Segurança
5 de agosto de 2008A partir da segunda-feira (04/08), centenas de soldados armados iniciaram o patrulhamento das ruas de grandes cidades italianas como Roma, Nápoles, Turim e Milão. Além de monumentos e embaixadas, a ofensiva de segurança do governo prevê o engajamento dos militares na vigilância de campos de refugiados.
O primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, cumpre assim uma de suas promessas eleitorais – a "Missão Itália", da qual fazem parte a inclusão de soldados no pacote de segurança contra a criminalidade e contra a imigração ilegal, bem como a recente ampliação do estado de emergência devido à onda de imigrantes ilegais.
O decreto de Berlusconi foi criticado pelos partidos da oposição de esquerda como "militarização da Itália". Para os sindicatos e políticos, a medida não seria nada mais do que um blefe para ocultar os cortes de orçamento das forças de segurança.
"Missão Itália"
Armados com pistolas, os soldados não poderão efetuar prisões, exceto se alguém for pego em flagrante. O governo italiano calcula que os custos da atuação dos militares, na maioria jovens e inexperientes, deverão girar em torno de 31 milhões de euros nos primeiros seis meses. Depois de meio ano, a eficiência da "Missão Itália" deverá ser controlada, podendo ser então ampliada para além das nove cidades iniciais. Para 2009, estão previstos novos 31,2 milhões de euros.
O contingente de três mil homens será dividido em três grupos. Acompanhados de policiais e agentes da guarda nacional (carabinieri), mil soldados serão responsáveis pelo patrulhamento dos centros das grandes cidades. Outros mil trabalharão no policiamento de embaixadas, consulados e estações ferroviárias e de metrô.
O restante da tropa vigiará campos de refugiados, como o da ilha de Lampedusa, onde 70 soldados estão em ação. A construção de dez novos campos para o acolhimento de imigrantes ilegais está nos planos do governo de Berlusconi.
"Militarização das cidades"
A última vez que militares uniformizados foram vistos nas ruas italianas foi entre 1992 e 1998, quando foram engajados no combate aos crimes da máfia após atentados mortais contra juízes italianos.
Desta vez, a Federação de Funcionários da Polícia criticou a decisão de pôr soldados nas ruas como um mero desperdício de recursos, sem poder de penetração. "Trata-se de uma ação puramente de fechada e extremamente dispendiosa", explicou a organização.
Por significar uma "militarização das cidades", a medida do governo de direita do primeiro-ministro Silvio Berlusconi foi criticada por políticos da oposição de esquerda. Roberta Pinotti, do Partido Democrático (PD), vê na iniciativa de Berlusconi mais um capítulo de sua novela "Fazer Pânico e Propaganda", que só serviria para esconder os cortes nos orçamentos do exército e da polícia.
Até mesmo o prefeito romano Gianni Alemanno, de inspiração neofascista, não quer ver soldados patrulhando as ruas da Cidade Eterna. Eles deveriam somente proteger objetos isolados, como monumentos e estações. O prefeito garante que militares não serão vistos na parte antiga da cidade, um dos destinos prediletos de turistas do mundo todo.
Na mira da União Européia (UE)
Ao assumir o poder no início do ano, Berlusconi anunciou um duro combate à criminalidade e à imigração ilegal. Em julho último, o gabinete do primeiro-ministro decretou estado de emergência em todo o país devido aos muitos barcos de refugiados da África que aportavam nas costas italianas.
O gabinete também aprovou um pacote de leis que prevê, entre outras medidas, facilidade de deportação e pena de seis meses a quatro anos de detenção para quem entrar ilegalmente na Itália. Por ligar criminalidade à imigração, as medidas de Berlusconi estão agora na mira da União Européia (UE).
A UE analisará minuciosamente os textos italianos sobre medidas de segurança e campos de refugiados, informou o comissário europeu de Justiça, Jacques Barrot, na última sexta-feira em Bruxelas. Até agora, a União Européia não se pronunciou, no entanto, sobre a presença de militares nas ruas italianas.