Com "Gatsby", Festival de Cinema de Cannes abre em grande estilo
16 de maio de 2013Devido ao mau tempo, havia muitos guarda-chuvas na estreia de O grande Gatsby. As vicissitudes meteorológicas do cotidiano nem sempre combinam com o glamour da abertura do Festival de Cannes, o mais importante festival de cinema do mundo, que teve início nesta quarta-feira (15/05) com a apresentação do filme estrelado por Leonardo DiCaprio.
O grande Gatsby retrata festas e riqueza, o sonho da felicidade material, fama e dinheiro, em suma, os encantos superficiais do mundo. Isso combina com Cannes. E o cinema? Não foi sempre uma grande máquina de sonhos? Sendo assim, os organizadores não puderam encontraram filme melhor que O grande Gatsby para abrir o Festival de Cinema de Cannes deste ano.
Festas: no cinema e em Cannes
Após a estreia do filme, uma imensa tenda foi palco da festa de abertura. A distribuidora americana Warner Bros. convidou e 600 vips vieram. Uma festa de 1 milhão de euros, organizada para um círculo fechado da alta sociedade cinematográfica. Mesmo assim, o gala da abertura não deve ter se equiparado aos excessivos festivos mostrados anteriormente na tela. O grande Gatsby, um abrangente romance de apenas 200 páginas escrito por F. Scott Fitzgerald, é considerado um clássico moderno da literatura. É também um livro sobre o amor, mas principalmente sobre as festas do "sonho americano".
O livro conta a história de um jovem misterioso, que vive com seus milhões numa mansão que mais se parece com um castelo, na costa de Long Island, e promove festas inesquecíveis – também para ganhar o amor de uma mulher que havia cobiçado no passado.
Como esse homem, que é chamado simplesmente de Gatsby, conseguiu chegar a tanto dinheiro permanece um mistério até o final. Espalham-se boatos sobre suas ligações com o submundo. Em torno dessa figura mítica, Fitzgerald tece uma trama simples sobre a riqueza e o amor, ciúmes e assassinato. O livro se sustenta na maestria estética do estilo e na construção do texto, já que a trama não oferece nada mais que uma história de fofocas.
A atração do dinheiro
Ainda assim, não há nada de paradoxal no fato de o romance ter se tornado uma referência na literatura, desde que foi lançado em meados da década de 1920. O livro procura, principalmente, registrar a ânsia das pessoas pela fortuna e os riscos que estão dispostos a correr para alcançá-la. De um jeito fascinante, o livro também deixa claro o encanto e a sedução da riqueza. Fitzgerald conta sua história com ironia e distância, mas não tem medo de mostrar o quão sedutor é todo aquele luxo.
O livro já foi levado três vezes à tela. A versão mais conhecida é a com Robert Redford no papel principal, de 1974. Agora, o diretor australiano Baz Luhrmann se aventurou numa nova versão. Mostrar a atualidade do texto foi seu principal estímulo: "Um clássico surge por meio da transposição temporal e geográfica de todas as fronteiras, tornando-se significativo em todos os lugares e em todas as épocas", afirmou Luhrmann em entrevista, acrescendo que "isso se deve ao fato de as histórias terem algo humano e atemporal para contar. Nós reconhecemos isso novamente nos personagens".
Luhrmann: clássico vira pop
No romance, Gatsby é alguém que "absorveu intensamente as promessas da vida e que foi cheio de esperanças". O personagem-título do romance fascina até hoje. Esse fascínio foi utilizado por Luhrmann, que embebeu a trama de uma atualidade duradoura. Embora ele seja fiel ao romance e mostre uma história que se passa na Nova York dos anos 1920, por outro lado o diretor dá a ela um aspecto moderno.
A trilha sonora foi assinado pelo famoso rapper americano Jay-Z, pela cantora Beyoncé (os dois são um casal) e por outras megaestrelas como Lana del Rey. O filme consiste de centenas de cortes rápidos, intercalados de forma compacta e montados sem muitas ligações. Movimentos selvagens de câmera se alternam com inúmeros efeitos digitais. Além disso, tudo foi filmado em tecnologia 3D.
Os sonhos permaneceram
"Queríamos transmitir aos espectadores a impressão de viver naqueles tempos incrivelmente modernos, quando o mundo acabava de nascer, e todos eram jovens, belos, bêbados, loucos e ricos e vivenciaram tudo isso", declarou o roteirista Craig Pearce. Assim, não é difícil para os espectadores entender as referências frente ao aqui e agora. O contraste entre ricos e pobres, o sonho de ascensão: todos esses temas são válidos ainda hoje, mesmo que sob outras circunstâncias. Mas a vista do Palácio dos Festivais em Cannes sobre os milionários iates luxuosos aportados na baía azul mostra claramente a atualidade do livro quase centenário.
Em Nova York, a equipe se ocupou intensamente com aquela época, principalmente com o setor financeiro, os títulos hipotecários e os mercados de ações, afirmou o roteirista Pearce sobre o trabalho de pesquisa para as filmagens. Substituindo a palavra "título hipotecário" por "fundos de hedge", fica claro por que o filme de Luhrmann é atual.
Fitzgerald constatou um corte fundamental no arcabouço moral da década de 1920, afirmou o diretor. O boom econômico da época não podia prosseguir tão facilmente como antes. A atual versão cinematográfica de O grande Gatsby é naturalmente uma metáfora da recente crise financeira mundial. "Tenho a impressão de que O grande Gatsby tem algo a dizer ainda hoje – mais do que nunca", disse o produtor Douglas Wick.
Reações contidas ao filme
Em Cannes, o filme de abertura, no entanto, angariou somente reações contidas na apresentação para a imprensa, antes da estreia noturna. E também nos EUA, onde O grande Gatsby estreara já há alguns dias nos cinemas, as críticas foram antes negativas. Tudo isso não pôde estragar, naturalmente, o bom humor da equipe no tapete vermelho em frente ao Palácio dos Festivais.
DiCaprio, a protagonista do filme Carey Mulligan, o diretor Luhrmann – todos vieram apresentar pessoalmente o filme. E a chuva forte no início irritou só temporariamente. Como sempre acontece em Cannes, a tempestade de flashes foi admirável, os fãs gritaram por autógrafos. Assim começou a festa de 12 dias na Côte D'Azur.