Com cerveja alemã até os confins do mundo
22 de abril de 2016Nos últimos séculos, um grande número de emigrantes alemães se estabeleceu nos demais continentes, e alguns levaram seu saber para o "Novo Mundo". Portanto não é de espantar o grande número de cervejarias do Canadá ou dos Estados Unidos com nomes de origem alemã, como Haffenreffer, Hudepohl-Schoenling ou Schaefer. Algumas permaneceram pequenas, outras conquistaram fama mundial.
Em 1857, o cervejeiro Adolphus Busch se assentou em Saint Louis, EUA, propondo-se a fabricar cerveja alemã autêntica para a jovem nação americana. Como qualidade era sua prioridade absoluta, ele adotou o Reinheitsgebot, o "preceito de pureza" decretado em 1516, na Baviera, que só admite cevada, lúpulo e água como ingredientes da bebida.
Mais tarde, Busch conheceu o mestre cervejeiro Eberhard Anheuser, alemão emigrado como ele, casou-se com sua filha, e ambos fundaram aquela que se transformaria na maior fábrica de cerveja do mundo.
Passados de 150 anos, a William K Busch Brewing Company pertence a Billy Busch, bisneto de Adolphus. Ele continua produzindo a "kräftig lager" segundo o preceito de pureza. De quebra, a William K Busch Company integra o conglomerado Anheuser-Busch-InBev, o qual, com 21% de participação, domina o mercado mundial, englobando praticamente todas as marcas conhecidas e deixando longe a concorrência.
Brasil, paraíso da cerveja
A caipirinha é a marca registrada do Brasil mundo afora, e muitos estrangeiros se esquecem que a arte da cerveja alemã deixou seus traços no país.
Louis Bücher, natural de Wiesbaden, emigrou para São Paulo em 1885, onde fundou a Antárctica. Quase simultaneamente, o suíço Joseph Villiger lançava a primeira cerveja Brahma.
Também em uma das mais alemãs de todas as cidades brasileiras, a catarinense Blumenau, da Oktoberfest, há muito se produz segundo o preceito de pureza: a Eisenbahn conta entre as cervejarias brasileiras mais bem-sucedidas, com 15 tipos diferentes. Alguns deles mantiveram nomes alemães como dunkel, weizenbock, lust (o tipo nobre) ou Eisenbahn kölsch.
Do Canadá ao Himalaia
Por falar em kölsch: a especialidade de Colônia ostenta uma surpreendente carreira internacional. Para além da cidade renana, essa cerveja de alta fermentação não é muito levada a sério no país: outros produtores até apelidaram de "provetas" os típicos copos de 200 ml, cilíndricos e delgados, em que ela é servida.
No entanto ela encontrou numerosos apreciadores estrangeiros. Por exemplo no Canadá, onde a cervejaria Mt. Begbie apresenta orgulhosamente sua "high country kölsch", fabricada com "fermento kölsch original". A receita, entretanto, contém declaradamente "malte de trigo" – e assim, adeus ao preceito de pureza alemão. Mas os canadenses nem ligam e continuam saboreando-a como "cerveja leve de verão".
A rigor, kölsch é uma indicação protegida, só aplicável a cervejas fabricadas em Colônia. Porém vários produtores pelo mundo parecem não se incomodar com a restrição. Muito menos nas montanhas do Himalaia: lá, uma cervejaria independente da etnia xerpa em Khumbu, ao pé do Monte Everest, batizou sua especialidade como "Khumbu Kölsch".
Tsingtao, a chinesa
Em 1897, dois missionários alemães foram assassinados na China. Para o imperador Guilherme 2º, há muito interessado no país asiático, esse foi um pretexto para enviar navios de guerra para Kiauchau, no Mar Amarelo.
Os alemães conseguiram ocupar a região litorânea, e a localidade de Tsingtao se transformou no centro do domínio colonial alemão na China. Já que onde estão alemães, a cerveja não pode estar muito longe, a primeira cervejaria local começou a funcionar em 1903, sob o nome Germania.
Mas a aventura germânica em solo chinês não durou muito tempo. Em 1914 começou a Primeira Guerra Mundial, e os japoneses expulsaram os alemães da colônia. Mas mantiveram a cerveja, que continuou a ser produzida pelo método tradicional, sob a marca Tsingtao – hoje uma das mais famosas do mundo.