Sueli Santana, professora na rede pública rural da Bahia, foi apedrejada em outubro deste ano por alguns de seus alunos. A razão? Deu aulas sobre cultura afro-brasileira.
Segundo o portal G1, ela corrigia as atividades de uma turma quando alunos atiraram pedras contra ela. Uma das pedras a atingiu no pescoço. Após a agressão, Sueli ficou afastada do trabalho durante três dias.
Ao G1, a professora disse: "Sempre fui chamada de bruxa, macumbeira, feiticeira e diabólica, todos os dias, quando chegava na escola". Além disso, ela conta que a direção da escola, seguindo ordens da secretaria Municipal de Camaçari, "orientou" que o livro ABC dos Povos Afro-brasileiros fosse retirado de suas aulas.
Esse tipo de agressão contra os professores envolvendo política ou religião não é novidade. No entanto, este caso me deixou extremamente decepcionado e triste. Para falar sobre ele, tive o privilégio de entrevistar a Vitalina Silva, uma amiga que admiro muito e que, coincidentemente ou não, também é amiga da professora Sueli.
Silva atua há 30 anos como professora de português e faz um trabalho incrível de educação antirracista no colégio em que trabalha.
Não começou com a pedrada
À coluna, contextualizando a agressão, Silva diz: "Houve uma sequência de ações que não foram observadas e consideradas por quem deveria. Foram inúmeros insultos, ataques à sua honra e à sua orientação religiosa, por ser uma mulher de candomblé. Alguns estudantes diziam coisas como 'está repreendido', que precisava aceitar Jesus, e levavam bíblias para colocar em sua mesa. Diziam que ela estava endemoniada, faziam sinal da cruz enquanto estava de costas e a chamaram de bruxa inúmeras vezes."
Segundo ela: "A gestão da escola dizia ser coisa de criança e a família achou natural esse tipo de comportamento, pois a professora é do candomblé. É a negação de uma profissional com mestrado e bem capacitada, mas que estava sendo avaliada não pela sua capacidade profissional, mas sim por sua religião e por ser de matriz africana".
A violência não pode ser subestimada
Para Silva, "a pedrada é simbólica, pois você joga uma pedra em alguém com a intenção de ferir e isso não é brincadeira". "Ela ficou afastada por recomendação médica e as crianças não tiveram condolência nenhuma, tampouco a diretora da escola. A Sueli ficou abalada psicologicamente."
"É racismo, pois há uma aversão às religiões de matriz africana. Não é nem uma questão de intolerância apenas, mas sim de desrespeito. Ela estava de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que no artigo 26 traz a questão da orientação para o trabalho com a história africana, afro-brasileira e indigena. Não eram aulas de religião, mas sim de história africana e indígena. São muitas agressões e violência ali, inclusive o epistemicídio [cunhado em 1990 pelo professor português Boaventura de Souza Santos, o termo se refere à desvalorização sistemática de conhecimentos de grupos marginalizados] de não reconhecer que aquele conhecimento é importante de estar em sala de aula."
Lei não basta
Para Silva, a lei que criminaliza o racismo não é o bastante, pois existe há mais de 30 anos e ainda há colégios que só trabalham essas questões em novembro e outros que nem trabalham. No entanto, segundo ela: "Agora foi lançada uma política nacional chamada 'Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ)', que está muito bem elaborada, trazendo uma série de ações muito bem organizadas para aumentar a eficiência da lei e da política, oferecendo formação para professores, gestores, técnicos. Ela amplia a condição de que todos tenham conhecimento do que é a lei e do que precisa ser trabalhado."
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.