora serão necessárias décadas até que uma nova ordem possa ser estabelecida.
Até então, estudiosos de todo o mundo terão que trabalhar apenas com microfilmes. A meta é formar um arquivo dos documentos históricos, totalmente digitalizado e acessível a partir de qualquer lugar do planeta, online, em salas de leitura digitais. Porém, o caminho a percorrer ainda é longo.
Oficinas particulares e outros arquivos estaduais – entre os quais os de Berlim, Baixa Saxônia e Saxônia – já ofereceram ajuda a Colônia. Grande parte dos objetos foi logo submetida à liofilização – desidratação a baixas temperaturas – a fim de deter a deterioração de papéis e pergaminhos.
Como os documentos do Stasi
Também especialistas do Instituto de Pesquisa Fraunhofer contribuem com conhecimentos específicos. Eles tentam, por exemplo, reconstituir os documentos picotados, utilizando os mesmos programas empregados na reconstituição dos arquivos do Stasi, o serviço secreto da Alemanha Oriental.
Entretanto, a diretora Schmidt-Czaia ressalva que, no caso dos documentos do regime comunista, tratava-se de páginas lisas, datilografadas, fragmentadas maquinalmente, datando de, no máximo, 40 anos.
Já os arquivos colonianos abarcam escritos de vários séculos, o mais antigo dos quais data do ano 952. Diversos manuscritos medievais estão totalmente amolecidos pela umidade, com cantos irregulares, estraçalhados. Isso dificulta imensamente a identificação dos fragmentos, alguns dos quais, ínfimos.
Mais do que mero problema local
A diretora do Arquivo Histórico de Colônia conseguiu contratar 100 funcionários adicionais em 2011. Mas não vê boas chances para sua cidade, já que outros grandes arquivos municipais podem oferecer cargos de tempo ilimitado e aposentadorias, representando forte concorrência na disputa pelos profissionais disponíveis.
"O que atrai, aqui, é nada mais do que a aventura de colaborar com uma tarefa histórica de tamanhas proporções." Entretanto, Schmidt-Czaia alegra-se com o entusiástico apoio internacional. Afinal, o legado de um escritor tão renomado como, por exemplo, o Nobel da Literatura Heinrich Böll, é mais do que mero assunto local.
Autoria: Heike Mund / Augusto Valente
Revisão: Soraia Vilela