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Nobel da Paz

9 de dezembro de 2010

China não cedeu a apelos internacionais e não vai liberar ganhador do Nobel da Paz. É a primeira vez em 74 anos que premiado ou familiares não vão à cerimônia de entrega. Comitê diz que Pequim deveria rever posição.

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Liu XiaoboFoto: picture alliance/dpa

O clima para a entrega do Prêmio Nobel edição 2010 não é o dos mais harmônicos. Desde que o ganhador do Nobel da Paz foi anunciado, o mal-estar entre China e Noruega, país que sedia o comitê que nomeia os ganhadores, aumentou à medida que a cerimônia se aproximava.

A cadeira destinada a Liu Xiaobo, dissidente chinês escolhido ganhador do Nobel da Paz, ficará vazia ao longo da premiação, marcada para esta sexta-feira (10/12). Durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, o chefe do comitê, Thorbjoern Jagland, reforçou que a escolha de Xiaobo não é uma tentativa de impor os valores do Ocidente à China.

"Isto não é um protesto. Isto é um sinal à China de que seria muito importante para o futuro do país combinar desenvolvimento econômico com reformas políticas e apoio aos que lutam por direitos humanos básicos na China", argumentou Jagland.

Na véspera da cerimônia, o governo chinês avisou que não cederá à pressão internacional para libertar Liu Xiaobo e sua esposa, Liu Xia, que está em prisão domiciliar.

Troca de farpas

Pequim interpretou como uma afronta o fato de Liu Xiaobo ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Segundo a porta-voz do ministério de Relações Exteriores, Jiang Yu, qualquer tentativa de "deter a China de se desenvolver" não será bem-sucedida.

"A China pede aos legisladores norte-americanos que encerrem suas falas equívocas e atividades na questão Liu Xiaobo e que mudem sua atitude arrogante e rude. Eles deveriam respeitar os chineses e a soberania legal da China", disse a porta-voz, em referência à resolução a favor de Xiaobo, aprovada na quarta-feira pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.

Em Cancún, onde acontecem as negociações climáticas, o governo chinês deu outra mostra da crescente tensão com a Noruega. A delegação chinesa se recusou a encontrar a equipe norueguesa, liderada pelo primeiro-ministro, Jens Stoltenberg, e pelo ministro de Meio Ambiente, Erik Solheim.

"Não há dúvida de que a China vê o Prêmio da Paz como parte da cruzada ocidental contra a forma de governo chinês", disse Solheim, lamentando o fato de Pequim evitar os encontros políticos.

Enquanto isso, um comentário publicado em inglês pela agência de notícias estatal chinesa Xinhua, nesta quarta-feira, dizia que "Liu Xiaobo fez tudo que podia para subverter o governo chinês, e que isso ia de acordo com a estratégia contra a China de algumas organizações e pessoas no Ocidente".

Marco na história

É a primeira vez em 74 anos que um ganhador do Nobel da Paz, ou um representante de sua família, não participará da cerimônia. O último episódio foi em 1936, quando o alemão Carl von Ossietzky não pode viajar a Oslo por imposição dos nazistas.

Liu Xiaobo, 54 anos, foi preso no Natal de 2009, acusado de subverter o governo chinês e por ter sido o principal autor de um manifesto assinado por intelectuais e ativistas a favor de reformas democráticas no país. Na entrega do prêmio, é aguardada a presença de um grupo de 40 exilados chineses e dissidentes que representa a força democrática na China.

O boicote promovido por Pequim ao evento desta sexta-feira foi aderido por outras 20 nações. O governo chinês bloqueou o acesso aos sites da BBC e da CNN. Ambos os portais farão a transmissão ao vivo da entrega do prêmio.

NP/dpa/rts
Revisão: Roselaine Wandscheer