Carlos, o Chacal
7 de novembro de 2011Um dos mais famosos terroristas da história voltou aos tribunais de Paris nesta segunda-feira (07/11). O venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, de 62 anos, conhecido como Carlos, o Chacal, vai a julgamento por quatro ataques terroristas ocorridos há quase 30 anos e que mataram 11 pessoas e feriram mais de 140.
Ele já cumpre prisão perpétua pela morte de três policiais e um informante libanês, em 1975. Na audiência, o prisioneiro declarou ser um "revolucionário profissional" e saudou apoiadores nas galerias com os punhos erguidos. "Ele está num clima de luta, como sempre", disse a advogada e companheira de Chacal, Isabelle Countant-Peyre, no início do julgamento.
Para ela, o motivo para o julgamento de fatos ocorridos há 30 anos é "propaganda ou outros interesses, mas não fazer justiça". O advogado de algumas das vítimas, Francis Szpiner, rebate a defesa de Chacal, afirmando que o julgamento acaba com a cultura da impunidade.
Para Szpiner, é importante mostrar aos terroristas que eles serão punidos por seus crimes, mesmo depois de tanto tempo. A sentença deverá ser conhecida em seis semanas.
Novo júri
Um grupo de sete juízes anônimos conduz o julgamento, que deve durar seis semanas. Além de Carlos, são julgados à revelia mais três acusados: os alemães Johannes Weinrich e Christa Frohlich e o palestino Ali Kamal al Issawi. Weinrich cumpre prisão perpétua na Alemanha. Suspeita-se que Frohlich também esteja em território alemão. O paradeiro de Issawi é desconhecido.
O primeiro dos quatro ataques ocorreu em março de 1982. Uma bomba explodiu num trem que fazia a linha Paris-Toulouse, matando cinco pessoas. Um mês mais tarde, uma pessoa morreu após a explosão de um carro-bomba do lado de fora de um escritório de um jornal de língua árabe em Paris.
Os outros dois ataques ocorreram em dezembro de 1983. Uma bomba explodiu na estação central de Marselha, matando duas pessoas. Mais tarde, no mesmo dia, três pessoas foram mortas após a explosão num trem de alta velocidade que fazia uma viagem entre Marselha e Paris. Ramírez nega o envolvimento nesses atentados.
A promotoria sustenta que os dois primeiros ataques serviriam para pressionar o governo francês a libertar a então namorada de Ramírez, a alemã Magdalena Kopp, e um parceiro suíço que fora preso em Paris sob a acusação de porte ilegal de armas, um mês antes dos ataques ocorrerem.
De acordo com os promotores, o ministro do Interior francês recebeu uma carta com impressões digitais de Ramírez, ameaçando iniciar uma "guerra" caso os dois não fossem libertados em 30 dias. A defesa de Ramírez, que inclui a sua companheira, Isabelle Countant-Peyre, contesta a existência dessa carta.
A fama de Chacal
O julgamento reabre um capítulo na história do terrorismo internacional, no qual Carlos, o Chacal ficou famoso como suspeito de uma série de ataques de extrema audácia, incluindo o sequestro em massa no encontro dos ministros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em Viena, em 1975. Na ocasião, três pessoas foram mortas.
Chacal foi capturado pelo serviço secreto francês quando estava em Cartum, no Sudão, em 1994, e levado para a França sem que houvesse um pedido de extradição. Em Paris, foi condenado por assassinato em 1997.
Nascido em Caracas em 1949, Ramírez era um advogado marxista. Estudou em Moscou e se mudou para o Líbano, onde ingressou na Frente Popular para a Libertação da Palestina.
Em meados dos anos 1970, converteu-se ao Islã. Na Europa, Ramírez manteve ligações com o grupo de esquerda alemão Fração do Exército Vermelho (RAF, na sigla em alemão). Ele ganhou a alcunha de Carlos, o Chacal após uma cópia do livro O dia do chacal, de Frederick Forsyth, ser encontrada no quarto de um hotel em que eles esteve hospedado.
MP/dapd/dpa/ap
Revisão: Alexandre Schossler