Com infecções em queda, Alemanha discute futuro da máscara
14 de junho de 2021A Alemanha registrou nesta segunda-feira (14/06) o menor número diário de infecções pelo coronavírus no país em quase nove meses, e autoridades vêm discutindo a possibilidade de afrouxar as regras para uso de máscaras.
O Instituto Robert Koch (RKI), a agência governamental de controle e prevenção de doenças, anunciou que 549 novas infecções foram contabilizadas nas últimas 24 horas, e dez pessoas morreram em decorrência de covid-19. É a primeira vez desde 21 setembro que são registradas menos de mil infecções num dia.
Especialistas ressaltam que é típico haver número mais baixos nos fins de semana, quando menos testes são realizados e menos resultados são computados. Mesmo assim, houve uma queda significativa em relação à segunda-feira da semana passada, quando foram registradas 1.117 infecções.
A taxa de incidência do coronavírus em sete dias – principal métrica usada na Alemanha para definir as regras de combate à pandemia – caiu para 16,6 casos a cada 100 mil habitantes. No fim de abril, o país chegou a ter mais de 20 mil novos casos por dia e uma taxa de incidência de 169 casos a cada 100 mil habitantes em sete dias.
A queda acentuada nas infecções nas últimas semanas estimulou o debate sobre as futuras regras para uso de máscaras no país. O ministro da Saúde, Jens Spahn, defendeu uma flexibilização gradual da obrigatoriedade da proteção, que, segundo ele, deveria ser primeiramente abolida em ambientes externos.
Para Spahn, em regiões com incidência muito baixa do coronavírus e elevada cobertura vacinal, a obrigatoriedade poderia ser gradualmente extinta também em ambientes internos. "Como recomendação, permanece, em todo caso, uma regra simples: em caso de dúvida, usar máscara – sobretudo em viagens e encontros em espaços fechados", disse em entrevista ao grupo de mídia Funke.
No fim de semana, a ministra da Justiça, Christine Lambrecht, pediu que os estados alemães esclareçam a questão da proporcionalidade da exigência de máscara. A carga é grande especialmente para estudantes, que têm que usar as máscaras por horas durante as aulas, afirmou ao jornal Bild am Sonntag.
Integrantes dos partidos Alternativa para a Alemanha (AfD), de ultradireita, e do Partido Liberal Democrático (FDP), defenderam que a exigência de máscaras seja completamente abolida.
O especialista em saúde do Partido Social-Democrata (SPD), Karl Lauterbach, e o líder da conservadora União Social Cristã (CSU) no Parlamento alemão, Alexander Dobrindt, consideram o fim da obrigatoriedade possível para ambientes externos, mas não para internos. Segundo Lauterbach, somente quando 70% dos adultos estiverem completamente vacinados as máscaras poderão ser abolidas também em espaços fechados.
As restrições já vêm sendo afrouxadas na Alemanha de acordo com as taxas de incidência da doença em cada região. No estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso do país, por exemplo, não é mais obrigatório usar máscaras do tipo FFP2 no transporte público, bastando máscaras cirúrgicas comuns.
Mas a flexibilização do uso de máscaras também vem recebendo críticas. O governador do estado da Baixa-Saxônia, Stephan Weil (SPD), pediu cautela. "Não deveríamos dar a impressão de que a pandemia acabou", declarou, defendendo que a obrigatoriedade no transporte público seja a última a cair.
EUA e Brasil
Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) anunciou em meados de maio o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção na maioria das situações para pessoas que já foram completamente vacinadas contra a covid-19, numa tentativa de estimular a vacinação. Vacinados, porém, devem continuar usando máscaras em determinados ambientes fechados, como ônibus, aviões, aeroportos, consultórios médicos e hospitais.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro causou polêmica na semana passada ao sugerir o fim da obrigatoriedade da proteção facial para já vacinados ou pessoas que já passaram por uma infecção pelo novo coronavírus.
Especialistas criticaram fortemente a proposta, apontando fortes diferenças entre as situações no Brasil e nos EUA: circulação do coronavírus muito mais alta e cobertura vacinal muito mais baixa (25% da população completamente imunizada no Brasil, frente a 43% nos EUA) – o que eleva a probabilidade de reinfecção e transmissão da doença também por vacinados.
Além disso, a maioria das vacinas aplicadas nos EUA até agora são da Pfizer-Biontech e da Moderna, que utilizam tecnologia de mRNA mensageiro. Estudos indicam que os imunizante são altamente eficazes para evitar não apenas casos sintomáticos, mas também assintomáticos e a transmissão do vírus. Dados preliminares coletados em Israel apontaram que a vacina da Pfizer é 89,4% eficaz na prevenção de infecções.
O imunizante da Pfizer, no entanto, começou a ser aplicado no Brasil apenas no início de maio, sendo a maioria das doses aplicadas até agora da Coronavac e da AstraZeneca. Na Alemanha, 80% das vacinas utilizadas até o momento são da Pfizer e da Moderna.
Vacinação avança na Alemanha
Após uma largada lenta, a campanha de vacinação vem avançando na Alemanha. O país já vacinou com ao menos uma dose de vacinas quase metade da população, ou cerca de 40 milhões de pessoas, e cerca de um quarto dos habitantes, ou 21,3 milhões de pessoas, já estão completamente imunizados.
Na semana passada, a Alemanha acabou com a lista de grupos prioritários para a vacinação. Isso significa que qualquer residente com ao menos 12 anos de idade pode se inscrever para ser imunizado, sem precisar preencher requisitos de faixa etária, ocupação profissional ou comorbidades.
Mas a espera pode ser grande, porque não há doses suficientes, e muitos idosos e pessoas com doenças preexistentes ainda não foram vacinados. Autoridades sanitárias alemãs e o ministro Spahn pediram paciência à população.
Epidemiologistas e virologistas esperam que a gravidade da epidemia diminua progressivamente à medida que a vacinação avance no país, com menos hospitalizações, menos internações em UTIs e menos mortes. No total, a Alemanha já contabilizou mais de 3,7 milhões de casos e quase 90 mil mortes desde o início da pandemia.
lf/as (AP, AFP, DPA, Reuters, ARD, ots)