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Como importação alemã de petróleo cazaque beneficia a Rússia

Ashutosh Pandey
2 de março de 2023

Alemanha se comprometeu a não comprar mais petróleo bruto da Rússia. No entanto, um acordo com o Cazaquistão para a importação do combustível significa que Moscou continuará lucrando às custas de Berlim.

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Parte de tubo do oleoduto
Oleoduto Druzhba, que fornece petróleo russo para grande parte da Europa central, está sendo usado pelo Cazaquistão para enviar seu petróleo para refinaria alemãFoto: Natalia Fedosenko/ITAR-TASS/IMAGO

Nesta semana, a Alemanha começou a receber o primeiro lote de petróleo bruto do Cazaquistão através do sistema de oleoduto Druzhba. O objetivo é abastecer uma importante refinaria no leste alemão que até a virada do ano recebia quase exclusivamente petróleo russo.

O embarque de 20 mil toneladas - ou cerca de 145 mil barris - do Cazaquistão faz parte de um plano mais amplo da Alemanha para reduzir sua dependência do petróleo russo. A maior economia da Europa parou de comprar o combustível da Rússia este ano, mesmo com o petróleo bruto do oleoduto permanecendo isento de um embargo da União Europeia (UE) motivado pela invasão da Ucrânia. A UE proibiu desde dezembro de 2022 a importação de petróleo bruto russo por via marítima, e a de produtos petrolíferos refinados desde 5 de fevereiro - mas há uma isenção temporária para o petróleo bruto russo transportado por oleodutos.

O Cazaquistão pretende transportar 1,2 milhão de toneladas de petróleo bruto para a Alemanha este ano. A operadora estatal de oleodutos do país, Kaztransoil, já recebeu o aval de sua contraparte russa, a Transneft, para entregar 300 mil toneladas neste trimestre através do oleoduto Druzhba, que se estende por muitos quilômetros na Rússia.

Por que a Alemanha compra petróleo do Cazaquistão

O petróleo do Cazaquistão segue para a refinaria alemã PCK, na cidade de Schwedt, localizada a 120 quilômetros a nordeste de Berlim, que até este ano era abastecida com petróleo russo.

A refinaria de Schwedt fornece 90% do combustível da capital alemã e está em uma situação complicada desde que o país decidiu voluntariamente interromper as importações de petróleo canalizado da Rússia.

Agora, ela opera com apenas 60% da capacidade. Os suprimentos do Cazaquistão vão garantir que a refinaria funcione em um nível de capacidade mais alto, permanecendo economicamente viável. Por enquanto, o governo alemão estabeleceu uma meta de 70%.

A refinaria era parcialmente propriedade da russa Rosneft até o governo alemão assumir o controle dela no ano passado. Atualmente, é abastecida principalmente com petróleo dos mercados globais, incluindo os EUA, por meio de um oleoduto que sai do porto de Rostock, no Mar Báltico.

Extração de petróleo no Cazaquistão
Petróleo do Cazaquistão, um aliado da Rússia, não está sujeito ao embargo da UEFoto: robertharding/IMAGO

Como a Rússia se beneficia

A manobra alemã, no entanto, não afasta a Rússia de todos os lucros. Moscou pretende arrecadar receita adicional na forma de taxa de trânsito que a Transneft ganhará pelo transporte do petróleo por meio de sua rede de oleodutos, uma fonte bem-vinda de dinheiro para o Kremlin em um momento em que suas receitas de petróleo foram afetadas pelo embargo ocidental e pelo teto de preços.

Além disso, o petróleo deve ser transportado por milhares de quilômetros em território russo, colocando o abastecimento à mercê da boa vontade de Moscou.

"Temos que observar como a Rússia age em relação ao fluxo através do Druzhba", disse um porta-voz do Ministério da Economia alemão na segunda-feira, acrescentando que é difícil prever as ações do Kremlin, conforme demonstrado pelo congelamento do fornecimento de gás no ano passado.

O acordo viola o embargo da UE ou da Alemanha?

O petróleo do Cazaquistão, um aliado da Rússia, não está sujeito ao embargo da UE, nem entra em conflito com a proibição voluntária da Alemanha de deixar de comprar petróleo da Rússia via oleodutos.

Ele é bombeado primeiro para a Rússia, onde é misturado com petróleo bruto russo antes de ser exportado dos portos marítimos russos. No ano passado, o Cazaquistão rebatizou sua carga como Kebco para dissociá-la do Rebco (mistura de petróleo bruto de exportação da Rússia) - também chamado de Urais - para evitar cair na mira das sanções ocidentais.

No entanto, a mistura de petróleo bruto na Rússia levantou preocupações, especialmente na Polônia, por onde o petróleo do Cazaquistão fluirá para a Alemanha, de que seria difícil determinar a origem do petróleo.

O ministério da Economia alemão diz que, embora seja inevitável que algum petróleo russo acabe na Alemanha, é importante que nenhum dinheiro esteja fluindo diretamente para a Rússia, pois o suprimento de petróleo seria comprado de uma empresa cazaque, não russa.