Colégio de Cardeais fica mais internacional sob papa Francisco
14 de janeiro de 2014Além de serem os mais altos prelados da Igreja Católica depois do papa, os cardeais também são os seus mais importantes consultores. Os que não completaram 80 anos de idade formam também o Colégio dos Cardeais, o círculo dos que elegem o novo sumo pontífice em caso de morte ou – como foi o raro caso do alemão Bento 16 – renúncia.
No último domingo (14/01), o papa Francisco nomeou 19 novos cardeais – entre eles Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro. No entanto, três já ultrapassaram os 80 anos e não poderão participar de um eventual conclave. A partir do próximo consistório (assembleia geral cardinalícia), o número de potenciais eleitores papais passa para 122.
Deles, a metade (61) vem da Europa, que assim mantém sua presença desproporcionalmente elevada no colégio. Enquanto apenas um quarto dos católicos provém do Velho Continente, tendência decrescente, nas demais partes do mundo vem aumentando o número de fiéis. Mesmo não se propondo, até agora, a ser uma instância representativa, chama a atenção quão pouco o Colégio dos Cardeais reflete a dinâmica do catolicismo mundial nas últimas décadas.
Predominância italiana
Cinco dos futuros 122 cardeais do colégio serão alemães. Entre os eleitores papais, 28 são italianos, ou seja, mais de um quarto do total. Continua sendo um processo muito gradual reduzir a tradicional predominância italiana tanto no Colégio dos Cardeais quanto na Cúria Romana, o órgão administrativo do Vaticano.
Também agora, são italianos quatro dos 16 cardeais com direito a voto recém-nomeados por Francisco, três pertencem à Cúria. Isso prova que os prelados dessa nacionalidade continuam se impondo dentro do aparato vaticano – apesar de toda celeuma dos últimos anos sobre combate a redes de influência na instituição.
Atualmente, metade dos católicos vive no continente americano, a grande maioria na América Latina. No entanto, dos 122 cardeais do futuro colégio, 15 são oriundos da América do Norte e apenas 19, latino-americanos, entre os quais cinco brasileiros e três mexicanos.
O exemplo da América Latina mostra bem como o papa nascido na Argentina age, no âmbito global: tanto o Brasil como o México já tiveram mais representantes com direito a voto papal do que têm hoje, mas Francisco procura integrar mais países no Colégio dos Cardeais ativo. Assim, Nicarágua, Chile, Haiti e a própria Argentina passam, cada um, a contar com um prelado.
Futuro nos novos continentes
A concessão da púrpura cardinalícia a africanos e asiáticos confirma a tendência de a Santa Sé se estabelecer como Igreja Mundial. A África passará a ter 14 eleitores para o papa, a Ásia, 12. Pouco a pouco, o círculo dos eleitores fica realmente um pouco mais colorido.
Por ocasião do conclave de 2013, observadores experientes comentaram que era ainda cedo demais para a escolha de um papa africano ou asiático. Porém o próximo pontífice, ou seu sucessor, pode perfeitamente ser oriundo dessas jovens Igrejas.
Na qualidade de instituição com mais de 2 mil anos de tradições, a Igreja Católica se move lentamente. Isso também se aplica às transformações dentro do Colégio dos Cardeais. Um exame do grupo que, até o fim do ano, deixa de compor o círculo dos possíveis eleitores papais ilustra esse processo paulatino: dos 11 cardeais que completam 80 anos em 2014, oito são europeus, sendo cinco italianos.
Por outro lado, não há um único africano. E, para completar, o mais jovem membro do Colégio dos Cardeais será um haitiano: Chibly Langlois, que há poucas semanas fez 55 anos. Estes, sim, são dados que correspondem às atuais tendências demográficas do catolicismo mundial.