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Comentário anti-islã em tabloide alemão gera controvérsia

Volker Wagener (av)29 de julho de 2014

Artigo de poucas linhas no jornal "Bild", atacando a religião muçulmana como obstáculo à integração, provoca polêmica na Alemanha. Políticos falam em racismo e exigem desculpas à comunidade islâmica do país.

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Foto: picture-alliance/dpa

Um artigo de opinião publicado neste fim de semana (27/07) no Bild am Sonntag, edição dominical do jornal de maior circulação na Alemanha, provocou ondas de indignação na internet ao apresentar o islamismo como um obstáculo à integração.

O autor, Nicolaus Fest, vice-redator-chefe do semanário, se define como "ateu simpatizante da religião". Ele afirma não ter problemas com judeus, cristãos, budistas, mas com o islã, sim. De um lado, ele se diz incomodado com "a criminalidade desproporcional dos jovens de origem muçulmana"; do outro, com o desprezo a mulheres e homossexuais, que vai até o homicídio.

"A religião será um obstáculo à integração?", pergunta Fest. Sua resposta provocadora: o islamismo é, sim, enquanto as demais grandes religiões globais, não necessariamente. Ele recomenda que se leve em conta essa constatação ao estudar futuros pedidos de asilo. "Eu não preciso de racismo importado, e do resto que o islã representa, não preciso, tampouco."

Condenação na mídia e na política

O minicomentário gerou polêmica dentro do próprio tabloide. Kai Diekmann, redator-chefe do diário Bild, respondeu imediatamente com uma "contraopinião", cuja tônica é: luta contra o fundamentalismo islâmico, sim, difamação do islã, não. Segundo o jornalista, um rechaço generalizador às religiões não tem lugar em seu diário.

O deputado verde Özcan Mutlu, de origem turca, também ganhou espaço no Bild para rebater: ele diz não ter acreditado em seus olhos ao ler o título do artigo. Para ele, a crítica ao islã de Nicolaus Fest não passa de racismo.

A redatora-chefe do semanário Bild am Sonntag, Marion Horn, só se deu conta tarde demais do que a tirada anti-islâmica poderia desencadear. De início, ela defendeu o autor no Twitter: "Ele não liga para religião [...] mas é contra a intolerância."

Pouco mais tarde, contudo, viu-se forçada a se justificar. "Não somos islamofóbicos! Eu me desculpo pela impressão deixada." O jornalista especializado em mídia Stefan Niggemeier diz se espantar com a desculpa, que só se refere à "impressão deixada", mas não à opinião publicada, em geral.

Quanto ao próprio Nicolaus Fest, em princípio ele se mostra pouco impressionado com a onda de críticas, declarando-se, antes, satisfeito com "a fantástica shitstorm" que deslanchou.

Controvérsia planejada?

Com suas poucas linhas, o texto até mesmo galgou provisoriamente o primeiro lugar de popularidade num grande portal do mundo árabe. E em meio a uma avalanche de mensagens, predominantemente de repúdio, no Twitter e no Facebook, diversos deputados do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) também se sentiram na obrigação de se pronunciar.

O deputado verde Volker Beck exigiu uma desculpa diante de todos os muçulmanos do país. "Um balde de porcaria": é como o social-democrata Jonas Westphal descreveu o artigo no Bild. Niema Movassat, do partido A Esquerda, se indignou com o que intitula incentivo ao racismo.

Na sexta-feira anterior ao controverso artigo, o próprio Bild lançara uma contribuição para o debate sobre as recentes demonstrações públicas de antijudaísmo na Alemanha, atrelados à ofensiva militar de Israel contra os palestinos da Faixa de Gaza.

Sob a manchete "Antissemitismo nunca mais!", o tabloide reuniu declarações de personalidades alemãs da economia, esporte, cultura, mídia e política, inclusive a chanceler federal Angela Merkel e o presidente Joachim Gauck.

A ação contra a discriminação aos judeus valeu predominantemente louvores ao periódico. Contudo a publicação da crítica ao islã na edição de domingo, apenas dois dias mais tarde, suscita uma série de perguntas – por exemplo, se toda a provocação não foi uma polêmica premeditada.