Combate ao terrorismo esbarra na falta de cooperação
15 de março de 2006Em Haia, uma conferência internacional se ocupa nestas quarta e quinta-feira (15 e 16/03) do combate ao financiamento do terrorismo. DW-WORLD falou com o economista político Friedrich Schneider, da Universidade Johannes Kepler, em Linz, sobre as posssibilidades e os obstáculos para fechar as fontes que abastecem organizações como a Al-Qaeda.
DW-WORLD: Há sete anos, os países do G7 implementaram o Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro. Ele deve combater o financiamento do terrorismo. Até hoje, não são conhecidos resultados relevantes. Por que essas tentativas internacionais fracassam?
Friedrich Schneider: Porque nada é feito. Simplesmente isso. Cada país trabalha para si, não existe uma colaboração internacional que funcione. Nem mesmo depois de atentados terroristas acontece uma troca de dados – imagine então que possa haver uma colaboração entre as equipes dos diversos serviços secretos.
Por que não existe essa troca de informações?
Eu dou um exemplo: quando os franceses financiam uma ditadura africana por meio de seu serviço secreto, ou quando os americanos apóiam o Talibã no Afeganistão e os Contras na Nicarágua, ou quando os alemães pagam resgate no Irã – você acha que os governos tornam isso público? Esses também são financiamentos secretos.
Além disso, o bem e o mal podem rapidamente trocar de lado, como nós sabemos, basta pegar o exemplo do Talibã no Afeganistão, que foi durante muitos anos financiado pelos Estados Unidos, enquanto se tratava de combater os russos. Trata-se de dupla moral. Quando governos não querem que sejam reveladas as suas próprias transações financeiras secretas, eles também não têm interesse na descoberta eficaz de casos de lavagem de dinheiro.
Em que medida o financiamento do terrorismo e a lavagem de dinheiro são dependentes? Lavagem de dinheiro é geralmente associada ao comércio de drogas e de seres humanos?
Financiamento do terrorismo é, num sentido amplo, o financiamento das operações de terroristas. Para isso não se precisa de muito dinheiro – os ataques de 11 de Setembro custaram cerca de 500 mil dólares, incluindo as aulas de vôo.
Mas para a manutenção de bases terroristas é necessário muito dinheiro. Para obter essa quantia, é lavado dinheiro oriundo do comércio de drogas, do comércio ilegal de diamantes ou também de seqüestros.
Então apenas se pode agir contra o financiamento do terrorismo combatendo a lavagem de dinheiro? No caso de dinheiro oriundo de negócios legais...
...não é possível evitar o financiamento do terrorismo. Há verbas para organizações terroristas – como, por exemplo, o Hamas, que recebe muito dinheiro de países árabes para hospitais e escolas – mas não é possível identificar uma linha divisória, se o dinheiro não é utilizado para atos terroristas.
O que se pode fazer então contra o financiamento do terrorismo?
A primeira pergunta é se a lavagem de dinheiro pode ser combatida de modo eficiente. Então também se pode combater o financiamento do terrorismo. Para combater a lavagem de dinheiro, é necessário um trabalho conjunto internacional e um grupo de trabalho que possa agir de um modo tão ágil e flexível como os terroristas. A isso se acrescentaria ainda o fim de bloqueios de informações, mas até agora isso não aconteceu.
O que organizações de financiamento podem fazer para combater o financiamento do terrorismo?
Em primeiro lugar, depende do grau com que se quer fazer negócios com a máfia oriental ou outras organizações criminosas. Nesse aspecto, investigadores dependem das informações internas de bancos, que raramente têm uma boa noção do quão limpo é um negócio.
Como economista político, o senhor defende sobretudo o combate à pobreza e o incentivo aos direitos democráticos básicos e à liberdade de opinião como uma maneira de combater o terrorismo. Por quê?
Dito de uma maneira bem simples: pessoas que ganham dinheiro não jogam bombas. Se eu tenho uma casa, um carro e um bom emprego, sou menos inclinado a me tornar um terrorista. Continuarão existindo fanáticos que agirão como terroristas independentemente do seu salário, mas serão muito menos.
Trata-se de enxugar uma parte do terrorismo. Por isso, o combate à pobreza é uma estratégia muito eficiente para combater o terrorismo. Deve-se também combater o fanatismo religioso para que se alcance uma coexistência pacífica entre as religiões. Mas isso acontece apenas em parte.
Isso soa pouco otimista. Na sua opinião, como evoluirá o combate ao financiamento do terrorismo?
Nós precisamos de mais dois ou três atentados na Europa. Só então passaremos a trabalhar um pouco mais próximos.