Com eleição indefinida, protestos se espalham nos EUA
5 de novembro de 2020A polarização política nos Estados Unidos não se reflete apenas na contagem acirrada dos votos das eleições presidenciais, mas também nas ruas, enquanto apoiadores do presidente Donald Trump e do candidato democrata Joe Biden realizam protestos no país pelo segundo dia consecutivo.
Manifestantes pró-Biden se reúnem sob a demanda de "Contem todos os votos", acreditando que uma apuração completa e rigorosa mostrará a vitória do ex-vice-presidente democrata.
Enquanto isso, apoiadores fiéis de Trump rebatem essa ideia com gritos de "Protejam os votos", em apoio aos esforços da campanha republicana para que algumas categorias de cédulas, incluindo alguns votos enviados pelo correio, sejam descartadas da contagem.
Ambos os lados estiveram reunidos nesta quinta-feira (05/11) do lado de fora de um centro de contagem na Filadélfia, no estado da Pensilvânia, onde a equipe de apuração trabalha arduamente sobre uma montanha de cédulas chegadas pelo correio, que determinarão se Biden ou Trump levará os 20 votos do Colégio Eleitoral correspondentes ao estado, cruciais para o resultado final da eleição.
Ali, um grupo de manifestantes pró-Trump erguia bandeiras da campanha republicana e cartazes com frases como "A votação acaba no dia da eleição" e "Desculpa, as urnas estão fechadas".
Do outro lado da rua, apoiadores de Biden dançavam ao som de músicas atrás de uma barricada. "Não podemos permitir que os contadores de votos sejam intimidados", disse Bob Posuney, um aposentado de 70 anos, vestindo uma camisa que dizia "Contem todos os votos".
Embora a contagem já tenha sido concluída no Michigan, onde a imprensa americana projetou vitória de Biden, algumas dezenas de manifestantes pró-Trump ergueram bandeiras e cartazes do lado de fora de um centro de contagem em Detroit, maior cidade do estado.
Em certo momento, um apoiador negro do presidente e um eleitor negro de Biden entraram numa discussão aos gritos sobre o histórico de Trump em relação às questões raciais, enquanto a polícia observava o confronto verbal.
Em Wisconsin, a eleitora de Trump Bobbie Dunlap contou que votou pessoalmente no republicano no dia da eleição, 3 de novembro, mas seu voto ainda não havia sido marcado como processado no site do estado – a contagem em Wisconsin ainda está em andamento.
"Estamos organizando uma marcha pacífica na capital para pedir uma auditoria completa da eleição aqui em Wisconsin", disse ela. A campanha de Trump pediu uma recontagem no estado.
Em Washington, uma procissão de carros e bicicletas, organizada por um grupo chamado Shutdown DC, marchou lentamente pelas ruas da capital para protestar contra o que eleitores de Trump chamaram de "um ataque ao processo democrático".
A maioria das manifestações em cidades de todo o país foi pequena e pacífica – algumas delas reunindo apenas algumas dezenas de pessoas com cartazes –, enquanto o caminho de Biden para a vitória parece um pouco mais garantido que o de Trump, embora qualquer um dos dois resultados ainda seja possível.
Na quarta-feira, alguns protestos acabaram em confronto entre policiais e manifestantes. Os atos foram desencadeados em parte pelas declarações de Trump após as eleições, em que ele exigiu que as contagens sejam interrompidas e fez acusações infundadas e conspiratórias sobre fraude eleitoral.
As polícias nas cidades de Nova York, Denver, Minneapolis e Portland informaram que prenderam alguns manifestantes, principalmente sob acusações de bloquear o trânsito ou contravenções semelhantes.
Em Phoenix, no Arizona, dezenas de apoiadores enraivecidos de Trump se reuniram na noite de quarta-feira em frente ao centro eleitoral do condado de Maricopa, alguns inclusive armados com rifles e revólveres, após rumores infundados de que votos no presidente republicano estavam sendo deliberadamente não contados.
Enquanto os manifestantes gritavam "Parem de roubar!", o deputado republicano Paul Gosar se uniu ao grupo e declarou: "Não vamos deixar que essa eleição seja roubada".
Apesar das alegações de Trump e seus apoiadores, observadores dos dois grandes partidos estiveram dentro do centro de contagem enquanto as cédulas eram processadas e contadas, com o processo sendo transmitido ao vivo pela internet em todos os momentos.
O resultado final da eleição pode levar dias, pois muitos votos por correspondência ainda não chegaram aos locais de contagem, em alguns estados.
Mais de 100 milhões de pessoas votaram pelo correio ou de forma antecipada em seções eleitorais para evitar aglomerações no dia do pleito, em meio à pandemia de coronavírus. Foi o maior índice de todos os tempos. A modalidade foi amplamente defendida pelos democratas, mas criticada pelos republicanos.
Trump há semanas vem questionando o modelo de votação por correspondência e acusando a eleição de fraude, embora sem apresentar provas.
Na quarta-feira, quando vários votos por correspondências ainda não haviam sido apurados, Trump ameaçou judicializar o processo eleitoral. Sua campanha já entrou com ações para barrar a contagem de votos em vários estados.
EK/rtr/ap/ots